Por Belarmino Mariano Neto
Fonte da Imagem: - 550 × 413Pesquisar por imagens - LUNARIO PERPETUO DE S. CALLEJA MUY ANTIGUO
UM DIA DE MUITA CHUVA. Hoje é dia dois de janeiro de 2015, aqui no Agreste paraibano, Nordeste brasileiro. Estamos aos pés da Serra da Borborema, uma depressão sublitorânea, com escarpas serranas que variam entre 200 a 550 metros de altitudes. Em pleno verão brasileiro. Distante em aproximadamente uns 100 quilômetros da costa litorânea atlântica, de onde esperamos os ventos alísios equatoriais e do sudeste, trazendo um pouco de umidade para essas serras do planalto da Borborema.
Sou um observador das fisionomias da natureza nessa região, em especial quando se trata de tempo e de mudanças repentinas na paisagem. Estamos em prolongado período de estiagens, muita seca durante todo o ano de 2014, que já vinha de um ano de 2013, não muito chuvoso. Ao Final de dezembro tivemos um lampejos de água em Guarabira, choveu bem menos que o esperado, mas qualquer gota de água nessa época do ano nos animas, pois temos chuvas para mangas, cajás e cajus. Essas chuvas também animam os camponeses locais, pois ficam contando as chuvas em dias.
Sempre que posso converso com os agricultores e quando me deparo com os mais velhos, pergunto sobre o "Lunário Perpétuo". Por aqui só os muito velhos lembram que seus bisavós tinham um livrinho velho desses, escondido a sete chaves.
De uma coisa eu sei, restou muito pouco de alguns conhecimentos tradicionais culturas antigas lusitanas. Como diz Alceu Valença "das coisas do arco da velha". Em meus anos de pesquisa ainda não tive a oportunidade de encontrar um lunário perpétuo aqui na Região de Guarabira. Será um achado de grande valia histórica para confirmar o "paradigma indiciário" de que essa foi uma região fortemente influenciada pela cultura do além mar, de homens, bois, ovelhas e cabras. Homens que singrando esses rios do vale do Mamanguape, do vale do Curimataú e do Vale do Camaratuba, tenham implantado aqui uma cultura, cujos conhecimentos, em muito estavam escritas no lunário perpétuo.
Vale ressaltar que aqui, esse livrinho tenha que ter sido adaptado, pois os conhecimentos cósmicos e almanáquicos, contidos no lunário obrigatoriamente, eram constituídos com base na observação dos astros, do sol, da lua e dos dias das terras ibéricas. Claro que a base universal contida em suas páginas davam o rumo, apontavam o norte dos conhecimentos tradicionais, trazidos das terras de Portugal.
Segundo um velho aqui do Curimataú paraibano, conhecido por Venâncio da Costa, aos idos dos seus 84 anos de idade, dizia que seu bisavó falava que, quando chove durantes os oito primeiros dias de janeiro, terremos um bom inverno em nossa região. Faz uns dez anos que ouvi essa história ali pelas bandas da Pedra da Boca, já nos limites com o Rio Grande do Norte, nas terras de Araruna. todo inicio de janeiro ficou a escutar os rumos da natureza local.
Vi nesse período de observações que, em nenhum desses anos choveu de maneira intercalada durante os oitos primeiros dias do ano. Mas esse ano, já observei que no dia primeiro caiu um lampejos de água e em especial, no dia dois, choveu bastante por aqui nas terras de Guarabira. No quintal de minha casa o dia amanheceu assim. Chuva durante toda a madrugada, já passando do meio dia e ainda continua chovendo. A gente fica querendo aquela canção de Jorge Ben Jor: "chove chuva, chove sem parar..."
Agora ficamos a pensar em Rachel de Queiroz e seu mais significativo romance regionalista, intitulado o 15, referindo-se a grande seca de 1915, tendo como foco o Sertão cearense, mas que se universalizou como ideia de todo os sertões nordestino e mineiro. Desde 2013 que lembro da aproximação desse ano de 2015, como um ciclo longo ou secular nos fenômenos da natureza. meus pensamentos se desdobram na direção da grande escassez de água vivida até recentemente no Estado de São Paulo, claro que mais especificamente na Grande São Paulo. Aqui no Nordeste, vivemos um ano de 2014, com grandes perdas de rebanhos, com uma agricultural quase que completamente estagnada por quase todo o ano.
Aqui no Agreste, perdemos cultivos e rebanhos. A escassez de água só não foi maior por causas de ações emergenciais tanto do governo estadual (Ricardo Coutinho), quanto do governo federal (Dilma Rousseff).
