quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Programa de Teoria da Geografia

Universidade Estadual da Paraíba – UEPB
Centro de Humanidades (Guarabira)
Departamento de  Geografia
Coordenação de Geografia
Prof. Dr. Belarmino Mariano Neto belogeo@yahoo.com.br 

Disciplina: Teoria da Geografia
Carga horária de 60 horas aulas – Turma: 2015.1 e 2015.1 (Tarde e Noite)

Fonte da imagem: www.ediouro.com.br 

PROGRAMA DE CURSO

Ementa: Teoria e linguagens geográficas, A geografia enquanto ciência, ramos da geografia, campos de estudo, categorias geográficas, princípios geográficos, evolução do conhecimento geográfico, correntes de pensamento e teóricos, o pensamento geográfico no Brasil.

Objetivo Geral: Compreender os fundamentos teóricos e escolas de pensamento geográfico, considerando a evolução da ciência geográfica.

Objetivos Específicos: Apresentar as principais categorias e princípios geográficos; Expor as principais correntes de pensamento geográfico e suas fundamentações teóricas; Demonstrar as diferentes possibilidades metodológicas para a construção de uma pesquisa geográfica; Discutir técnicas, problemas e objetos que justifiquem a escolha de uma metodologia de pesquisa geográfica.

Metodologia: Orientação e acompanhamento de leituras, debates, seminários, aulas expositivas dialogadas; oficina experimental de projetos de pesquisa e produção de textos/artigos.
Avaliação: sistema contínuo com participação direta, presencial e produção intelectual apresentada de forma escrita ou oral, contextualizada e exposta ao debate/crítico.

