Por Agassiz Almeida (por sua acessoria JBS).
Foto Agassiz Almeida, Fonte: blogdopaulonunes.com |
Desde o nosso período colonial que o povo brasileiro sofre duas formas
cruéis de opressão no seu processo de desenvolvimento: a espoliação por uma
elite egoísta e excludente, e recentemente, nas últimas décadas, se vê
manipulado por espetáculos circenses nos quais se dão as mãos a hipocrisia, o
cinismo e a avidez pelas manchetes midiáticas.
O que assistimos hoje? Como há dois mil anos nas arenas
do Coliseu romano, expõem-se acusados, acunhados de os condenados do mensalão, à execração da opinião pública num
monumental anfiteatro comandado por magistrados transvestidos de Catão
incorruptível, e, remontando aos idos tempos, em verdadeiros sobas africanos.
Molière não faria melhor encenação. Embalada nos
frenéticos aplausos da massa humana, idólatra desses novos deuses, a mídia
televisiva e a internet, a alta corte do país dita uma nova ordem de moralismo,
mesmo violentando os mais elementares princípios e normas do Estado Democrático
de Direito. Todos procuram tripudiar nos vencidos.
Ministro Joaquim Barbosa - STF. Fonte: fotografia de Ailton de Freitas / O Globo |
Vem-me um horror sarcástico desse cenário teatral por trás do qual
grassa nas antecâmaras dos poderes corrupção epidêmica, escancarada nas obras
faraônicas, sobretudo no Judiciário.
Aplaudam-se os magistrados na ação punitiva aos
condenados de alto coturno, e que ela se estenda implacavelmente por todo o
país a prefeituras e tribunais superiores.
Que não fique, Sr. Ministro, na consciência do povo
brasileiro a frustação melancólica de que mais um espetáculo circense
foi montado. O juiz Lalau nos deixou de sobreaviso.
Desde então, quem foi condenado?
A mais condenável ação de um dirigente do poder é
arrastar às fronteiras do engodo a consciência de um povo.
Cansa-se a nação das demagogias e hipocrisias. Existe
um abismo entre o povo brasileiro e a nação. Ele precisa de um estadista que
desafie os grandes problemas e aponte as soluções, e não de populistas de
ocasião.
Façamos deste Brasil uma nação conduzida por um povo
forte e livre, e não um empanturrado país manipulado por elites egoístas e
venais.
Os indignados repelem a passividade satisfeita que uma
mídia comprometida quer impor ao povo brasileiro.
Entre o ruído que a condenação dos acusados do
mensalão provoca e a esperança do povo, uma verdade eclode: que este julgamento
não seja apenas uma peça teatral, porta larga por onde os corruptos e os
irresponsáveis gestores públicos trafeguem.
Condenar não basta, Sr. Ministro, urge convocar a consciência
da nação para uma nova ordem de respeito aos recursos públicos. A sensação de que tudo isto é mais
uma encenação midiática levará à desolação o povo brasileiro, tão malbaratado
por poderosas forças.
Saudações democráticas.
Agassiz Almeida
Agassiz Almeida, escritor, ativista dos direitos humanos, ex-deputado
federal constituinte, autor das obras, “A república das elites”, A ditadura dos
generais”, e recentemente lançou “O fenômeno humano”. É considerado pela crítica
como um dos grandes ensaístas do país.
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