domingo, 12 de julho de 2009

ONG - Vídeo sobre Memória camponesa na Paraíba

Temos um vídeo e a criação da ONG - Memorial das Ligas camponesas - Sapé - PB.
vejam link e leiam o texto abaixo, reprozido a partir do texto convite de criação da ONG.
http://www.youtube.com/watch?v=Jb4PRLOxpuE

ONG – Memorial das Ligas Camponesas – Sapé – PB.
MEMORIAL DAS LIGAS CAMPONESAS
Contatos: (83) 3283-2290
ou 8836-0340.
E-mail: ligascamponesas@hotmail.com

Sapé resgata a história das Ligas Camponesas
Fundada em Sapé a ONG - Memorial das Ligas Camponesas

Representantes de entidades e pessoas interessadas em resgatar a história das Ligas Camponesas em Sapé fundaram a Organização Não-Governamental Memorial das Ligas Camponesas. A ONG tem por objetivo resgatar a história das Ligas Camponesas, sua importância para o país e fazer justiça à memória daqueles que deram a vida na luta pelos direitos dos trabalhadores.
As eleições para a diretoria e conselho fiscal da ONG estão marcadas para o dia 06 de janeiro do próximo ano. Uma diretoria provisória foi formada para organizar os trabalhos de legalização da entidade, organização das eleições e divulgação dos eventos. A diretoria provisória é formada pelos sindicalistas Jorge Galdino de Almeida e Wilson Estevam da Costa, respectivamente presidente e diretor de patrimônio do Sindservs - Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Sapé – e pela professora de história, Maria do Socorro Rodrigues Batista. Inicialmente as eleições estavam previstas para o dia 05 de novembro deste ano, mas por motivos superiores não foi possível sua realização. No dia 18/11, houve mais uma reunião dos sócios fundadores que prorrogaram o prazo de vigência da diretoria provisória e um novo calendário eleitoral foi estipulado.
As reuniões para a organização e instituição da ONG vêm acontecendo desde o mês de maio deste ano, quando foram discutidos pontos como a denominação da entidade, finalidades, detalhes estatutários e estratégias que culminaram na composição do estatuto que foi lido e aprovado no dia 05 de agosto em uma reunião histórica que contou com a presença de Elizabete Teixeira (viúva do líder camponês, João Pedro Teixeira, assassinado no período da ditadura militar); dos vereadores Garibaldi Pessoa (PT-Sapé) e Maria das Graças Costa (PT-Sobrado); Diretores do Sindservs, Jorge Galdino de Almeida, Mariza Alexandre e Wilson Estevam da Costa; Padres, José Martins (Sapé) e Hermínio Canova (Sobrado); Maria de Fátima Yasbeck Asfora, irmã do ex-vice-governador da Paraíba, Raimundo Asfora; Religiosas, Irmã Tony e Irmã Marlene; Noaldo Meireles, Advogado da CPT – Comissão Pastoral da Terra; Trabalhador rural, Cândido Alan Florêncio; Servidora Pública, Betânia Vieira de Meireles; Alunas do EJA – Educação de Jovens e Adultos, Maira do Socorro Rodrigues, Maria da Penha Silva e Alda Lúcia de Meireles, dentre outros presentes.
Na ocasião, Elizabete Teixeira fez um emocionante relato histórico contando sua trajetória e a de João Pedro Teixeira no período das Ligas Camponesas em plena ditadura militar.
A ONG está sediada temporariamente no Memorial João Pedro Teixeira, em Barra de Antas, onde encontra-se um amplo acervo sobre a vida e a trajetória do líder camponês.

Wilson Estevam, Professora Socorro,
Elizabete Teixeira e Jorge Galdino


A ONG está sediada provisoriamente no
Memorial João Pedro Teixeira em Barra de Antas-Sapé-PB

RESUMO DA HISTÓRIA DE JOÃO PEDRO TEIXEIRA E AS LIGAS CAMPONESAS EM SAPÉ

Nas décadas de 50 e 60, o sofrimento dos camponeses no Brasil não diferia muito dos dias de hoje. Essa realidade foi assim descrita por Francisco de Assis Lemos, então presidente da Federação das Ligas Camponesas da Paraíba: “...A fome, a mortalidade infantil e o analfabetismo imperavam na região. Grande parcela dos habitantes do campo sequer tinha acesso ao dinheiro. Adquiria o mínimo para a subsistência, nos barracões das fazendas, e a dívida era deduzida do pagamento que tivesse a receber. No final do mês, jamais havia saldo positivo; o camponês ficava sempre devendo. Funcionava o regime chamado cambão, pelo qual o camponês tinha de trabalhar vários dias por semana nas roças do proprietário, sem receber nenhum pagamento. Em troca desse trabalho gratuito, o camponês morava na fazenda e podia plantar para si próprio em torno do casebre”. Completando esse quadro, relata o jornalista Nizi Maranhão: “... Grandes latifundiários, donos das extensas fazendas, com inúmeros moradores que vivem miseravelmente, sem escola para os filhos, sem qualquer espécie de assistência, morando em mocambos infectos e sujeitos ao regime de cambão... São postos para fora da terra por mero capricho dos seus proprietários, sem qualquer indenização pelas lavouras, pelo pequeno sítio; o rurícola paga o seu foro em dinheiro ou em dias de trabalho, inclusive dos familiares, sem contar as arbitrariedades do patrão, como surras, ameaças de morte, prisões e espancamentos por policiais sempre dóceis e solícitos às ordens desses mandões desabusados”.

