quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Deputado Luiz Couto desabafa contra oportunismo de petistas paraibanos

Discurso de Couto feito da tribuna da Câmara Federal


04/09/2012

                                                 Imagem do www.expressopb.com,

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, começo o meu pronunciamento com dois pensamentos: Um, de domínio público: "no meu coração já não cabe mais colocar tristeza, pois já é demais". E o outro é de uma canção da música popular brasileira: "só uma palavra me devora, aquela que meu coração não diz".

Depois de refletir muito, de meditar, profundamente, de rezar sem cessar e de ter exercido plenamente a pedagogia do silêncio, de conversar com amigos e amigas, companheiros e companheiras, de dialogar com diversas lideranças do meu partido e do meu círculo de amizade, de ter levado muitas pancadas, de ter tido minha honra e minha dignidade ultrajadas e de ter sofrido humilhações, de ter sido abandonado politicamente por diversos filiados e filiadas, que mudaram de posição por diversas razões que não pretendo elencar nem julgá-las, resolvi expor minha opinião e minha decisão sobre o processo eleitoral em João Pessoa e na Paraíba.

O PT é a mais bem sucedida experiência da luta política partidária da história do Brasil. Por sua origem na pluralidade dos movimentos sociais, por sua capacidade de aglutinar diversas tendências da chamada esquerda brasileira, por suas múltiplas lutas na sociedade, no âmbito do Estado e para além do Estado, por sua bem sucedida experiência no Parlamento brasileiro, por sua capacidade de fazer alianças e pelos sucessivos governos que o PT vem liderando e que estão mudando o País para melhor, por tudo isso o PT faz muito bem ao Brasil.

Contudo, o PT, um partido construído para fazer mudanças, não está acima do bem e do mal. O PT, depois de décadas de conquistas com o povo brasileiro, corre o sério risco de perder a perspectiva da luta política como um meio de promoção da mais ampla justiça. O PT corre o risco de se perder na prática da política como um fim em si mesmo e para si mesmo. O PT corre o grave perigo de enveredar pela tradição política perniciosa de que os fins justificam os meios. As maiorias do PT, filiadas ou simpatizantes, têm que cuidar com urgência de salvaguardá-lo.

O PT precisa voltar às suas origens como partido militante, articulador, formulador de políticas públicas, mobilizador das lutas sociais e com forte inserção nos movimentos sociais e nas suas lutas. O nosso partido necessita retomar o seu caminho de formulador de políticas através do diálogo aberto, permanente, transparente e profundo com os movimentos sociais, com a intelectualidade, com as instituições e setores que buscam construir um país com justiça social, com solidariedade, com liberdade, com transparência, com coerência, com ética, com controle social, com democracia plena, com participação popular plena, permanente e profunda.

É tempo de fazermos uma profunda, consistente e transparente revisão e avaliação da nossa trajetória, das nossas culturas e das nossas práticas. Precisamos recuperar nossas bandeiras históricas e aprofundá-las no combate à fome, àmiséria, à insegurança e ao desemprego. É claro que já estamos fazendo isso. Nosso Governo, o Governo Lula e o Governo da Presidenta Dilma, está construindo um projeto de nação e de cidadania, realizando cada vez mais uma saúde de boa qualidade para todos, uma educação que está gerando cidadania, ciência e tecnologia, uma segurança pública que vai construindo uma cultura de paz e de cidadania e fazendo um combate permanente à corrupção, à lavagem de dinheiro e aos desvios públicos e que, através de políticas sociais, está realizando a grande meta de inclusão social, produtiva, digital e de cidadania.

Temos que aumentar nossas ações na superação das desigualdades, aspirando e exercitando os valores da liberdade, da igualdade, da solidariedade, da justiça social, da cultura de paz, da paixão pela verdade, da lucidez crítica, das atitudes e posturas éticas no discurso e nas ações do dia a dia, no processo democrático como meio e fim e no testemunho coerente, assumindo o que somos, falando do que acreditamos e vivendo o que proclamamos.

Nosso partido tem no seu nascimento a forte presença de militantes sindicais, de membros das comunidades eclesiais de base, dos movimentos populares, das pastorais populares das igrejas, de setores que lutaram contra a ditadura, agrupamentos que combateram as diversas violações de direitos humanos. Precisamos recuperar nossa luta em defesa dos direitos humanos e o combate às diversas formas de violações desses direitos.