Conteúdo Programático

1. A construção do Pensamento geográfico: Correntes de pensamentos, fundamentos teóricos e ideologias geográficas; Crise paradigmática do mundo moderno e perspectivas para a pesquisa geográfica; princípios e categorias geográficas.
2. A Geografia enquanto Ciência da Sociedade: Origens e pressupostos da geografia, ideologias geográficas, herança filosófica, os fundadores e as renovações do pensamento geográfico.
3. Geografia: Espaço, Tempo, Sociedade e Natureza. Os movimentos de renovação da geografia e a geografia crítica.
4. Geografia: lugar, paisagem, território, região cultura e ambiente. Princípios, correntes e ideologias da ciência geográfica contemporânea.
Bibliografia:
AMORIM, filho, O. B. Reflexões sobre as tendências teórico-metodológicas da Geografia. Belo Horizonte, ICHS, UFMG, 1978.
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz. Preconceito contra a origem geográfica de lugar – as fronteiras da discórdia. São Paulo: Cortez, 2007.
ANDRADE, Manoel Correia de. Geografia Ciência da Sociedade: uma introdução à análise do pensamento geográfico. São Paulo: Atlas, 1992.
ANDRADE, Manoel Correia de. (Org.) Élisée Reclus: Geografia. São Paulo: Ática, 1985.
ALVES, Giovanni; MARTINEZ, Vinício (Orgs.). Dialética do Ciberespaço – trabalho, tecnologia e política no capitalismo global. Bauru/SP: Editora Praxis (Document Arminda), 2002.
ASSOCIAÇÃO DOS GEOGRAFOS BRASILEIROS. Geografia, Território e Tecnologia. São Paulo: Terra Livre, nº 9, 1º semestre 1992.
ASSOCIAÇÃO DOS GEOGRAFOS BRASILEIROS. Geografia espaço & memória. São Paulo: Terra Livre, nº 10, 1º semestre 1994.
ASSOCIAÇÃO DOS GEOGRAFOS BRASILEIROS. Paradigmas da Geografia (Parte I). São Paulo: Terra Livre, nº 16, 1º semestre 2001.
ASSOCIAÇÃO DOS GEOGRAFOS BRASILEIROS. Paradigmas da Geografia (Parte II). São Paulo: Terra Livre, nº 17, 2º semestre 2001.
CARNEIRO, Sandra de Sá; SANT´ANNA, M. J. G. (Orgs.). Cidade: olhares e trajetórias. Rio de Janeiro: Garamond universitária, 2009.
CASTRO, Iná E. GOMES, Paulo C. C. e CORRÊIA, R. L. (Org.). Explorações Geográficas. São Paulo: Bertrand Brasil, 1997.
CASTRO, Iná E. GOMES.& MIRANDA, Mariana. EGLERE, Cláudio A. G. (Org.). Redescobrindo o Brasil: 500 anos depois. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
CASTRO, Iná Elias de. Geografia e política: território, escala de ação e instituições. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
CHRISTOFOLETTI, Antônio. Perspectivas da Geografia. Difel, São Paulo, 1982
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. 2 ed. São Paulo, Ática, 1987.
CORRÊA, Roberto Lobato. Trajetórias geográficas. Rio de Janeiro/RJ: Bertrand Brasil, 2005.
DANTAS, Aldo. Pierre Monbeig – um marco da geografia brasileira. Porto Alegre/RS: Editora Sulina, 2005.
DOLFUSS, Oliviar. O espaço geográfico. Difel, São Paulo, 1978.
FERNANDES, Manoel. Aula de Geografia. Campina Grande-PB: Bagagem, 2003.
FILHO, Ciro Marcondes. Sociedade Tecnológica. São Paulo: Scipione, 1994.
HARTSHORNE, Richard. Propósitos e natureza da Geografia. Hicitec, São Paulo, 1978.
KROPOTKIN, Piort. O Estado e seu papel histórico. São Paulo: Imaginário/ Nu-sol/PUC-SP, 2000.
KROPOTKIN, Piort. Teoria e Método (Seleção de Textos Por José William Vesentini). São Paulo: Boletim da AGB 13, 1986.
LACOSTE, Yves. Geografia do Subdesenvolvimento. São Paulo; Difel, 1985.
LACOSTE, Yves.A Geografia – isso serve, em primeiro lugar para fazer a guerra. São Paulo: Papirus, 1985.
LÉVY, Pierre. A inteligência Coletiva – por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Loyola, 2000.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: editora 34, 2000.
MACIEL, Caio Augusto Amorim (Org.). Entre Geografia e Geosofia – abordagens culturais do espaço. Recife/PE: Editora da UFPE, 2009.
MARIANO NETO, Belarmino. Ecologia e Imaginário: memória cultural, natureza e submundialização. João Pessoa: UFPB/Universitária, 2001.
MARIANO NETO, Belarmino. Geografia: Textos, contextos e pretextos para o planejamento ambiental. Guarabira: Gráfica São Paulo, UEPB, 2003.
MARIANO NETO, Belarmino; ARRUDA, Luciene Vieira (Orgs.). Geografia e Território – Planejamento urbano, rural e ambiental. João Pessoa: Ideia, 2010.
MARIANO NETO, Belarmino. http://observatoriodoagreste.blogspot.com – artigos, dissertações e teses, vários anos.
MORAES, Antonio Carlos Robert. Ideologias Geográficas. São Paulo: Hulcitec, 1996.
MORAES, Antonio Carlos Robert Geografia Pequena História Crítica. São Paulo: Hucitec, 1991.
MOREIRA, Emília, TARGINO, Ivan. Capítulos de Geografia Agrária da Paraíba. In ____ Os movimentos sociais no campo e as conquistas da classe trabalhadora. João Pessoa: Editora Universitária/UEPB, 1997, p. 279 – 331.
MOREIRA, Ruy. O Circulo e a Espiral: A crise paradigmática do mundo moderno. Rio de Janeiro: Obra Aberta, 1993.
MOREIRA, Ruy. O que é Geografia. São Paulo: editora brasiliense, 1985.
NOGUEIRA, Alexandre Peixoto Faria (2009), O Anarquismo como Método de Análise Geográfica: uma breve reflexão epistemológica. Disponible en http://observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal12/Teoriaymetodo/Teoricos/12.pdf
OLIVA, Jaime e GIANSANTI, Roberto. Espaço e Modernidade – temas de geografia mundial. São Paulo: Atual, 1995.
QUAINI, Massimo. A construção da geografia humana. Rio de Janeiro: Terra e paz,1992.
RYBCZYUNSKI, Witold. Vidas nas Cidades – expectativas urbanas no novo mundo. Rio de Janeiro e São Paulo: Record, 1995.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mão de Alice – o social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 2001.
SANTOS, Milton. Por uma geografia nova. São Paulo: Hucitec, 1986.
SANTOS, Milton. As Metamorfoses do Espaço Habitado. São Paulo: Hucitec, 1994.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização – do pensamento único à consciência universal. RJ/SP: Record, 2001.
SANTOS, Milton. Da totalidade ao Lugar. São Paulo: edusp, 2008.
SAQUET, Marcos Aurélio. Por uma geografia das territorialidades e das temporalidades – uma concepção multidimensional voltada para a cooperação e para o desenvolvimento territorial. São Paulo: Editora Outras Expressões, 2011.
SODRÉ, Nelson Wernack. Introdução à Geografia. Vozes, Rio de Janeiro, 1977.
TERRA BRASILIS. Geografia e Pensamento Social  Brasileiro. Rio de Janeiro: Grupo de Trabalho de História do Pensamento Geográfico no Brasil, Ano I,  nº 2, Jul/Dez. 2000.
TERRA BRASILIS. Dossiê América Latina. Rio de Janeiro: Grupo de Trabalho de História do Pensamento Geográfico no Brasil, Ano II,nº 3, 2001.
VITTE, Antonio Carlos (Org.). Contribuições à História e à Epistemologia da Geografia. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
WANDERLEY, Maria Nazaré Baudel (Org.). Globalização e desenvolvimento sustentável: dinâmicas sociais rurais no Nordeste brasileiro. São Paulo/Campinas: Editora Polis, 2004.






sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Geografia Cultural, Lunário Perpétuo e chuvas de janeiro

Por Belarmino Mariano Neto

Fonte da Imagem: www.todocoleccion.net - 550 × 413Pesquisar por imagens - LUNARIO PERPETUO DE S. CALLEJA MUY ANTIGUO 


UM DIA DE MUITA CHUVA. Hoje é dia dois de janeiro de 2015, aqui no Agreste paraibano, Nordeste brasileiro. Estamos aos pés da Serra da Borborema, uma depressão sublitorânea, com escarpas serranas que variam entre 200 a 550 metros de altitudes. Em pleno verão brasileiro. Distante em aproximadamente uns 100 quilômetros da costa litorânea atlântica, de onde esperamos os ventos alísios equatoriais e do sudeste, trazendo um pouco de umidade para essas serras do planalto da Borborema.


Fotos: Imagens da chuva em Guarabira, 02/01/2015. Belarmino Mariano.
Sou um observador das fisionomias da natureza nessa região, em especial quando se trata de tempo e de mudanças repentinas na paisagem. Estamos em prolongado período de estiagens, muita seca durante todo o ano de 2014, que já vinha de um ano de 2013, não muito chuvoso. Ao Final de dezembro tivemos um lampejos de água em Guarabira, choveu bem menos que o esperado, mas qualquer gota de água nessa época do ano nos animas, pois temos chuvas para mangas, cajás e cajus. Essas chuvas também animam os camponeses locais, pois ficam contando as chuvas em dias.