“Não me acovardo”

Foi no meio dessa situação de exploração e injustiça que nasceu João Pedro Teixeira, em 4 de março de 1918, no então distrito de Pilões, município paraibano de Guarabira. Desde criança sentiu na pele a violência dos latifundiários. Seu pai, arrendatário de um proprietário, entrou em conflito com ele, foi atacado por capangas, baleou um deles e fugiu. Nunca mais apareceu. João Pedro tinha apenas seis anos de idade.
Para enfrentar a exploração e a violência dos latifundiários e dos seus governos, os camponeses começaram a organizar-se em associações. Elas tiveram inicialmente, um caráter assistencialista e de ajuda mútua, mas logo evoluíram para a luta pela terra, defendendo a posse daquela onde já moravam e da qual tiravam sua subsistência, e o fim do cambão. Passaram a ocupar terras dos latifundiários, produzindo e resistindo às investidas dos capangas e das polícias estaduais. Essas associações foram chamadas de Ligas Camponesas. A primeira delas foi a do Engenho Galiléia, em Pernambuco, fundada em 1954; rapidamente a experiência espalhou-se pelos campos do Nordeste e de outras regiões do país.

A consciência de classe nasceu na luta operária

João Pedro Teixeira trabalhou, desde a infância, na agricultura; aos 23 anos tornou-se operário, trabalhando em pedreiras na Paraíba e, depois, em Jaboatão, Pernambuco, para onde se mudou com a mulher, Elizabete Teixeira, e uma filha. Foi na pedreira de Jaboatão que despertou para a necessidade de lutar pelos direitos e organizou os companheiros, fundando o sindicato dos trabalhadores. Desempregado e perseguido pelos patrões, voltou à origem camponesa em 13 de maio de 1954, aceitando a oferta de morar em um sítio que o sogro havia comprado em Sapé(PB).
Não demorou para reunir os camponeses, visitar suas casas e organizar comícios nas feiras, chamando-os para se unir a fim de enfrentar a realidade cruel em que viviam. Em 1958, estava fundada a Associação dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas, mais conhecida como Liga Camponesa de Sapé. À frente dela, João Pedro Teixeira, João Alfredo Dias (Nego Fubá) e Pedro Inácio de Araújo (Pedro Fazendeiro). Os ataques dos latifundiários não tardaram a acontecer. Em 14 de março de 1961, foi assassinado Alfredo Nascimento, líder dos camponeses da Fazenda Tiriri; em 23 de dezembro do mesmo ano, foi baleado outro líder, Pedro Inácio de Araújo (Pedro Fazendeiro). Apavorada, a esposa de João Pedro Teixeira chamou-o para sair da Paraíba, para longe dos inimigos, ao que ele respondeu: “Você e meus filhos podem ir; fico com os retratos, mas não me acovardo”.
Os camponeses não se acovardaram. A cada crime cometido pelos latifundiários, havia manifestações de protesto e aumentava a mobilização. A Liga Camponesa de Sapé crescia a cada dia, filiando, em três anos, 15 mil camponeses, além de trabalhadores urbanos, estudantes, profissionais liberais e pequenos comerciantes. Era uma verdadeira organização de massa e influenciava outros municípios da região.
O sangue do mártir é semente de lutadores

Os latifundiários acreditavam que, matando o líder, acabariam a Liga. Uma trama foi bem urdida. O sogro de João Pedro, que nunca concordou com suas atividades, vendeu o sítio onde ele morava a um proprietário de terras e vereador de Sapé, Antônio Vitor, que pressionou para João Pedro sair. Mas ele se recusou. O novo proprietário entrou com uma ação de despejo, contestada judicialmente e com interdito proibitório, para que ele não pudesse plantar. Certo Dia, convidaram-no para uma reunião com os advogados em João Pessoa. Não haveria reunião alguma; era parte do plano de assassinato. Prepararam uma emboscada em um ponto da estrada, onde João Pedro passaria a pé quando retornasse da capital. Dito e feito. Enquanto caminhava tranqüilamente, o líder camponês foi crivado de balas disparadas pelo fuzil da covardia e da prepotência. Seu corpo foi encontrado agonizando, com as mãos apertando contra o peito os livros e cadernos que comprara para seus filhos levarem à escola. O assassinato ocorreu em 2 de abril de 1962. João Pedro deixou esposa e onze filhos, dos quais Marluce, a mais velha (18 anos) não conseguiu superar o trauma causado pela morte do pai e suicidou-se oito meses depois. Os criminosos mataram então pai e filha.
Cinco mil camponeses da região e quase toda a população de Sapé compareceram ao enterro, marcado por protesto, pranto, o compromisso de continuar a luta, e pelas palavras de Raimundo Asfora, um deputado estadual que apoiava as Ligas: “...Não vamos enterrar um homem; vamos plantá-lo. Pararam o teu coração. Surgirão novos camponeses revoltados, outros João Pedro, numerosos lutadores. Julgaram que desapareceste. Estás agora em toda a parte”.

