terça-feira, 23 de junho de 2015

Quantos São Joãos?

fonte da imagem: rezairezairezai.blogspot.com
De: Belarmino Mariano Neto.

Para minha irmã Joana Belarmino e para João Batista Belarmino (in memoriam)

 “Tu lhe darás o nome de João e será para ti objeto de júbilo e alegria; muitos se regozijarão por seu nascimento posto que será grande diante do Senhor” (Mateus, 11). 

Em meus 51 anos de festejos juninos diria que, diante das vidas humanas aparecem os nomes de batismo. Nas entranhas da vida o arco do amor constitui os filhos, constitui os pais e os avós, nesse infinito atributo a vida. Quando nascem conspira-se para um nome. Jackson do Pandeiro nos diz que no Nordeste brasileiro existem muitos Zés na celebre frase “vige como tem Zé lá na Paraíba”. Esse nome é típico de um Santo demarcador de chuvas para o povo sertanejo. São José indica se o ano será bom para os agricultores, pois entre os dias 15 e 21 de março, ficam na espera de chuvas para a feição dos seus roçados de milho, feijão, fava, melancia, jerimum, quiabo e maxixe, entre outras produções locais. Daí os tantos registros de batismo, para José, ou Zé como são conhecidos.
Assim como José, outros tantos de Joãos, Antônios, Pedros e Anas. O Nordeste do Brasil parece ter absorvido um carinho especial por estes nomes, pois os santos juninos se tornaram a maior tradição da cultura regional. Com eles, toda uma cultura dos festejos, em que o sagrado e o profano se encontram entre as missas as quermesses e na atualidade as grandes festas de forró, com bandas musicais e shows pirotécnicos.
Nas duas ultimas décadas, observa-se que a presença da cultura americana ou estrangeira, interferiu diretamente nas escolhas de nomes dos filhos dos brasileiros. Surgiu um monte de novos e americanizados nomes: William, Wellington, Sidney, Washington, Stanley, entre tantos outros. Para completar, os nordestinos começaram a inventar nomes de misturas familiares. Assim, passamos a ter nomes como: Antonival, Joseval, Franciscleide, Arioneide, Francieli, Josicleison, Roberval, e bote mistura nessa cultural de dar nome aos filhos.
Mas dos tantos nomes tradicionais ou não, temos que os Joãos são muitos. Esse santo é padroeiro de muitos lugarejos do Nordeste inteiro. Assim, misturam-se as festas do Santo, com as festas dos filhos dos que gostam desse santo. São João é tão forte que entre os nomes com derivação entre o masculino e o feminino, no Nordeste notamos que existem muitas Joanas também.
Em minha casa com uma família de 21 irmãos, tivemos dois que foram sorteados para homenagear o santo. Uma fêmea, que nasceu exatamente no dia 24 de junho e foi batizada com o nome de JOANA BELARMINO e o outro que apesar de ter nascido em 07 de setembro, foi homenageado como JOÃO BATISTA BELARMINO (In memoriam). Esses são nomes que passaram a fazer parte de minha família, fruto do amor de Dona Gessi Costa e seu Mariano Belarmino (In memorian). Ela uma católica apostólica romana e ele apenas um temente a Deus que não ia muito à igreja, mas nas festas juninas, adorava um arrasta-pé. Uso a expressão arrasta-pé, pois era como ele chamava um forró, fosse a ritmo de xote, forró-pé-de-serra, xaxado ou baião, ele sempre dançava naquele passinho dois pra lá e dois pra cá.
Desse monte de 21 filhos, sobreviveu 13, Raimundo Belarmino (In memoriam), Raul Belarmino, Maria Belarmino, Luiz Belarmino, José Belarmino, Luzia Belarmino, Manoel Belarmino, Joana Belarmino, Inácia Belarmino, João Batista Belarmino, Eu (Belarmino Mariano), Maria Aparecida, Maria do Socorro Belarmino. Imaginem esse paiol de gente, além do monte de primos e tios, amigos e vizinhos. Esse tudo já dava uma festa grande. Mas como já disse anteriormente, de todos os irmãos, São João teve a graça de receber dois como batismo.