Sempre que posso converso com os agricultores e quando me deparo com os mais velhos, pergunto sobre o "Lunário Perpétuo". Por aqui só os muito velhos lembram que seus bisavós tinham um livrinho velho desses, escondido a sete chaves.
De uma coisa eu sei, restou muito pouco de alguns conhecimentos tradicionais culturas antigas lusitanas. Como diz Alceu Valença "das coisas do arco da velha". Em meus anos de pesquisa ainda não tive a oportunidade de encontrar um lunário perpétuo aqui na Região de Guarabira. Será um achado de grande valia histórica para confirmar o "paradigma indiciário" de que essa foi uma região fortemente influenciada pela cultura do além mar, de homens, bois, ovelhas e cabras. Homens que singrando esses rios do vale do Mamanguape, do vale do Curimataú e do Vale do Camaratuba, tenham implantado aqui uma cultura, cujos conhecimentos, em muito estavam escritas no lunário perpétuo.
Vale ressaltar que aqui, esse livrinho tenha que ter sido adaptado, pois os conhecimentos cósmicos e almanáquicos, contidos no lunário obrigatoriamente, eram constituídos com base na observação dos astros, do sol, da lua e dos dias das terras ibéricas. Claro que a base universal contida em suas páginas davam o rumo, apontavam o norte dos conhecimentos tradicionais, trazidos das terras de Portugal.
Segundo um velho aqui do Curimataú paraibano, conhecido por Venâncio da Costa, aos idos dos seus 84 anos de idade, dizia que seu bisavó falava que, quando chove durantes os oito primeiros dias de janeiro, terremos um bom inverno em nossa região. Faz uns dez anos que ouvi essa história ali pelas bandas da Pedra da Boca, já nos limites com o Rio Grande do Norte, nas terras de Araruna. todo inicio de janeiro ficou a escutar os rumos da natureza local.

Fotos: Imagens da chuva em Guarabira, 02/01/2015. Belarmino Mariano.
Vi nesse período de observações que, em nenhum desses anos choveu de maneira intercalada durante os oitos primeiros dias do ano. Mas esse ano, já observei que no dia primeiro caiu um lampejos de água e em especial, no dia dois, choveu bastante por aqui nas terras de Guarabira. No quintal de minha casa o dia amanheceu assim. Chuva durante toda a madrugada, já passando do meio dia e ainda continua chovendo. A gente fica querendo aquela canção de Jorge Ben Jor:  "chove chuva, chove sem parar..."



 Agora ficamos a pensar em Rachel de Queiroz e seu mais significativo romance regionalista, intitulado o 15, referindo-se a grande seca de 1915, tendo como foco o Sertão cearense, mas que se universalizou como ideia de todo os sertões nordestino e mineiro. Desde 2013 que lembro da aproximação desse  ano de 2015, como um ciclo longo ou secular nos fenômenos da natureza. meus pensamentos se desdobram na direção da grande escassez de água vivida até recentemente no Estado de São Paulo, claro que mais especificamente na Grande São Paulo. Aqui no Nordeste, vivemos um ano de 2014, com grandes perdas de rebanhos, com uma agricultural quase que completamente estagnada por quase todo o ano.
Aqui no Agreste, perdemos cultivos e rebanhos. A escassez de água só não foi maior por causas de ações emergenciais tanto do governo estadual (Ricardo Coutinho), quanto do governo federal (Dilma Rousseff).

Foto: pitangueira em fruto, 01/01/2015, Belarmino Mariano
Em minhas viagens em especial para o curimataú e para o cariri, fiquei abismado com tanta seca. Na medida em que me dirigia para Campina Grande, fiquei assustado em contar exatos 57 caminhões pipas, saindo da região do Brejo para as cidades mais secas da região, isso em uma manhã, com apenas uma hora de viagem até Campina Grande. Maior cidade da Borborema, abastecida pelo segundo maior açude paraibano o Boqueirão, que chegou a 17% da sua capacidade hídrica.
Posso dizer que o dia de hoje me enche de esperanças, me faz lembrar do Lunário Perpétuo, me encheu os olhos com essa chuva persistente, com uma saída ao meio da rua e fazendo um radial concêntrico, ver o céu cinza em todos os 360 graus da abobada celeste. Esperar que chova durante os oito primeiros dias de janeiro, me faz mostrar a segunda pitanga, em minha pequena pitangueira. Essa foi colhida no dia primeiro de janeiro, ainda espero comer mutias pitangas.

