Foto: Érica Gomes da Costa Mariano, Vale do Pajeú/PE, 2007.
A
ecologia política, como movimento dos trabalhadores de inspiração marxista,
baseia-se numa crítica – e numa análise, numa compreensão teórica – da “ordem
das coisas existentes”. Mais especificamente, Marx e os verdes enfocam um setor
muito preciso do mundo real: a relação humanidade-natureza e, ainda mais
precisamente, as relações entre as pessoas que se aplicam à natureza, ou o que
os marxistas chamam de “forças produtivas” (LEPIETZ, 2003, p.9-10).
“A noção de que o homem deve dominar a natureza vem diretamente da
dominação do homem pelo homem” (BOOKCHIN, 1992, p.17).
Em
1992, o Anarquista pernambucano Roberto Freire fez uma dura crítica ao modo de
produção capitalista dizendo que se tratava de uma Farsa ecológica o que
aconteceu na Rio-92, pois se discursava sobre a ideia de desenvolvimento
sustentável. No fundo a ideia aparente que prevaleceu a partir da Rio-92, com a
Agenda 21, parecia uma tentativa internacional em barrar as agressões que o
sistema capitalista efetuava contra o patrimônio natural e contra as pessoas,
que em grande parte do planeta viviam e ainda vivem abaixo da linha da pobreza.
A Rio+20
é uma versão muito piorada o que ocorreu em 1992 na Cúpula do Rio de Janeiro,
articulada pelas Nações Unidas (ONU) para o meio ambiente e para a sociedade.
Mas na verdade, foram encobertas as intenções que esse sistema em sua fase de
crise aguda reserva para o resto de natureza e humanidade. O modo de produção
capitalista não se sustenta ecologicamente e agoniza crises sem precedentes em
sua curta história de pouco mais que quinhentos anos. Seguir esse sistema é
apostar na destruição socioambiental presente e futura.
Parafraseando
Freira (1992) a farsa ecológica se repetiu na rio+20. Venceu a tese dos
capitalistas degradadores e os representantes de governos e de Estados, advogou
em defesa dessa tese antiecológica, inclusive o governo brasileiro, pois
sabendo desse encontro, tratou de permitir que o novo código florestal entrasse
em pauta no Congresso Nacional, para regularizar os crimes ambientais passados
e recentes, bem como autorizar o avanço das serras em área ambientais do país.
A
humanidade ficou mais pobre essa semana e não lhes resta mais quase nada de
esperança no que tange as questões socioambientais presentes e futuras. A
rio+20 enterrou em grande parte os passos dados a 20 ou 30 anos de preocupações
com o meio ambiente. De fato os movimentos sociais não foram ouvidos, não
conseguiram incluir nesse novo documento, as verdadeiras preocupações em
relação as crises socioambientais existentes hoje e que se agravarão nesses 20
anos que seguem.
Este ainda
é o nosso saldo: agressões ao meio ambiente - poluição atmosférica, poluição
dos mares, poluição dos rios, poluição dos alimentos, desmatamento, extinção de
espécies da fauna e da flora são quase todas permitidas pelos estados modernos
e praticadas direta ou indiretamente por empresas capitalistas, que obedecendo
às normas do mercado, buscam o maior lucro, custe o que custar para a natureza
e para os seres humanos.
O que
destaco nesse arranjo teórico é uma nítida aproximação estabelecida entre o
pensamento marxista de critica ao modo de produção e exploração capitalista e
que a ecologia política incorpora em um novo discurso crítico que inclui agora
as questões de ordem socioambiental.
Os
diferentes estágios da humanidade são os diferenciais sociais em diferentes
espaços. A produção do espaço geográfico é extremamente contraditória e afronta
diretamente a natureza em todos os sentidos. “A noção de que o homem deve dominar a natureza vem diretamente da
dominação do homem pelo homem” (BOOKCHIN, 1992, p.17).
Para Mariano Neto (2001, p.62), esta
sociedade baseada no produzir por produzir, no lucrar em detrimento da natureza
e do humano é vista como mercadoria de uns poucos, o reino natural é uma mera
manufatura para o desenfreado mundo comercial e da concorrência. Essa sociedade
gerou a globalização que de fato é uma submundialização, pois os impactos sobre
as condições socioambientais estão levando a humanidade para atrasos sem
precedentes na história.
a questão da pobreza
humana no ambiente e mais particularmente sua estrutura social, com mudanças
recentes em nível de padrão técnico e as condições de vida, trabalho, moradia
na periferia das cidades marcam um ambiente de profundas contradições. Estes
argumentos estão todos focados pela ecologia política, pois quando se pensa
tanto em termos de uma ecologia cultural, quanto em termos de uma economia
política, depara-se com as contradições estabelecidas ao longo do histórico e
contraditório sistema capitalista.