Joana Belarmino, que gosto de chamar de Joaninha, como manda a tradição, adora esses ritmos nordestinos e utiliza o principio básico da intercomunicação dos sentidos para florear a sua vida com suas Marianas, Maíras e Gabrielas, em filhas e neta. Esse trio nordestino meio agauchado teve a participação muito especial do poeta e fazedor de mulheres bonitas Lau Siqueira. Outro que saiu dos pampas e veio beber e se regatear no seio da cultura nordestina, com um para sempre, pois em suas feições de tchê, já estão riscados muitos oxentes e prumodes que só a sociolinguística explica.
João Batista Belarmino partiu cedo, se foi ao encontro dos nossos velhos pais Gessi e Mariano, talvez pelo apego que era grande demais. Deixou uma filha como sua flor do Cariri, uma linda flozinha que foi batizada por Amanda Belarmino, essa é digna de ser amada por todos. Ele, entretanto era muito agitado e detestava apelidos, isso que agora todos chamam de bullying. Joao Batista não perdia os ensaios das quadrilhas juninas, era o primeiro a organizar a coleta de dinheiro rua a fora para os enfeites com bandeirinhas coloridas, sempre ajudava na construção da fogueira e na hora de ralar ou moer o milho, estava presente.
Lá em casa, nossa mãe não gostava de comida pouca. Ela gostava mesmo era de ver a fartura, era uma “mão de milho” para a arte de fazer pamonhas e ainda fazia de dois a três caldeirões de canjica, pois era tradição que nós levássemos uns pratos para os vizinhos, que também retribuíam da mesma maneira e nessa economia solidária, sempre provávamos dos sabores das outras casas. Assim, das comidas de milho além da canjica e pamonha, ainda comíamos milho cozido, milho assado nas brasas da fogueira, batata doce assada nas cinzas, bolo de milho, bolo pé-de-moleque. Na área dos salgados, sempre tinha um picado de porco, uma buchada de bode,
São tantos os Joãos que fica difícil se lembrar de todos, mas sem dúvidas essa é a festa mais festejada pelos nordestinos. Podemos até dizer que as festas são Joaninas, ainda que: São José anuncie as chuvas do milho, Santo Antônio anime aos casórios, São Pedro abra as portas dos céus para a animação festeira e São João menino anime os fogos, as fogueiras e os chuveirinhos coloridos da criançada. São João é o mais cantado das músicas de forró e quadrilhas. Ele é tão importante que, dos festejados é o único com feriado garantido. Em julho ainda temos Santa Ana, a única mulher entre assa macharada de santos juninos.
Não importa se você vai para uma grande capital do Forró ao exemplo de Campina Grande, Caruaru ou Cajazeiras, ou se você vai curtir os festejos juninos na sua cidadezinha do interior, ou mesmo do sítio. A animação é completa, pois o espirito de nordestinidade é tão forte que se revive e reinventa em cada ano de festa. As famílias se preparam o ano inteiro e esse é o mês em que muitos forasteiros que estão para as bandas do Sudeste brasileiro, retornam para a casa paterna, para reencontrar seus familiares, amigos e velhos amores que se perderam nas curvas das estradas da vida.

Bom mesmo é ver todo mundo reunido, compartilhando muita comida e bebida, se confraternizando ao ritmo bonito do forró, seja ele típico do trio de: sanfona, zabumba e triângulos, ou se é aquele mais estilizado e cheio de outros instrumentos musicais. É muito bom ver a festança é fazer parte desse fenômeno humano em que se misturam os rituais sagrados e as profanias quase que pagãs, pois as festas juninas são marcadas pelo colorido e pelas vestimentas extravagantes, em que os figurinos relembram um passado da fazenda e da roça permeada pela alegria em todo o Nordeste brasileiro.
Aos Amigos João Andrade, Joana Andrade e João Miguel. Marido, esposa e filho (todos Joaninos).

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