Açudes Coremas-Mãe D´água - Sertão Paraibano, imagem de MARIANO NETO, 2010.
Mestre em Meio Ambiente e
Doutor em
Sociologia com enfoque ambientalista.
Universidade estadual da
Paraíba
Centro de Humanidades
INTRODUÇÃO
Este artigo se coloca enquanto uma analise crítica
acerca dos encontros e desencontros internacionais sobre meio ambiente, típicos
Rio-92 e Rio+20 entre outros. Em 1992, o Anarquista pernambucano Roberto Freire
fez uma dura crítica ao modo de produção capitalista dizendo que se tratava de
uma Farsa ecológica o que aconteceu no Rio-92, pois se discursava sobre a ideia
de desenvolvimento sustentável. No fundo a ideia aparente que prevaleceu a
partir do Rio-92, com a Agenda 21, parecia uma tentativa internacional em
barrar as agressões que o sistema capitalista efetuava contra o patrimônio
natural e contra as pessoas, que em grande parte do planeta viviam e ainda
vivem abaixo da linha da pobreza.
O Rio+20 é uma versão muito piorada o que ocorreu
em 1992 na Cúpula do Rio de Janeiro articulada pelas Nações Unidas (ONU) para o
meio ambiente e para a sociedade. Mas na verdade, foram encobertas as intenções
que esse sistema em sua fase de crise aguda reserva para o resto de natureza e
humanidade. O modo de produção capitalista não se sustenta ecologicamente e
agoniza crises sem precedentes em sua curta história de pouco mais que
quinhentos anos. Seguir esse sistema é apostar na destruição socioambiental
presente e futura.
Quando falamos de 40 anos de encontros ambientais
estamos resgatando, a ideia de tomada de consciência ambiental planetária que
culminou com movimentos pacifistas e ambientalistas, culminando com
Estocolmo-Suécia (1972); várias ações da ONU para nosso futuro em comum (década
de 1980); Rio 92 e Parafraseando Freire (1992) a farsa ecológica se repetiu no
rio+20. Venceu a tese dos capitalistas degradadores e os representantes de
governos e de Estados, advogou em defesa dessa tese antiecológica, inclusive o
governo brasileiro, pois sabendo desse encontro, tratou de permitir que o novo
código florestal entrasse em pauta no Congresso Nacional, para regularizar os
crimes ambientais passados e recentes.
A humanidade ficou ambientalmente mais pobre em
2012 e não lhes resta mais quase nada de esperança no que tange as questões
socioambientais presentes e futuras. A rio+20 enterrou em grande parte os
passos dados a 20 ou 30 anos de preocupações com o meio ambiente. De fato os
movimentos sociais não foram ouvidos, não conseguiram incluir nesse novo
documento, as verdadeiras preocupações em relação às crises socioambientais
existentes hoje e que se agravarão nesses 20 anos que seguem.
Este ainda é o nosso saldo: agressões ao meio
ambiente - poluição atmosférica, poluição dos mares, poluição dos rios,
poluição dos alimentos, desmatamento, extinção de espécies da fauna e da flora
são quase todas permitidas pelos estados modernos e praticadas direta ou
indiretamente por empresas capitalistas, que obedecendo às normas do mercado,
buscam o maior lucro, custe o que custar para a natureza e para os seres
humanos. No que afirmam a ecologia política “a relação humanidade-natureza e,
ainda mais precisamente, as relações entre as pessoas que se aplicam à
natureza, ou o que os marxistas chamam de forças produtivas” (LEPIETZ, 2003,
p.9-10).
O que destaco nesse arranjo teórico é uma nítida
aproximação estabelecida entre o pensamento marxista de critica ao modo de
produção e exploração capitalista e que a ecologia política incorpora um novo
discurso crítico que inclui agora as questões de ordem socioambiental.
Os diferentes estágios da humanidade são os
diferenciais sociais em diferentes espaços. A produção do espaço geográfico é
extremamente contraditória e afronta diretamente a natureza em todos os
sentidos. “A noção de que o homem deve
dominar a natureza vem diretamente da dominação do homem pelo homem” (BOOKCHIN,
1992, p.17).
Para Mariano Neto (2001,
p.62), esta sociedade baseada no produzir por produzir, no lucrar em detrimento
da natureza e do humano é vista como mercadoria de uns poucos, o reino natural
é uma mera manufatura para o desenfreado mundo comercial e da concorrência.
Essa sociedade gerou a globalização que de fato é uma submundialização, pois os
impactos sobre as condições socioambientais estão levando a humanidade para
atrasos sem precedentes na história.
a questão da pobreza humana no ambiente e mais
particularmente sua estrutura social, com mudanças recentes em nível de padrão
técnico e as condições de vida, trabalho, moradia na periferia das cidades
marcam um ambiente de profundas contradições. Estes argumentos estão todos
focados pela ecologia política, pois quando se pensa tanto em termos de uma
ecologia cultural, quanto em termos de uma economia política, depara-se com as
contradições estabelecidas ao longo do histórico e contraditório sistema
capitalista.
Na contramão da rio+20
capitalista, a sociedade precisa reagir de maneira organizada. Nesse sentido,
anarquistas e comunistas, mulheres, negros, índios, jovens, religiosos,
universitários, partidos políticos de matriz ecológica e anticapitalista, ONG´s
sérias, entre outros, precisam focar na defesa de uma sociedade ecológica como
afirma Bookchin (1992).
Existe
um novo discurso expresso em uma metanarrativa do mundo, da sociedade e do
ambiente em que o meio ambiente e a sociedade começam a ser entendidos a partir
de categorias concretas da história.