Nossa luta e nosso combate ao racismo, à tortura, à violência policial, às ações dos grupos de extermínio e das milícias armadas, à violência contra as minorias,aos problemas relacionados ao sistema prisional brasileiro, à violência contra as mulheres, à criança e ao adolescente, à violência contra as comunidades indígenas e os quilombolas e ao trabalho escravo não tem tido,por parte de alguns filiados e de alguns dirigentes do meu partido na Paraíba, qualquer tipo de apoio e solidariedade.

Muitas vezes, recebo solidariedade de pessoas que não são do partido. Este Parlamentar, vítima de perseguição e ameaças de morte, não recebeu sequer uma atitude de apoio e de solidariedade por parte de alguns dirigentes e filiados do meu partido. Agradeço àqueles que agiram corretamente e que manifestaram solidariedade à nossa ação.

Os interesses pessoais e das tendências suplantaram os interesses coletivos e partidários. Reinam entre nós muitas mazelas que historicamente rejeitamos, repudiamos, denunciamos e combatemos, entre elas chamo a atenção ao utilitarismo pragmatista — ou seja, se é útil, se é pragmático, então, é isso que vale como referência —, à queimação e à destruição política e moral dos companheiros e companheiras, que muitas vezes acontece, em vez de termos a solidariedade e o apoio a esses companheiros e companheiras.

Vejo esses riscos para o PT bem adiantados na Paraíba, Sr. Presidente, visto que aqui, nos últimos anos, o partido curvou-se e se rendeu às práticas políticas mais conservadoras. Foi assim em 2009, quando, no Processo de Eleições Diretas — PED, outros partidos decidiram intervir no PT para, em 2010, levá-lo a uma coligação que não oferecia nenhuma mudança positiva para o Estado. Em 2009, o Governador do Estado à época telefonava para partidários para intervirem em seus Municípios, para que não votassem no Deputado Luiz Couto para Presidente do PT. A interferência foi grande. Sr. Presidente, isso era para levá-los a uma coligação que não oferecia nenhuma mudança positiva ao Estado. Vejo o risco de total descaracterização do PT da Paraíba nas estratégias adotadas por dirigentes estaduais do meu partido no Estado. Para as eleições municipais de 2012, proclamavam que este ano era a vez do PT, mas, na verdade, estava em jogo apenas a montagem de uma chapa de oposição ao Governo da Paraíba no Município de João Pessoa.

E foi o resultado: apenas em 25 Municípios nós temos candidaturas próprias. A palavra de ordem era agora é a vez do PT, só que abandonaram os outros Municípios e ficaram apenas com João Pessoa, dando toda a estrutura. Esta semana recebi informação de pessoas reclamando que o material prometido não chegava àquele Prefeito que é do partido que tem condições efetivas de ter uma boa performance ou mesmo de ganhar, mas não tem tido esse apoio. Quando proclamavam que este ano era a vez do PT, na verdade, era para montar uma chapa de oposição do Governo da Paraíba, no Município de João Pessoa.

Com todas as artimanhas e reviravoltas oportunistas, a atual direção estadual do PT na Paraíba só construiu mesmo a candidatura do PT em João Pessoa, tentando apagar tudo o que fizeram contra o até recentemente Governo socialista da Capital. Sem constrangimento algum, alguns dirigentes mudaram totalmente o discurso político em nome de suas conveniências, sem que uma palavra seja dita no que concerne aos interesses da população. Apenas são contra o novo Governo da Paraíba, do qual alguns queriam participar e por quem queiram ser cooptados.

Sou manifestamente contra essa política de determinados setores do PT no meu Estado de fazer oposição só por fazer, sem conteúdo programático, sem a apresentação de propostas alternativas ao que estásendo feito pelo novo Governo da Paraíba. A atual direção do PT na Paraíba está perdendo a oportunidade histórica de apoiar um governo hegemonizado pelas forças da esquerda e da mais tradicional aliança que construímos no âmbito nacional a partir de 1989.

Apesar dos erros políticos, apesar das reviravoltas e das incoerências da atual direção estadual, o PT é o meu partido. Respeito a deliberação das instâncias partidárias pela candidatura própria. Entretanto, Sr. Presidente, não participarei da campanha majoritária do PT em João Pessoa e tenho motivos de várias ordens para tanto, inclusive de foro íntimo.