Estas observações nos chamam para um aprofundamento em estudos geográficos acerca das nossas tradições culturais em fenômenos naturais como chuvas e estiagens. Se em 1930 Rachel de Queiroz escreveu a saga da seca, fico a relembrar meu velho pai Mariano Belarmino, que aos setenta anos de idade, nos contava que na seca de 1915 ele era menino com dois anos de idade, mas, na medida em que foi crescendo, sempre ouvia dizer que seus antepassados passaram muita fome e sede, nessa época. A seca era tanta que nada conseguia ficar em pé, morria tudo, o verde só se via em cacos de vidros cintilando ao sol. Meu pai dizia que sobreviveram comendo cactos, comendo calangos, carne de jumento seca, batata de umbuzeiro, casca de pau, entre outras iguarias que apresentasse alguma seiva viva.

Fonte: http://antonionobrega.com.br/discografia/

Podemos dizer que hoje os tempos são outros, que o mundo esta conectado e se falta em uma região, teremos de outras, entre outros argumentos da globalização que faz certo sentido. Mas a água aqui pertinho da gente é uma senda de confiança em um ano mais verde para todos.
Sobre o Lunário Perpétuo muitas são as versões, muitos são os significados e queremos encontrar aqui na nossa região, algo sobre tão antigo e oculto livro de conhecimentos tradicionais. E para esses dias de janeiro, que chova ao som de  Antônio Nobrega.



Esperamos que o Nordeste brasileiro em meio as chuvas de verão, faça sua festa de Reis, faça a sua festa de São Sebastião e que até 19 de março (dia de São José) a gente possa ter chuva e fartura para as festas juninas, como nos velhos tempo. O desafio será recuperamos as nossas nascentes, as nossas matas ciliares e os renascer dos nossos olhos de água. Assim, o medo da seca de 1915, tantas décadas repetidas, não acontecerá em 2015. Deus seja louvado!


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

A Morte Como Espetáculo

  


Por Belarmino Mariano Neto

Quando ocupei o útero de gaia ainda não era homem, mas apenas sonho.
Gaia Gerou do sêmen solar a luz da vida que germina em suas entranhas fecundas.
Primeiro um pó de luz se espalhando pelos recantos e imaginários olhos de mulher,
que chora, grita, e sorrindo cria nas profundezas do ser os cristais para o novo e
desprendido movimento do nascer galáctico: o filho de uma nova idade, fluído de
uma aromática essência de mulher que chorando se corta por dentro e sangra um
avermelhado e violento momento matriarcal.
"Eu vi a morte, (...) com manto negro, rubro e amarelo.
Vi o inocente olhar, puro e perverso, e os dentes de coral da desumana.
Eu vi o estrago, o bote, o ardor cruel, os peitos fascinantes e esquisitos.
Na mão direita a cobra cascavel, e na esquerda a coral, rubi maldito.
Na fronte uma coroa e o gavião, nas espáduas as asas
deslumbrantes que ruflando nas pedras do sertão, pairavam sobre urtigas
causticantes, caule de prata, espinhos estrelados e os cachos do meu sangue
iluminado.
 (...) Mas eu enfrentarei o sol divino, o olhar sagrado em que a pantera
arde. Saberei por que a teia do destino não houve quem cortasse ou desatasse.

(...) Ela virá a mulher aflando as asas, com os dentes de cristal feitos de brasas e
há de sagrar-me a vista o gavião.
Mas sei também que só assim verei a coroa da chama e Deus meu rei assentado em seu trono do Sertão." (Ariano Suassuna, Poesia Viva, 1998, CD:14 e 15).
 Estes fragmentos de sonetos, carregados de signos, enigmas e imagens únicas
são os elementos da morte, percebidos por Ariano Suassuna. Neste imaginário, as
figuras da morte, vestida com adereços de elementos da natureza sertaneja, nos
fazem viajar pelas palavras para na morte a sublimação da carne, onde o sol é um
testemunho vivo de tal sede. Assim, símbolos da natureza semi-árida são
ressaltados como poderosos e sagrados, no ponto do divino centralizar sua força
nestas terras. Em outras partes do soneto, Suassuna ressalta a morte como um
toque inapelável do divino, maciez, vida e obscuro toque de um Deus no homem.
 