Nesse sentido, novos arranjos e desenhos
da existência humana se expressam nas concrectudes do mundo. Autores como
Faladori (2001), que trata a questão da sustentabilidade a partir dos limites
do desenvolvimento e das crises ambientais do presente; Duarte (1986), que faz
uma leitura de Karl Marx em relação à natureza em O Capital; Lipietz (2003), que estabelece um paralelo entre a
ecologia política e o futuro do marxismo; Boeira (2002), por considerar a
ecologia política enquanto um campo transdisciplinar; Alimonda (2001), que
apresenta vários apontamentos sobre a ecologia política na América Latina de
tradição marxista; Bookchin (2003), que apresenta uma preocupação básica em
relação a ecologia social; Santos (2001), por fazer uma profunda crítica ao
atual modo de vida capitalista e ao processo de globalização.
Com
certeza, todos estes pensadores são críticos desse modelo cupular de encontro
para tratar de um tema que interessa a toda a humanidade e concordam com uma
coisa, não existem milagres, nem salvação do meio ambiente e da humanidade
nesse sistema de perversidade contra o patrimônio natural e contra a
humanidade. A ecologia política e o materialismo estão teoricamente preocupados
em compreender a realidade social em dinâmicas materializadas, mas em se
tratando de natureza a máxima vale também, pois o homem é primeiramente
natureza (BURKETT, 1999, apud: FALADORI,
2001, p. 135).
É importante dizer que a
sociedade capitalista levou ao extremo as contradições historicamente
estabelecidas na relação sociedade e natureza, tanto em relação à
proporcionalidade material (quantitativa e qualitativa) necessária para
reprodução da sociedade, quanto na ideia de valores e acumulação capitalista
que podem ser identificadas como responsáveis por profundas transformações
sócio-espaciais refletidas enquanto crises ecológicas do presente.
A
sociedade envolvida e as dinâmicas do meio ambiente que hoje são representadas
por profundas alterações socioambientais, demonstram uma nítida combinação de
atividades em situações conflitantes. No atual estágio de desenvolvimento
científico, tecnológico e informacional, os problemas de ordem
ecológica, econômica e social apontam para
desequilíbrios naturais e conflitos sociais nunca vistos pela humanidade.
Para tanto é preciso uma
profunda compreensão da história socioeconômica política, cultural e técnica
estabelecidas, levando em conta os processos de apropriação da natureza em seus
diferentes estágios e níveis. Esta é a principal preocupação do que considero
enquanto ecologia política, pois entendo que os ecossistemas naturais, sistemas
agrícolas e sistemas urbanos são focos de diferentes estudos. Nesse sentido
existe uma convergência epistemológica das ciências sociais e naturais que
aponta na direção das questões ambientais, não apenas enquanto campo da
biologia, ecologia ou geografia. Pois “o
ambiente não é a ecologia, mas a complexidade do mundo” (LEFF, 2001,
p.139).
É muito importante resgatar o
pensamento de (BOFF, 1995, p. 06), pois para ele “A Ecologia não trata
apenas das questões ligadas ao verde ou às espécies em extinção. A Ecologia
significa um novo paradigma, quer dizer, uma nova forma de organizar o conjunto
de relações dos seres humanos entre si, com a natureza e com o seu sentido
neste universo”.
Mesmo com a rio+20
fracassada, não podemos cruzar os braços diante desse modelo socioeconômico
degradador. Temos sim que apostar em uma sociedade ecológica e isso passa
obrigatoriamente pela transformação desse modo consumista e degradador da
natureza e da humanidade.
Guarabira, 05 de junho de
2013.
Referências
ALIMONDA, Hector. Uma
herencia em Comala (Apuntes sobre Ecologia Política Latinoamericana y la
tradición marxista). In. Ambiente & sociedade. Campinas/SP:
NEPAM/UNICAMP, 2001.
BOFF, Leonardo. ECOLOGIA Grito da Terra, Grito dos Pobres. São Paulo: Ática, 1995
BOOKCHIN, Murray. Por uma
Ecologia Social. Rio de Janeiro: Utopia, nº 4, 1992.
BOEIRA,
Sérgio Luís. Ecologia Política:
Guerreiro Ramos e Fritjof Capra. In. Ambiente e Sociedade. Campinas/SP:
NEPAM/UNICAMP, 2002.
BURKETT, Paul. Marx and Nature. A red and green
perspective. In: FALADORI,
Guillermo. Ambiente & Sociedade. Campinas/SP: NEPAM/UNICAMP, 2001.
DUARTE, Rodrigo A. de Paiva. Marx
e a Natureza em O Capital. São Paulo, Edições Loyola, 1986.
FALADORI,
Guillermo. Sustentabilidad Ambiental y
Contradiccines Sociales. In. Ambiente & Socieade. Campinas/SP: NEPAM/UNICAMP,
1999.
FALADORI, Guillermo. Limites
do Desenvolvimento Sustentável. Campinas/SP: Editora da Unicamp, 2001.
FREIRE,
Roberto. A Farsa Ecológica. Rio de
Janeiro: Editora Guanabara, 1992.
LEFF, Henrique. Epistemologia Ambiental. São Paulo: Cortez, 2001.
LIPIETZ,
Alain. A Ecologia Política e o Futuro do
Marxismo. In. Sociedade & Ambiente. Campinas/SP: NEPAM/UNICAMP, 2003.
MARX,
Karl. O Capital: Crítica da Economia Política; Livro primeiro: O processo de
produção do capital. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1985.
MARX, Karl.
Manuscritos Econômicos e Filosóficos.
São Paulo: Martin Claret, 2001.
MARIANO
NETO, Belarmino. Ecologia e Imaginário –
Memória cultural, natureza e submundialização. João Pessoa: Editora da
UFPB, 2001.
Nenhum comentário:
Postar um comentário