Na contramão
da rio+20 capitalista, a sociedade precisa reagir de maneira organizada. Nesse
sentido, anarquistas e comunistas, mulheres, negros, índios, jovens,
religiosos, universitários, partidos políticos de matriz ecológica e anticapitalista,
ONG´s sérias, entre outros, precisam focar na defesa de uma sociedade ecológica
como afirma Bookchin (1992).
Existe um novo discurso expresso em uma
metanarrativa do mundo, da sociedade e do ambiente em que o meio ambiente e a
sociedade começam a ser entendidos a partir de categorias concretas da
história. Nesse sentido, novos arranjos e desenhos da existência humana se
expressam nas concrectudes do mundo. Autores como Faladori (2001), que trata a
questão da sustentabilidade a partir dos limites do desenvolvimento e das
crises ambientais do presente; Duarte (1986), que faz uma leitura de Karl Marx
em relação à natureza em O Capital;
Lipietz (2003), que estabelece um paralelo entre a ecologia política e o futuro
do marxismo; Boeira (2002), por considerar a ecologia política enquanto um
campo transdisciplinar; Alimonda (2001), que apresenta vários apontamentos
sobre a ecologia política na América Latina de tradição marxista; Bookchin
(2003), que apresenta uma preocupação básica em relação a ecologia social;
Santos (2001), por fazer uma profunda crítica ao atual modo de vida capitalista
e ao processo de globalização.
Com
certeza, todos estes pensadores são críticos desse modelo cupular de encontro
para tratar de um tema que interessa a toda a humanidade e concordam com uma
coisa, não existem milagres, nem salvação do meio ambiente e da humanidade
nesse sistema de perversidade contra o patrimônio natural e contra a
humanidade. A ecologia política e o materialismo estão teoricamente preocupados
em compreender a realidade social em dinâmicas materializadas, mas em se
tratando de natureza a máxima vale também, pois o homem é primeiramente
natureza.
El libro de Paul Burkett es uma respuesta
exhaustiva a estas interpre-trações. Mediante uma prolija exposición de la
relación entre el pensamiento marxista y la problemática ambiental llega a três
conclusões. Primero, que el método de Marx, el materialismo histórico, contiene
uma teoria de la coevolución sociedad-naturaleza que al contrario de desmerecer
el papel da la naturaleza em la evolución de la sociedad, permite entende sus
interrelaciones. Segundo, que la aplicación de dicho método al sistema
capitalista plasmado em su principal obra El Capital y em outras secundárias,
explica por que y como el sistema capitalista lleva intrínseca la tendência a considerar
a la naturaleza sólo como mercancía que
puede generar lucros privados, y no como una riqueza em sí y parte Del
bienestar de la sociedad humana. Y terceiro, que la superación Del sistema
capitalista por uma sociedade de productores associados - objetivo de toda la
actividad política e intectual de Marx (BURKETT, 1999, apud: FALADORI, 2001, p.
135)
É importante dizer que a sociedade capitalista
levou ao extremo as contradições historicamente estabelecidas na relação
sociedade e natureza, tanto em relação à proporcionalidade material
(quantitativa e qualitativa) necessária para reprodução da sociedade, quanto na
ideia de valores e acumulação capitalista que podem ser identificadas como
responsáveis por profundas transformações sócio-espaciais refletidas enquanto
crises ecológicas do presente. A sociedade envolvida
e as dinâmicas do meio ambiente que hoje são representadas por profundas
alterações socioambientais, demonstram uma nítida combinação de atividades em
situações conflitantes. No atual estágio de desenvolvimento científico,
tecnológico e informacional, os problemas de ordem ecológica, econômica
e social apontam para desequilíbrios naturais e
conflitos sociais nunca vistos pela humanidade.