O lugar e seus elementos como o gavião, a cascavel, a coral, a vida e a morte como
figura feminina, que em suas palavras ganham um profundo significado. O destino,
outro elemento muito forte na cultura nordestina, que em sua “triste partida” pode
estar traçado, e diante da morte é preferível vagar pelas terras alheias, na espera
de um dia voltar. Pois o destino traçado em suas mãos vai além de seus poderes
terrenais.
 Morte espetacular, em todos os seus elementos de arte. A morte possui a arte de
matar. A morte mata o tempo e morrer é muito natural. Todo tempo é de morte, é
de morrer. O ato de morrer parece o fim da vida, animal ou vegetal.

Pode ser uma entidade imaginária, crânio humano sobre ossos e cinzas.
Morte agônica, súbita, neurocerebral e irreversível. A morte cósmica de uma estrela,
grande e natural morte. Morte matada não natural. Morrida, natural.
 Por doença, violenta, rápida, imprevista. Desastre, homicídio, suicídio.
Chorada, cantada, lastimada, irremediável.

A morte de um amor ou de um rancor. Cores incolores pouco vivas, pálidas,
mortas, brancas, pretas almas. Um espetáculo. Milhares de pessoas todos os dias e noites.
A cor incolor da morte tecida em luz e trevas, ausenta e apresenta-se sai dos esconderijos e em seu
clandestino silêncio, representa a contemplação nua dos deuses com seus toques
mágicos de mulheres em seda, morim e cetim. Tintas e cores tecidas no
multicolorido matar incolor. Um espetáculo aos vivos. Bandeiras sobre os caixões,
fogo das paixões cremam em lágrimas, enquanto as flores murcham e as moscas
acompanham o cortejo fúnebre.


Era um anjinho, menos de um ano. Cedo de mais para seus oitenta e cinco anos de
vida lúcida e pública. Apenas um ano e o câncer se espalhou por toda sua vida
acumulada em rugas.
Um espetáculo de cores que para o trânsito e muda o sentido das conversas. Breve,
curto, longo sentir. Apenas um tremor de terra, quase tudo pelos ares. Via satélite,
aos vivos. Um espetáculo de imagens em escombros. Quase tudo fora do lugar. Um
resgate pelo cochilo da morte. É o que é da morte em todos os lugares, um
complemento ao ponto final. Um espetacular cálculo estatístico que preocupa os
órgãos de saúde.
As covas são valas rasas e pequenas para os milhares de mortos infantis por
desnutrição transcontinental. Um espetáculo, assistido em propagandas de
iogurtes, promoções de supermercados ou recordes de produção nas safras de
grãos.
Um espetáculo em imagens para a hora do almoço e do jantar. Uma morte que fica
bonita e ganha vida própria. Colorido, trilha sonora, visitas ilustres e cenas de
choro e lenços. Populares e ilustres tecem curtos trechos de filosofia vã
(vida/morte, ser/existir, desistir). A tristeza se reveste de pompa, os óculos pretos
e modernos contrastam com as faces rubras de peles bem tratadas.

A morte ganha todas as cenas, gera audiência, redimensiona a memória/imagem
de passados que já estavam mortos. Os filtros das câmaras criam um ar
acinzentado e mórbido. Flores quase mortas avivam os entornos do espetáculo
mortal. Uma princesa, um velocista, um bandido, um índio Galdino, um mega star,
um caminhão de sem terras no click de Sebastião Salgado ou mesmo um simples
popular do corpo de bombeiros, que arriscava a vida para salvar vidas. Todos filhos
da morte.
Tons e sons de morte sobrevoam o local do cortejo. É uma pessoa ilustre, um chefe
de Estado, era integro honesto e bravo. Álbuns de família são focados pela
panorâmica das câmaras. Uma desatinada busca e alucinada espera. Cortante e
bruto alimento do pensar, desconstrução de destruição na construção de uma
miragem. Filhos do estupro ou abortados pelo medo, homens. Violação patriarcal
do divino, violência matriarcal em estar vivo. Morte calada que rebusca nas cinzas a
poeira cósmica da noite, que escondo o sono e que não permite a embriagues dos
sonhos.

