quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Análise: Inspiração de Marina é a ‘política de empates’ de Chico Mendes



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By Rede Sustentabilidade, 10 de outubro de 2013
Exatamente 25 anos depois do assassinato do ativista ambiental Chico Mendes, a ex-ministra Marina Silva foi buscar nos ensinamentos do seu antigo líder e inspirador os fundamentos da estratégia que adotou ao se filiar ao PSB e se aliar à candidatura presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. O movimento virou de ponta-cabeça o quadro da corrida presidencial e transformou numa grande incógnita a disputa pelo Palácio do Planalto em 2014. Só que suas bases não têm nada de secretas e foram lançadas por Chico Mendes ainda nos anos 70. Trata-se de uma adaptação para o cenário eleitoral da chamada “política dos empates”, uma estratégia largamente usada por Chico Mendes e por outro importante líder sindical do Acre Wilson Pinheiro.
A “política dos empates” foi a forma encontrada pelo grupo de Chico Mendes para impedir que madeireiros e fazendeiros do Acre praticassem desmatamento ilegal na região. Sem condições de enfrentar a força dos adversários, a estratégia era formar uma corrente humana, com as pessoas de mãos dadas, para impedir a passagem dos tratores. Dessa corrente faziam parte crianças, mulheres, idosos e os homens da comunidade. Chico e Wilson Pinheiro apostavam, com razão, que a perspectiva de uma tragédia impediria o avanço das máquinas. O impasse na situação era conhecido como “empate”. Mas, na verdade, tratava-se de uma vitória do grupo, que, apesar de sua fragilidade, impedia o desmatamento. Da tática ainda fazia parte passar a impressão para a opinião pública de que os ativistas estavam apenas se defendendo dos desmatadores, em vez de mostrar que se tratava de uma ação organizada contra adversários.
Agora, Marina bebeu dessa fonte para montar sua ação organizada. Sem conseguir legalizar a fundação do seu partido, a Rede, a ex-senadora se viu emparedada, mesmo estando em segundo lugar em todas as pesquisas de intenção de voto e depois de conseguir mais de 19 milhões de votos na eleição de 2010. Se aceitasse o convite de outra legenda para concorrer à Presidência, veria cair por terra seu discurso de pregar uma política diferente, sem arranjos de ocasião. Se não se filiasse, arremessaria pela janela um patrimônio eleitoral que dificilmente sobreviveria até a próxima votação.
Marina decidiu adotar o “empate” contra seus adversários. A situação política não lhe permitia ganhar, mas poderia proporcionar uma situação em que também não perderia. Aliada a Eduardo Campos, sem garantir sua candidatura presidencial, preserva o discurso do desprendimento em troca de um jeito novo de fazer política. Junto com o governador pernambucano, cria uma frente de dissidentes do governo petista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, garantindo algum tipo de coerência para se alinhar com o socialista. E se coloca diante da opinião pública como apenas reagindo a uma situação limite. Os tratores adversários passariam por cima de sua política. Marina montou, então, sua corrente de aliados para barrar a passagem dos adversários criando o “empate”.
A ex-senadora pode até ver adiado o sonho de chegar ao Palácio do Planalto, mas garantiu pontos importantes com a manobra. Seu grupo fica instalado dentro do PSB até conseguir as assinaturas necessárias para garantir sua criação formal. Ela também “empresta” seu cacife eleitoral para Eduardo Campos, viabilizando sua candidatura e lhe dando um fôlego que parecia impossível. O gesto lhe garante o papel de principal fiadora da campanha e o espaço que quiser no eventual governo do parceiro, caso ele se eleja. Ameaça diretamente PT e PSDB na tradicional polarização eleitoral das últimas disputas. E, se a candidatura de Campos naufragar, Marina já terá sua Rede montada para a disputa de 2018. Assim, o “empate” foi desenhado com perfeição. Resta saber que resposta o eleitor dará nas urnas para essa estratégia.
Marina já tinha usado o “empate” antes quando integrava o governo Lula. Sabendo que era impossível convencer o presidente a proibir o plantio de transgênicos no País, a então ministra do Meio Ambiente partiu para a resistência, com protestos organizados, pressão política e levantando hipótese de risco para a saúde. Não mudou a cabeça de Lula, mas a pressão serviu para barrar a aprovação do plantio, até hoje liberado a conta-gotas no Brasil. O movimento de agora da ex-senadora acabou surpreendendo governo, oposição e imprensa. Não deveria ser assim. Afinal, Marina joga pelo “empate” há quase trinta anos.

Por Marcelo de Moraes – Estado de S.Paulo

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