Miguel Gullande
Nestes últimos dias passei ouvindo uns fados portugueses e também tive a oportunidade de encontrar e ler o Romance de Miguel Gullander, publicado pela Língua Geral em 2007, com o título de "Perdido de volta".
Primeiro é importante dizer que a própria história original do autor já é por essência muito rica de geografias culturais e ambientais, pois o moço escritor tem pernas e braços sueco-luso-africanos e experiências de vida intercontinentais, entre outras. Acredito que a escolha desse romance para a coleção ponta de lança é muito bom para o público leitor brasileiro, pois tudo é muito novo no pensamento do Miguel Gullander, gostei essencialmente das contradições e paradoxos apresentados nos fragmentos românticos do autor. Começo dizendo que existe uma especie de escritos quânticos ou fractais em suas escrituras. Um desafio constante ao leitor que constantemente é arrastado para mares, praias e montanhas distantes; para cavernas e bordas de vulcões; ou para subúrbios de Lisboa, Bombaim entre outros.
Os textos de Gullander lembram escritos libertários e uma desafiante e brincante investida de valorização do léxico com deferentes pontos de partidas. Lembra recados de Mella, (1989), quando afirma que ...“As palavras são o
veículo obrigatório na transmissão dos conhecimentos. Através delas, as
gerações vão-se transmitindo os seus erros e verdades, os primeiros mais que os
segundos. Imitadores uns dos outros, não acertamos a empregar na luta mais que as mesmas armas
de nossos contraditores. Com palavras pretendemos destruir o império das
palavras”...(MELLA, Ricardo. In: Educação Libertária, p. 79/80). o mais forte no Romance Perdidos de Volta é a gente mergulhar dentro dele e se deparar com cenários imperfeitos, personagens imperfeitos e contradições culturais perfeitamente bem arranjadas pelas construções do autor.
Também lembrei de imagens caleidoscópicas, desse espaço tridimensional construído a
partir de três lâminas de vidro espelhadas, postas em oposição que, reproduz
ilusórias imagens. Colocados cacos de vidro coloridos, miçangas e outros
fragmentos, sem ordem de distribuição, estes representam o caos, a completa
desordem, mesmo limitado a cônico espaço de reduzidos diâmetros. Mas se
movimentamos este cilindro, observando a posição dos fragmentos, notamos uma
verdadeira ordem universal, ou seja, o cosmo em um vitral harmônico, mesmo
sabendo que o mecanismo é pura geometria euclidiana. Perdidos de volta me leva a escritos que gosto de exercitar como vidraças - http://observatoriodoagreste.blogspot.com.br/2012/06/vidraca.html .
Gullander conseguiu em Perdidos de Vota fragmentos de histórias e os personagens são ao mesmo tempo reais e alienígenas míticas e sagrados. Não sei de a editoração percebeu, mais os títulos de cada capitulo formam uma certa poesia e na medida em que vamos lendo cada capitulo, nos sentimos envolvidos pelos personagens que quase não se repetem. gosto literalmente de títulos como "O beijo do louva-deus" e me lembro em alguns trechos do seu romance de alguns fragmentos do que gosto de escrever como a "nudez do sagrado", postado no blog (http://essencialismo.blogs.sapo.pt/307.html). Quando a gente ler um "candeeiro congelado, chuva em queda e, na testa, o cabelo colado", sente-se na pele as noites nos subúrbios de Lisboa. A pergunta que fica é será que o autor escreve essencialmente o que viveu em diferentes dimensões de sua vida?
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