Para lá sociedad humana - según Marx -
la riqueza es resultado de ‘a process in
which both man and nature participate’.[1]
Pero no sólo la naturaleza externa forma parte de la riqueza humana; el próprio
trabajo actúa como mediación es, también, naturaleza. Com estas anotaciones
Burkett ya rebate muchas de las críticas vulgares al marxismo. Y, lo que es más
importante, muestra cómo la separación de la sociedad respecto de su naturaleza
externa no es um hecho dado sino um resultado histórico. Lo que requiera
explicación es precisamente la separación Del trabajador de sus condiciones
natureles de vida, forma que adquire su máxima expresión com el capitalismo
(BURKETT, 1999. Apud: FALADORI, 2001, p.136).
Para tanto é preciso uma profunda compreensão da
história socioeconômica política, cultural e técnica estabelecidas, levando em
conta os processos de apropriação da natureza em seus diferentes estágios e
níveis. Esta é a principal preocupação do que considero enquanto ecologia
política, pois entendo que os ecossistemas naturais, sistemas agrícolas e
sistemas urbanos são focos de diferentes estudos. Nesse sentido existe uma
convergência epistemológica das ciências sociais e naturais que aponta na
direção das questões ambientais, não apenas enquanto campo da biologia,
ecologia ou geografia. Pois “o ambiente
não é a ecologia, mas a complexidade do mundo” (LEFF, 2001, p.139).
A Ecologia não trata apenas das questões ligadas ao
verde ou às espécies em extinção. A Ecologia significa um novo paradigma, quer
dizer, uma nova forma de organizar o conjunto de relações dos seres humanos
entre si, com a natureza e com o seu sentido neste universo. A Ecologia
inaugura uma nova aliança com a criação, aliança de veneração e de
fraternidade. Não fomos criados para estarmos sobre a natureza como quem
domina, mas para estarmos junto com ela como quem convive como irmãos e irmãs.
Descobrimos assim nossas raízes cósmicas e nossa cidadania terrenal (BOFF, 1995,
p. 06).
Mesmo com a rio+20 fracassada, não
podemos cruzar os braços diante desse modelo socioeconômico degradador. Temos
sim que apostar em uma sociedade ecológica e isso passa obrigatoriamente pela
destruição desse modo consumista e degradador da natureza e da humanidade.
Guarabira, 22 de
junho de 2012
Referências
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Hector. Uma herencia em Comala (Apuntes
sobre Ecologia Política Latinoamericana y la tradición marxista). In.
Ambiente & sociedade. Campinas/SP: NEPAM/UNICAMP, 2001.
BOFF, Leonardo.
ECOLOGIA Grito
da Terra, Grito dos Pobres. São Paulo: Ática, 1995
BOOKCHIN, Murray. Por uma Ecologia Social. Rio de
Janeiro: Utopia, nº 4, 1992.
BOEIRA, Sérgio Luís. Ecologia Política: Guerreiro Ramos e Fritjof Capra. In. Ambiente e
Sociedade. Campinas/SP: NEPAM/UNICAMP, 2002.
BURKETT, Paul. Marx and Nature. A red and green perspective. In: FALADORI, Guillermo. Ambiente & Sociedade.
Campinas/SP: NEPAM/UNICAMP, 2001.
DUARTE,
Rodrigo A. de Paiva. Marx e a Natureza
em O Capital. São Paulo, Edições Loyola, 1986.
FALADORI, Guillermo. Sustentabilidad Ambiental y Contradiccines Sociales. In. Ambiente
& Socieade. Campinas/SP: NEPAM/UNICAMP, 1999.
FALADORI,
Guillermo. Limites do Desenvolvimento
Sustentável. Campinas/SP: Editora da Unicamp, 2001.
FREIRE, Roberto. A Farsa Ecológica. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1992.
LEFF, Henrique. Epistemologia Ambiental. São Paulo:
Cortez, 2001.
LIPIETZ, Alain. A Ecologia Política e o Futuro do Marxismo. In. Sociedade & Ambiente.
Campinas/SP: NEPAM/UNICAMP, 2003.
MARX, Karl. O
Capital: Crítica da Economia Política; Livro primeiro: O processo de produção
do capital. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1985.
MARX, Karl. Manuscritos
Econômicos e Filosóficos. São Paulo: Martin Claret, 2001.
MARIANO NETO,
Belarmino. Ecologia e Imaginário –
Memória cultural, natureza e submundialização. João Pessoa: Editora da
UFPB, 2001.
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