Em minhas viagens em especial para o curimataú e para o cariri, fiquei abismado com tanta seca. Na medida em que me dirigia para Campina Grande, fiquei assustado em contar exatos 57 caminhões pipas, saindo da região do Brejo para as cidades mais secas da região, isso em uma manhã, com apenas uma hora de viagem até Campina Grande. Maior cidade da Borborema, abastecida pelo segundo maior açude paraibano o Boqueirão, que chegou a 17% da sua capacidade hídrica.
Posso dizer que o dia de hoje me enche de esperanças, me faz lembrar do Lunário Perpétuo, me encheu os olhos com essa chuva persistente, com uma saída ao meio da rua e fazendo um radial concêntrico, ver o céu cinza em todos os 360 graus da abobada celeste. Esperar que chova durante os oito primeiros dias de janeiro, me faz mostrar a segunda pitanga, em minha pequena pitangueira. Essa foi colhida no dia primeiro de janeiro, ainda espero comer mutias pitangas.
Estas observações nos chamam para um aprofundamento em estudos geográficos acerca das nossas tradições culturais em fenômenos naturais como chuvas e estiagens. Se em 1930 Rachel de Queiroz escreveu a saga da seca, fico a relembrar meu velho pai Mariano Belarmino, que aos setenta anos de idade, nos contava que na seca de 1915 ele era menino com dois anos de idade, mas, na medida em que foi crescendo, sempre ouvia dizer que seus antepassados passaram muita fome e sede, nessa época. A seca era tanta que nada conseguia ficar em pé, morria tudo, o verde só se via em cacos de vidros cintilando ao sol. Meu pai dizia que sobreviveram comendo cactos, comendo calangos, carne de jumento seca, batata de umbuzeiro, casca de pau, entre outras iguarias que apresentasse alguma seiva viva.
Podemos dizer que hoje os tempos são outros, que o mundo esta conectado e se falta em uma região, teremos de outras, entre outros argumentos da globalização que faz certo sentido. Mas a água aqui pertinho da gente é uma senda de confiança em um ano mais verde para todos.
Sobre o Lunário Perpétuo muitas são as versões, muitos são os significados e queremos encontrar aqui na nossa região, algo sobre tão antigo e oculto livro de conhecimentos tradicionais. E para esses dias de janeiro, que chova ao som de Antônio Nobrega.
Esperamos que o Nordeste brasileiro em meio as chuvas de verão, faça sua festa de Reis, faça a sua festa de São Sebastião e que até 19 de março (dia de São José) a gente possa ter chuva e fartura para as festas juninas, como nos velhos tempo. O desafio será recuperamos as nossas nascentes, as nossas matas ciliares e os renascer dos nossos olhos de água. Assim, o medo da seca de 1915, tantas décadas repetidas, não acontecerá em 2015. Deus seja louvado!
Fonte da Imagem: - 550 × 413Pesquisar por imagens - LUNARIO PERPETUO DE S. CALLEJA MUY ANTIGUO
UM DIA DE MUITA CHUVA. Hoje é dia dois de janeiro de 2015, aqui no Agreste paraibano, Nordeste brasileiro. Estamos aos pés da Serra da Borborema, uma depressão sublitorânea, com escarpas serranas que variam entre 200 a 550 metros de altitudes. Em pleno verão brasileiro. Distante em aproximadamente uns 100 quilômetros da costa litorânea atlântica, de onde esperamos os ventos alísios equatoriais e do sudeste, trazendo um pouco de umidade para essas serras do planalto da Borborema.
Fotos: Imagens da chuva em Guarabira, 02/01/2015. Belarmino Mariano. |
Sempre que posso converso com os agricultores e quando me deparo com os mais velhos, pergunto sobre o "Lunário Perpétuo". Por aqui só os muito velhos lembram que seus bisavós tinham um livrinho velho desses, escondido a sete chaves.
De uma coisa eu sei, restou muito pouco de alguns conhecimentos tradicionais culturas antigas lusitanas. Como diz Alceu Valença "das coisas do arco da velha". Em meus anos de pesquisa ainda não tive a oportunidade de encontrar um lunário perpétuo aqui na Região de Guarabira. Será um achado de grande valia histórica para confirmar o "paradigma indiciário" de que essa foi uma região fortemente influenciada pela cultura do além mar, de homens, bois, ovelhas e cabras. Homens que singrando esses rios do vale do Mamanguape, do vale do Curimataú e do Vale do Camaratuba, tenham implantado aqui uma cultura, cujos conhecimentos, em muito estavam escritas no lunário perpétuo.