Os camponeses prepararam uma grande manifestação para o dia 10 de abril daquele ano, em João Pessoa, mas não a realizaram por causa da operação militar realizada por tropas do IV Exército. Na véspera, os militares aprisionaram lideranças das Ligas, simpatizantes e apoios, sob pretexto de estar dando continuidade a um inquérito policial-militar destinado a apurar a responsabilidade de pessoas que estariam usando as Ligas para práticas subversivas, inclusive o contrabando de armas. Vasculharam até as casas de dois juízes de Direito, o que causou veementes protestos e mal-estar no Poder Judiciário paraibano. Não encontraram absolutamente nada.
Era só um pretexto. Aliás, quem tinha em mãos armas privativas do Exército eram os latifundiários da Várzea. Diante disso, o ato foi transferido para o 1º de maio, tendo sido a maior manifestação popular já vista em João Pessoa. Reuniu cerca de 40 mil pessoas, entre camponeses, trabalhadores da cidade, estudantes, profissionais liberais e o povo em geral. Diante da mobilização, o governador Pedro Gondim exigiu a apuração imediata dos responsáveis e sua punição exemplar. Em pouco tempo, tudo estava revelado. Mandantes: os latifundiários Aguinaldo Veloso Borges e Pedro Ramos Coutinho, mais o vereador e proprietário de terras, Antônio Vitor. Executores: Arnaud Nunes Rodrigues, vaqueiro de Aguinaldo Veloso, e os soldados da Polícia Militar da Paraíba, Antônio Alexandre da Silva e Francisco Pedro da Silva. Todos foram condenados, menos Aguinaldo Veloso Borges, que era sexto suplente de deputado estadual e conseguiu a “renúncia” de todos os outros para poder assumir e ficar acobertado pelo instituto da imunidade parlamentar. Presos, só dois executores, soldados da PM. O vaqueiro desapareceu.


A luta continua

A luta dos camponeses de Sapé continuou, com a liderança de Elizabete Teixeira, (esposa de João Pedro), de João Alfredo Gonçalves (Nego Fubá) e Pedro Inácio de Araújo (Pedro Fazendeiro). Veio o golpe militar de 64, que proibiu o funcionário das Ligas Camponesas e interveio nos Sindicatos de Trabalhadores Rurais. No dia 1º de abriu houve prisões em massa em Sapé. No dia 7 de setembro do mesmo ano, Nego Fubá e Pedro Fazendeiro foram postos em liberdade e imediatamente, seqüestrado e “desaparecidos”. Têm-se como deles dois corpos encontrados dias depois num local ermo, perto de Campina Grande, totalmente desfigurados por violentas torturas. Elizabete, que já tinha espalhado os filhos entre os parentes e enviado um deles para Cuba, onde cursaria medicina, passou a viver na clandestinidade até a anistia. O golpe militar, que precedeu, torturou e matou camponeses, libertou os dois soldados matadores de João Pedro Teixeira.

João Pedro vive!

A História já provou e comprovo que a luta de classe só termina quando é solucionada a contradição que lhe deu origem. Nem a viol6encia particular do latifúndio nem a violência oficial do Estado conseguiram impedir o avanço da luta camponesa no Brasil, simplesmente porque não se realizou uma verdadeira Reforma Agrária. Se o problema persiste, a luta também persistirá. Morre uma centena de camponeses, milhares nascem e empunham a mesma bandeira. Destruíram as Ligas; surgiram os movimentos de trabalhadores rurais sem-terra, muitos sindicatos e federações assumiram também essa luta. Estão ocupando terras, realizando na prática a Reforma Agrária. Os líderes da luta não morrem. Seus corpos desaparecem, seus nomes e seus exemplos permanecem alimentando a gloriosa luta dos camponeses pobres e sem terra por todo este Brasil.
Maria do Carmo de Aquino, militante comunista que apoiou e assessorou várias Ligas Camponesas na Paraíba, conheceu de perto João Pedro Teixeira e, emocionada, fala do líder: “Tive uma convivência longa com João Pedro Teixeira, durante seis ou sete anos; sempre tive por ele uma profunda admiração. Era uma das maiores vocações de líder. Era humilde; nunca se encheu de vaidade por tornar-se conhecido, admirado e amado. Ele era muito autêntico. Era um revolucionário”.

MELHORES INFORMAÇÕES:

JORGE GALDINO DE ALMEIDA – Diretor de Comunicação da ONG
FONES: 83-3283-2290 / 8836-0340

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns pelo resgate da nossa verdadeira e dinamica historia,continui a expor todo tipo de material que possa trazer atona toda verdade que ate hoje vivem escondida por trás das cortinas da cupúla da sociedade Paraibana..Sou natural de Belém atualmente moro em São Paulo,mas não esqueço a minha querida Paraiba,obrigado.

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