quarta-feira, 5 de junho de 2013

MEIO AMBIENTE E ECOLOGIA POLÍTICA: 40 anos de (des)encontros ambientais em um capitalismo predatório.


Açudes Coremas-Mãe D´água - Sertão Paraibano, imagem de MARIANO NETO, 2010.


Por: Belarmino Mariano Neto (belogeo@yahoo.com.br)
Mestre em Meio Ambiente e Doutor em
Sociologia com enfoque ambientalista.
Universidade estadual da Paraíba
Centro de Humanidades


INTRODUÇÃO

Este artigo se coloca enquanto uma analise crítica acerca dos encontros e desencontros internacionais sobre meio ambiente, típicos Rio-92 e Rio+20 entre outros. Em 1992, o Anarquista pernambucano Roberto Freire fez uma dura crítica ao modo de produção capitalista dizendo que se tratava de uma Farsa ecológica o que aconteceu no Rio-92, pois se discursava sobre a ideia de desenvolvimento sustentável. No fundo a ideia aparente que prevaleceu a partir do Rio-92, com a Agenda 21, parecia uma tentativa internacional em barrar as agressões que o sistema capitalista efetuava contra o patrimônio natural e contra as pessoas, que em grande parte do planeta viviam e ainda vivem abaixo da linha da pobreza.

O Rio+20 é uma versão muito piorada o que ocorreu em 1992 na Cúpula do Rio de Janeiro articulada pelas Nações Unidas (ONU) para o meio ambiente e para a sociedade. Mas na verdade, foram encobertas as intenções que esse sistema em sua fase de crise aguda reserva para o resto de natureza e humanidade. O modo de produção capitalista não se sustenta ecologicamente e agoniza crises sem precedentes em sua curta história de pouco mais que quinhentos anos. Seguir esse sistema é apostar na destruição socioambiental presente e futura.

Quando falamos de 40 anos de encontros ambientais estamos resgatando, a ideia de tomada de consciência ambiental planetária que culminou com movimentos pacifistas e ambientalistas, culminando com Estocolmo-Suécia (1972); várias ações da ONU para nosso futuro em comum (década de 1980); Rio 92 e Parafraseando Freire (1992) a farsa ecológica se repetiu no rio+20. Venceu a tese dos capitalistas degradadores e os representantes de governos e de Estados, advogou em defesa dessa tese antiecológica, inclusive o governo brasileiro, pois sabendo desse encontro, tratou de permitir que o novo código florestal entrasse em pauta no Congresso Nacional, para regularizar os crimes ambientais passados e recentes.

A humanidade ficou ambientalmente mais pobre em 2012 e não lhes resta mais quase nada de esperança no que tange as questões socioambientais presentes e futuras. A rio+20 enterrou em grande parte os passos dados a 20 ou 30 anos de preocupações com o meio ambiente. De fato os movimentos sociais não foram ouvidos, não conseguiram incluir nesse novo documento, as verdadeiras preocupações em relação às crises socioambientais existentes hoje e que se agravarão nesses 20 anos que seguem.

Este ainda é o nosso saldo: agressões ao meio ambiente - poluição atmosférica, poluição dos mares, poluição dos rios, poluição dos alimentos, desmatamento, extinção de espécies da fauna e da flora são quase todas permitidas pelos estados modernos e praticadas direta ou indiretamente por empresas capitalistas, que obedecendo às normas do mercado, buscam o maior lucro, custe o que custar para a natureza e para os seres humanos. No que afirmam a ecologia política “a relação humanidade-natureza e, ainda mais precisamente, as relações entre as pessoas que se aplicam à natureza, ou o que os marxistas chamam de forças produtivas” (LEPIETZ, 2003, p.9-10).

O que destaco nesse arranjo teórico é uma nítida aproximação estabelecida entre o pensamento marxista de critica ao modo de produção e exploração capitalista e que a ecologia política incorpora um novo discurso crítico que inclui agora as questões de ordem socioambiental.
Os diferentes estágios da humanidade são os diferenciais sociais em diferentes espaços. A produção do espaço geográfico é extremamente contraditória e afronta diretamente a natureza em todos os sentidos. “A noção de que o homem deve dominar a natureza vem diretamente da dominação do homem pelo homem” (BOOKCHIN, 1992, p.17).

Para Mariano Neto (2001, p.62), esta sociedade baseada no produzir por produzir, no lucrar em detrimento da natureza e do humano é vista como mercadoria de uns poucos, o reino natural é uma mera manufatura para o desenfreado mundo comercial e da concorrência. Essa sociedade gerou a globalização que de fato é uma submundialização, pois os impactos sobre as condições socioambientais estão levando a humanidade para atrasos sem precedentes na história.

a questão da pobreza humana no ambiente e mais particularmente sua estrutura social, com mudanças recentes em nível de padrão técnico e as condições de vida, trabalho, moradia na periferia das cidades marcam um ambiente de profundas contradições. Estes argumentos estão todos focados pela ecologia política, pois quando se pensa tanto em termos de uma ecologia cultural, quanto em termos de uma economia política, depara-se com as contradições estabelecidas ao longo do histórico e contraditório sistema capitalista.