Um espetáculo mortal, monumental. Milhares foram soterrados pela truculência da
natureza, em um simples tremor de terras. Cenas mundiais repetidas mais de uma
vez pelos diversos canais, via satélite, aos vivos.
A tragédia é africana e européia. Combina morte/ rivalidade, alimento/ fome. Um
espetáculo mortal e louco de vacas inocentemente sacrificadas aos milhares.
Tragédia euroafricana de vacas e homens. Quantas vidas para cada morte. Uma
morte, uma vida.

Uma cena espetacular que desencadeia todos os pensamentos
que a lucidez consegue roubar da mente em uma loucura. Um viajar imaginário do
ser e penetrar da seda fina do subatômico do momento do sábio nadar e no
demasiado sendeiro do escuro da luz nada encontrar. É grande a noite se resumida
a uma madrugada da morte. Parece uma nevasca eterna. São tantos os espaços da
morte que até o vazio se desespera.

É um espetáculo a certeza da morte. Como garrafas de vinho vazias representa os
devaneios humanos, a morte das uvas e o nascimento dos sonhos que embebidos
pelo doce/amargo, seco/suave traz na sua idade o sabor de uma vida presa,
enfrascadora de energias que em estado líquido, tinto, branco ou rose, pode
derramar-se sobre o corpo, a alma, a calma e a alegria. Por libertar-se, ser vinho,
rio correndo pelo pensar e passar dos que se tornam vinhos em suas fantasias
fermentadas. Te vê do alto com um voar de homem-pássaro, tua contradição
dilacera todos os sentidos de um apocalíptico alfa do gradativo vitral nadesco a se
apagar. Sem luz perdi de ver o brilho dos teus olhos, perdi de ver de vez o que
talvez não veja jamais.

Fonte do texto:
Extraído na integra - http://www.cchla.ufpb.br/caos/numero4/04marianoneto.pdf.

Fontes das Imagens
https://www.google.com.br/search?q=imagens+da+morte+e+mitos&espv=2&biw=1280&bih=656&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=96qPVJntKs6uogSP-IKICg&ved=0CBwQsAQ

publicado por olharesgeograficos às 02:52

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Tapajós Livre!!!



Ativistas do Greenpeace e índios Munduruku usam pedras para formar a frase "Tapajós Livre" nas areias de uma praia às margens do rio de mesmo nome, próximo ao município de Itaituba, no Pará. O protesto, que contou com a participação de cerca de 60 Munduruku, ocorreu na região onde o governo pretende construir a primeira de uma série de cinco hidrelétricas na bacia do Tapajós. “O Brasil insiste em seu plano de barrar os grandes rios da Amazônia, ignorando os alertas do clima e negando o direito de consulta prévia, livre e informada aos povos tradicionais da região, que terão seu modo de vida afetado de forma irreversível por essas obras", disse Danicley de Aguiar, da campanha Amazônia do Greenpeace.http://migre.me/n8opz

Fonte: https://www.facebook.com/GreenpeaceBrasil/photos/a.174182977542.122535.159103797542/10152492609562543/?type=1&theater

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

LUGAR SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Comunidades: Caboclo e Pedra Grande - Guarabira – PB

Maria Das Graças Silva
Autora: Maria das Graças da Silva
Estudante do Curso de Especialização em Geografia
UEPB/CH/DGH
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE GEOHISTÓRIA
E-mail: gracagbapb@hotmail.com

A reflexão que fazemos sobre o lugar onde vivemos, nos direciona para a importância do
conhecimento e das práticas que revelam modos de pensar e sentir conexo aos modos de
utilização dos recursos essenciais á vida. Os saberes e os diversos elementos que se interagem
num determinado espaço precisam ser reconhecidos numa perspectiva de realidade que se
ajustem as diversidades constituídas naquele pequeno universo. A interação e a convivência
individual e coletiva dos que formam um núcleo comunitário produzem os saberes que dão estilo
aos modos de relação com o lugar em que vivemos.
Desde as mais remotas civilizações a humanidade precisa se organizar em grupos sociais,
é nessa forma de viver em sociedade que os contatos, as expressões, os sentimentos e as
experiências são estimulados. “O conhecimento não é um espelho das coisas ou do mundo
externo. Todas as percepções são, ao mesmo tempo, traduções e reconstruções cerebrais com
base em estímulos ou sinais codificados pelos sentidos.” (MORIM, 2003). 

ARTIGO NA INTEGRA: file:///C:/Users/Pc/Downloads/download(1556)%20(1).PDF

Fonte:http://www.geografia.fflch.usp.br/inferior/laboratorios/agraria/Anais%20XIXENGA/artigos/Mariano_EGC.pdf.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

"Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!


fonte da foto: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=795053950537055&set=a.137799092929214.14883.100000973724896&type=1&theater


"Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!


autor: José Barbosa Júnior Climatologia Geográfica

Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?
Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?
Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?
Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos… pasmem… PAULISTAS!!!
E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.
Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.
Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura…
Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner… Ah, a Baiana Pitty também, ou esqueceram?
E Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melofias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia…
Ah! Nordestinos…
Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?
Calem a boca, nordestinos!
Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.
Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.
Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!” 


autor: José Barbosa Júnior Climatologia Geográfica

Fonte do texto: https://www.facebook.com/ClimatologiaGeografica 

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Opinião sobre o Segundo Turno



OPINIÃO:
Nessa nova conjuntura de 2º Turno, tanto a argola da rede nacional, quanto algumas lideranças do psb, cometeram um erro histórico ao declarem apoio a um representante nato da direita brasileira, das elites nacionais e defensores fieis do neoliberalismo, com apologia ao estado mínimo e as privatizações. Não me sinto representado por essa minoria de porta-vozes da rede e criticamente voto em ‪#‎Dilma13‬. Se essas lideranças estão interessadas no "aécio" para conseguirem um carguinho em algum ministério, que fiquem com ele, mas não contem com o nosso voto.
Erro estratégico, erro ideológico, erro metodológico. A questão não é de Tirar Dilma para botar Aécio, em troca da inclusão de uma proposta no governo. Esses caras do PSDB não cumprem acordos, em especial aqueles que ferem os princípios neoliberais e elitistas desses caras. O PSDB em São Paulo, desce o cacete em professores, em moradores de ruas em movimentos sociais legítimos.
Em Minas o tal Aécio humilha professores e ainda escarra em nossas caras que não precisa de voto de professores para ganhar eleições. Aqui na Paraíba compraram voto com força, em todo Brasil foi assim, por isso Marina não foi ao segundo turno.
Esse erro de opção para o segundo turno enterrou Marina Politicamente e enterrará todos os seguem essa via de afagar a direita reacionária e elitista. Marina tomou uma decisão emocional, e com ela enterrou o projeto de rede sustentabilidade, perdeu a liderança política e manchou sua história para sempre, pois mesmo com todo o apoio da Rede Globo e da Veja, essa direita vai levar mais uma lapada no segundo turno. Prefiro o voto crítico da #Dilma13 do que me rebaixar aos ditames dessa direita sebosa, que tente enganar os brasileiros. 
Falo por experiencia própria, pois já morei no Vale do Aço em Minas Gerais. Essa direita neoliberal vendeu um dos maiores patrimônios brasileiros: a Vale do Rio Doce, a CSN e Usiminas. Estas três siderúrgicas representavam o maior patrimônio industrial do Brasil na área e agora esta nas mãos de empresas estrangeiras. Só isso já é suficiente para negar o retorno dos tucanos ao poder central do Brasil. 

O Lixo nosso de cada dia

Por Belarmino Mariano Vendo os dados do Portal Desenvolvendo Negócios, podemos observar que as dez maiores empresas de coleta de...