Por: Joana Belarmino de Sousa*
No último
domingo, tal como devem ter feito milhões de pessoas no mundo todo,
sintonizei-me com a Grécia e com a difícil missão do seu povo, que teria de
escolher entre dois caminhos, cada um deles tão difícil quanto o outro, com
seus abismos, sua impossibilidade de desvios alternativos, seu conjunto de
inevitabilidades.
Como
milhões de pessoas no mundo todo, torci pelo “Não”, e divulguei nas redes
sociais, as tags dessa torcida, enquanto acompanhava pelos principais portais
de notícias, as repercussões daquele acontecimento.
Festejei
a vitória retumbante do “Não” grego, ciente da impossibilidade de compreender o
tamanho do sacrifício que o caminho escolhido imporá aos cidadãos daquele país,
ciente da imensa distância existente entre esta minha precária solidariedade e
a real situação de sofrimento vivida pela Grécia, com todas as suas terríveis
nuances, as quais somente podemos assistir de muito longe.
De fato,
para qualquer lado que se olhasse, na terra de Platão e de Sócrates, havia um
cenário sombrio a ser contemplado. O não, entretanto, era por assim dizer, o
salto mais arriscado. Aquele que colocaria a Grécia no topo de uma montanha,
pavimentada toda ela por um caminho de solidão, isolamento, abandono dos
trilhos do mundo exterior e do capital internacional.
O não
envolvia porém, a coragem de milhões de gregos que já haviam desafiado um
processo eleitoral anterior, colocando nas mãos de Alexis Tsipras, os destinos
do país para os próximos anos.
Assim,
ouso dizer, o “não” fez mais pela Grécia do que faria o “sim”. Ao mesmo tempo
em que expôs ao mundo, o âmago da terrível crise que assola o país, obrigou que
o grupo dos seus vizinhos, a Europa toda, representada pela Troika, constituída
pela União Europeia, o Banco Central europeu e o FMI, se voltassem para uma
compreensão mais aguda dessa crise, que não é apenas da Grécia, mas se gesta na
própria forma como se dão os financiamentos das dívidas dos países hoje
dependentes do capital mundial.
A agonia
prossegue, agora com as diversas negociações. Dentro da Grécia entretanto,
enquanto tenta adaptar-se ao limitado mundo das contenções, das dificuldades,
dos carecimentos, o povo grego alimenta-se da esperança no seu líder maior,
Alexis Tsipras, e na possibilidade de construírem um futuro mais digno para o
país.
Sim, a
crise grega é, em larga medida, uma amostra dos caminhos que temos palmilhado
ao sabor das diretrizes do capital mundial, cuja acumulação, com predomínio na
financeirização do próprio capital, assume proporções inaceitáveis, ameaçando o
futuro da própria globalização.
Nenhum
país pode-se dizer imune à situação de crise que assola o mundo. Mas há que se
compreender porque estamos caminhando inevitavelmente para uma posição tão
perigosa. Precisamos escutar o que tem nos dito David Harvey, em sua aguda
crítica ao sistema capitalista e aos movimentos das suas últimas décadas, que
nos trouxeram a esse perigoso agora.
* Joana Belarmino de Sousa - Doutora em Semiótica pela PUC/SP, profa. de Teoria da comunicação da UFPB.
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