Na contramão da rio+20 capitalista, a sociedade precisa reagir de maneira organizada. Nesse sentido, anarquistas e comunistas, mulheres, negros, índios, jovens, religiosos, universitários, partidos políticos de matriz ecológica e anticapitalista, ONG´s sérias, entre outros, precisam focar na defesa de uma sociedade ecológica como afirma Bookchin (1992).
Existe um novo discurso expresso em uma metanarrativa do mundo, da sociedade e do ambiente em que o meio ambiente e a sociedade começam a ser entendidos a partir de categorias concretas da história. 

Nesse sentido, novos arranjos e desenhos da existência humana se expressam nas concrectudes do mundo. Autores como Faladori (2001), que trata a questão da sustentabilidade a partir dos limites do desenvolvimento e das crises ambientais do presente; Duarte (1986), que faz uma leitura de Karl Marx em relação à natureza em O Capital; Lipietz (2003), que estabelece um paralelo entre a ecologia política e o futuro do marxismo; Boeira (2002), por considerar a ecologia política enquanto um campo transdisciplinar; Alimonda (2001), que apresenta vários apontamentos sobre a ecologia política na América Latina de tradição marxista; Bookchin (2003), que apresenta uma preocupação básica em relação a ecologia social; Santos (2001), por fazer uma profunda crítica ao atual modo de vida capitalista e ao processo de globalização.

Com certeza, todos estes pensadores são críticos desse modelo cupular de encontro para tratar de um tema que interessa a toda a humanidade e concordam com uma coisa, não existem milagres, nem salvação do meio ambiente e da humanidade nesse sistema de perversidade contra o patrimônio natural e contra a humanidade. A ecologia política e o materialismo estão teoricamente preocupados em compreender a realidade social em dinâmicas materializadas, mas em se tratando de natureza a máxima vale também, pois o homem é primeiramente natureza  (BURKETT, 1999, apud: FALADORI, 2001, p. 135).

É importante dizer que a sociedade capitalista levou ao extremo as contradições historicamente estabelecidas na relação sociedade e natureza, tanto em relação à proporcionalidade material (quantitativa e qualitativa) necessária para reprodução da sociedade, quanto na ideia de valores e acumulação capitalista que podem ser identificadas como responsáveis por profundas transformações sócio-espaciais refletidas enquanto crises ecológicas do presente.

A sociedade envolvida e as dinâmicas do meio ambiente que hoje são representadas por profundas alterações socioambientais, demonstram uma nítida combinação de atividades em situações conflitantes. No atual estágio de desenvolvimento científico, tecnológico e informacional, os problemas de ordem ecológica, econômica e social apontam para desequilíbrios naturais e conflitos sociais nunca vistos pela humanidade.

Para tanto é preciso uma profunda compreensão da história socioeconômica política, cultural e técnica estabelecidas, levando em conta os processos de apropriação da natureza em seus diferentes estágios e níveis. Esta é a principal preocupação do que considero enquanto ecologia política, pois entendo que os ecossistemas naturais, sistemas agrícolas e sistemas urbanos são focos de diferentes estudos. Nesse sentido existe uma convergência epistemológica das ciências sociais e naturais que aponta na direção das questões ambientais, não apenas enquanto campo da biologia, ecologia ou geografia. Pois “o ambiente não é a ecologia, mas a complexidade do mundo” (LEFF, 2001, p.139).

É muito importante resgatar o pensamento de (BOFF, 1995, p. 06), pois para ele “A Ecologia não trata apenas das questões ligadas ao verde ou às espécies em extinção. A Ecologia significa um novo paradigma, quer dizer, uma nova forma de organizar o conjunto de relações dos seres humanos entre si, com a natureza e com o seu sentido neste universo”.
Mesmo com a rio+20 fracassada, não podemos cruzar os braços diante desse modelo socioeconômico degradador. Temos sim que apostar em uma sociedade ecológica e isso passa obrigatoriamente pela transformação desse modo consumista e degradador da natureza e da humanidade.
Guarabira, 05 de junho de 2013.

Referências
ALIMONDA, Hector. Uma herencia em Comala (Apuntes sobre Ecologia Política Latinoamericana y la tradición marxista). In. Ambiente & sociedade. Campinas/SP: NEPAM/UNICAMP, 2001.
BOFF, Leonardo. ECOLOGIA Grito da Terra, Grito dos Pobres. São Paulo: Ática, 1995
BOOKCHIN, Murray. Por uma Ecologia Social. Rio de Janeiro: Utopia, nº 4, 1992.
BOEIRA, Sérgio Luís. Ecologia Política: Guerreiro Ramos e Fritjof Capra. In. Ambiente e Sociedade. Campinas/SP: NEPAM/UNICAMP, 2002.
BURKETT, Paul. Marx and Nature. A red and green perspective. In: FALADORI, Guillermo. Ambiente & Sociedade. Campinas/SP: NEPAM/UNICAMP, 2001.
DUARTE, Rodrigo A. de Paiva. Marx e a Natureza em O Capital. São Paulo, Edições Loyola, 1986.
FALADORI, Guillermo. Sustentabilidad Ambiental y Contradiccines Sociales. In. Ambiente & Socieade. Campinas/SP: NEPAM/UNICAMP, 1999.
FALADORI, Guillermo. