Por Belarmino Mariano Neto (belogeo@yahoo.com.br)
Veio de longe, de uma distância sem tamanho. Eram pancadas estridentes e caninas que rasgavam o escuro como farpas que espichavam os contornos da escuridão. Em meio ao breu cintilavam pancadas de um metal brilhante e cortante que em fino e amolado fio, espatifava os corpos da fria madrugada.
Do longo e distanciado som da escuridão, ouvia-se o casco dos cavalos, contra as rochas dos penhascos encobertos pelo véu da noite. A lua estava morrendo e costurava uma fina e torta mancha de luz que não encontrava caminhos e perdia-se na escuridão.
A fina e arqueada boca de luz era a restante lua que se desfazia nas trevas. O manto escuro do céu havia engolido os restos de luz e aos pouco ia desaparecendo do mapa celeste como prenúncio de que uma batalha sangrenta escorria pelo fio das espadas em punho.
Suor e sangue derramado eram o que restava de uma geografia miserável. Corpos de batalha agora sem vida, amontoavam-se uns contra os outros, enquanto o sangue era bebido pela terra como se fosse o vinho tinto dos homens. Uma bebida amarga escorria para as entranhas da escuridão e embebia o silêncio venoso dos combalidos.
As farpas metálicas já estavam espalhadas pelas encostas e entre alaridos e urros assustadores, feras ruidosas se aproximavam da carnificina humana. Eram os lobos que agora se fartavam de um signal banquete de sangue e carne fresca. Corpos dilacerados, pedaços de gente se misturavam com pedaços de tecidos ensangüentados.
Fortalecendo a idéia de que o homem é o lobo do homem, os lobos tratavam de rasgar ainda mais as entranhas humanas. Eram animais famintos cuidando das carnes ainda quentes da batalha. Feras tão humanamente selvagens que travavam os dentes uns contra os outros como se as pancadas maxilares dos caninos ferozes acordassem o silêncio dos mortos.
Da boca entreaberta de um cadáver, sangrava uma lua morta. Era um reflexo de rasgo da lua que entrava pela sua língua morta. Aquela língua latina havia morrido naquela hora. Não mais falava de complexos arranjos do universo lingüístico. No céu da sua boca sangrava uma lua morta. A fala e o falo agora estavam mortos.
A lua no céu da sua boca era apenas um reflexo da saliva humana que se misturava ao sangue e, em uma baba gelatinosa espreitava os vermes e a putrefação carnívora da calma da alma e da alegria. Quase nada mais restava de vida, nem de riscos tortos da lua que entrava em alfa e o pesadelo estava apenas começando.
João Pessoa, 09 de dezembro de 2006.
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