Discordo, Sr. Presidente, da condução política de fazer da campanha municipal em João Pessoa apenas uma afronta ao Governo do PSB no Estado. Discordo da manipulação discursiva da direção estadual do PT, que animava companheiras e companheiros dos Municípios do interior na construção das candidaturas majoritárias próprias, mas que na verdade era apenas para dar argumentos para a candidatura anti-PSB em João Pessoa, deixando o PT na imensa maioria dos Municípios sem candidatura própria para prefeito.

Não acredito, Sr. Presidente, nas pessoas que mudam de posição política ao mero sabor dos interesses pessoais. Na política partidária, a conduta do indivíduo também conta muito. O PT, por mais importante que seja, enquanto instrumento coletivo, que faz grandes mudanças no País, não dá salvo-conduto a ninguém, porque a ética é um atributo pessoal. Ao mesmo tempo em que respeitarei o meu partido, preservarei a minha convicção pessoal, porque o partido, se não imuniza nenhum indivíduo, também não pode esmagar.

Nas eleições deste ano, estou participando das campanhas do Partido dos Trabalhadores em dezenas de Municípios paraibanos, inclusive naqueles que foram deixados de lado pela atual direção estadual do partido. Estou apoiando as candidaturas do PT e de seus aliados com a minha presença, com a minha palavra e com o mandato que as paraibanas e os paraibanos me deram. Estarei em aproximadamente 100 Municípios pedindo votos para nossas companheiras e companheiros que querem ocupar espaços nas Prefeituras e Câmaras Municipais.

Continuo apoiando o Governo do companheiro Ricardo Coutinho, o maior aliado do Governo Dilma Rousseff no Estado. E é tão claro que tem tido as portas abertas, Sr. Presidente, para receber recursos e sempre que vem a Brasília é bem recebido por todos os Ministérios, inclusive pela própria Presidenta Dilma.

Fui eleito Deputado Federal defendendo essa política. Continuarei exercendo meu mandato prestando apoio a este Governo do Estado, que é o que lidera as bandeiras tão caras, as lutas para fazer avançar a cidadania das paraibanas e dos paraibanos.

Nestes meses de eleições municipais, além de estar presente nas lutas políticas e eleitorais na grande maioria dos municípios paraibanos, cumprirei com meus deveres no Congresso Nacional na condução da CPI contra o tráfico de seres humanos; na CPI das redes de exploração sexual; nas Comissões Permanentes; e no Plenário da Câmara dos Deputados.

Ao povo de João Pessoa, ao povo da Paraíba e a todas as brasileiras e a todos os brasileiros reafirmo mais uma vez a minha dedicação, a minha luta, o meu respeito.

A construção de uma sociedade mais solidária é o grande desafio dos nossos tempos. A luta contra a violência, a luta contra a corrupção e a impunidade, sem qualquer concessão ao estilo egoísta de ser ou viver, éa luta pelo que há de mais humano em cada um de nós; é a luta por um mundo ético, menos violento, repleto de gente fina, sincera, serena e firme.

Para concluir, Sr. Presidente, retomo as palavras do grande profeta, arcebispo que foi lá de Olinda e de Recife, D. Helder Câmara, e que V.Exa. tanto conheceu; e também do cantor e compositor Gilberto Gil em sua composição Preciso aprender a só ser. De D. Helder, que diz: "É preciso nunca ter medo da utopia. A utopia partilhada é o esteio da história. É a ousadia a esperança". E ainda de D. Helder: "Feliz aquele que consome sua vida na busca da verdade, procurando conhecê-la e mergulhar sempre mais nela. Procurando vivê-la e propagá-la, como alguém que partilha, que partilha um tesouro que tanto mais aumenta quanto mais generosamente o distribui". São palavras do nosso grande profeta que, com certeza, na Glória Celestial, olha para a situação do povo nordestino, do povo brasileiro neste momento de sofrimento com relação à seca.

Gilberto Gil, Sr. Presidente... Muita gente começou a dizer que eu estava só, que eu estava abandonado, que estava sozinho nessa luta. E aí eu peguei do compositor e também poeta e cantor Gilberto Gil a música em que ele se contrapõe àquela outra que diz: "Eu preciso aprender a ser só". Ele diz: Eu preciso aprender a só ser. E diz assim: Sabe, gente / É tanta coisa para a gente saber / O que cantar, como andar, onde ir / O que dizer, o que calar, a quem querer / Sabe, gente / É tanta coisa, que eu fico sem jeito / Sou eu sozinho, e esse nó no peito / Já desfeito em lágrimas que eu luto para esconder / Sabe, gente / Eu sei que no fundo o problema é só da gente / E só do coração dizer não, quando a mente / Tenta nos levar para a casa do sofrer / E quando escutar um samba-canção / Assim como:"Eu preciso aprender a ser só" / Reagir e ouvir o coração responder: / "Eu preciso aprender a só ser", sem adjetivos, ser gente, ser humano, ser aquilo que estou revelando aqui.