Vale ressaltar que aqui, esse livrinho tenha que ter sido adaptado, pois os conhecimentos cósmicos e almanáquicos, contidos no lunário obrigatoriamente, eram constituídos com base na observação dos astros, do sol, da lua e dos dias das terras ibéricas. Claro que a base universal contida em suas páginas davam o rumo, apontavam o norte dos conhecimentos tradicionais, trazidos das terras de Portugal.
Segundo um velho aqui do Curimataú paraibano, conhecido por Venâncio da Costa, aos idos dos seus 84 anos de idade, dizia que seu bisavó falava que, quando chove durantes os oito primeiros dias de janeiro, terremos um bom inverno em nossa região. Faz uns dez anos que ouvi essa história ali pelas bandas da Pedra da Boca, já nos limites com o Rio Grande do Norte, nas terras de Araruna. todo inicio de janeiro ficou a escutar os rumos da natureza local.
Fotos: Imagens da chuva em Guarabira, 02/01/2015. Belarmino Mariano. |
Agora ficamos a pensar em Rachel de Queiroz e seu mais significativo romance regionalista, intitulado o 15, referindo-se a grande seca de 1915, tendo como foco o Sertão cearense, mas que se universalizou como ideia de todo os sertões nordestino e mineiro. Desde 2013 que lembro da aproximação desse ano de 2015, como um ciclo longo ou secular nos fenômenos da natureza. meus pensamentos se desdobram na direção da grande escassez de água vivida até recentemente no Estado de São Paulo, claro que mais especificamente na Grande São Paulo. Aqui no Nordeste, vivemos um ano de 2014, com grandes perdas de rebanhos, com uma agricultural quase que completamente estagnada por quase todo o ano.
Aqui no Agreste, perdemos cultivos e rebanhos. A escassez de água só não foi maior por causas de ações emergenciais tanto do governo estadual (Ricardo Coutinho), quanto do governo federal (Dilma Rousseff).
Foto: pitangueira em fruto, 01/01/2015, Belarmino Mariano |
Posso dizer que o dia de hoje me enche de esperanças, me faz lembrar do Lunário Perpétuo, me encheu os olhos com essa chuva persistente, com uma saída ao meio da rua e fazendo um radial concêntrico, ver o céu cinza em todos os 360 graus da abobada celeste. Esperar que chova durante os oito primeiros dias de janeiro, me faz mostrar a segunda pitanga, em minha pequena pitangueira. Essa foi colhida no dia primeiro de janeiro, ainda espero comer mutias pitangas.
Estas observações nos chamam para um aprofundamento em estudos geográficos acerca das nossas tradições culturais em fenômenos naturais como chuvas e estiagens. Se em 1930 Rachel de Queiroz escreveu a saga da seca, fico a relembrar meu velho pai Mariano Belarmino, que aos setenta anos de idade, nos contava que na seca de 1915 ele era menino com dois anos de idade, mas, na medida em que foi crescendo, sempre ouvia dizer que seus antepassados passaram muita fome e sede, nessa época. A seca era tanta que nada conseguia ficar em pé, morria tudo, o verde só se via em cacos de vidros cintilando ao sol. Meu pai dizia que sobreviveram comendo cactos, comendo calangos, carne de jumento seca, batata de umbuzeiro, casca de pau, entre outras iguarias que apresentasse alguma seiva viva.
Fonte: http://antonionobrega.com.br/discografia/ |
Podemos dizer que hoje os tempos são outros, que o mundo esta conectado e se falta em uma região, teremos de outras, entre outros argumentos da globalização que faz certo sentido. Mas a água aqui pertinho da gente é uma senda de confiança em um ano mais verde para todos.
Sobre o Lunário Perpétuo muitas são as versões, muitos são os significados e queremos encontrar aqui na nossa região, algo sobre tão antigo e oculto livro de conhecimentos tradicionais. E para esses dias de janeiro, que chova ao som de Antônio Nobrega.
Esperamos que o Nordeste brasileiro em meio as chuvas de verão, faça sua festa de Reis, faça a sua festa de São Sebastião e que até 19 de março (dia de São José) a gente possa ter chuva e fartura para as festas juninas, como nos velhos tempo. O desafio será recuperamos as nossas nascentes, as nossas matas ciliares e os renascer dos nossos olhos de água. Assim, o medo da seca de 1915, tantas décadas repetidas, não acontecerá em 2015. Deus seja louvado!
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