A verdade nos liberta, Sr. Presidente. A verdade nos libertará sempre. Este pronunciamento que faço mostra, com certeza, que nós temos a plena convicção de que o nosso partido, o PT, é, a partir do congresso que nós tivemos, depois de várias decisões que tomamos... Também nós aprenderemos a lição de que esse processo democrático, no País, necessita, cada vez mais, de uma revisão profunda, de uma ação cada vez mais plena, para que nós possamos dar uma resposta a todas as demandas.

Concluo meu pronunciamento lendo artigo do Padre Mauro Nunes, que tem muito a ver com o pronunciamento que fiz, sob o título "Política é coisa séria, muito séria!" (Movimento, fé e política. Litoral. Macaé. Rio de Janeiro). Ele diz: A História do nosso país tem páginas repletas de beleza, inspiração e amor a esta terra pela incessante luta de pessoas, homens e mulheres, que encarnaram em suas veias, o desejo de uma sociedade justa, digna e igualitária. Caminho que se faz pela vida Política e por meio de uma verdadeira democracia com plena participação do povo nos projetos e decisões que modificam os rumos do país, do Estado e Município e interferem diretamente na vida das pessoas. Por esta causa muitas pessoas deram a vida e derramaram sangue.

A história nos ensina que já percorremos um longo caminho e a experiência tem nos mostrado que há ainda um longo caminho a percorrer. A luta é longa e árdua, mas não dá para desistir! Não dá para ignorar o suor de quem sofreu nos idos da história e as lágrimas e perseguições dos que ainda hoje sofrem. Por isso não cabe conceber: isso não tem jeito!; roubam, mas fazem!; não posso contra eles, me junto a eles.

Tudo entre aspas.

A esperança deve ser sempre nossa companheira! Perder a esperança é perder o gosto e o sabor da vida. Perder a esperança é deixar de sonhar e acreditar! Depois de tantas lutas travadas, podemos dizer que já há uma consciência maior sobre a realidade da política em nosso país e em nossas cidades. Sentimos o despertar da concepção de que política é coisa séria! Muito séria! E ninguém tem o direito de fazer da política o meio de explorar as pessoas em benefício próprio!

Então, o povo passará a exigir candidatos à altura de um mandato conquistado para bem servir às suas demandas; não terá tolerância com os políticos que fazem do patrimônio público o seu próprio bem; que administram seus empreendimentos particulares com recursos financeiros e humanos provenientes dos bens públicos; o povo conquistou a Ficha Limpa e a terá como valioso instrumento para limpar a Política dos maus políticos; não basta o candidato expor o maior número de placas. Aliás, o povo tem dito que placa não ganha eleição. Não basta campanhas milionárias. O povo quer que o candidato converse com ele, frente a frente, exponha suas propostas sem, contudo, apresentar megaprojetos —o povo sabe o que é proposta eleitoreira —, pois o que as nossas cidades mais necessitam é que o básico e o urgente sejam feitos: saúde de qualidade; saneamento; boas escolas; água para todos, etc. O povo não quer candidato que compra voto, pois sabe que quem compra voto tem apenas um projeto para se chegar ao poder, mas não um compromisso com a sociedade.

Enfim, política é coisa séria e para pessoas sérias.

O Movimento Fé e Política em nossa Região, junto a outros segmentos da sociedade, vem levantando, com vigor, esta bandeira da ética na Política e propondo a reflexão de que política não é coisa suja, mas sujos são os polfticos que não respeitam o seu representado, o povo que o elegeu. Sujeira é se utilizar das necessidades e misérias do povo em proveito dos interesses egoístas e rentáveis. Por isso apoiamos a Lei da Ficha Limpa.

A política é o caminho de organização da sociedade para atender às demandas sociais e ambientais em vista do bem comum, o bem de todos. Através dela vemos a possibilidade de construção da Sociedade do Bem Viver.

Sr. Presidente, este o artigo do Padre Mauro, que peço para registrar nos Anais. Agradeço a V. Exa. a tolerância para que eu pudesse concluir a leitura deste meu pronunciamento e também desse artigo publicado, da autoria do Padre Mauro, do Movimento Fé e Política, litoral Macaé, Rio de Janeiro"

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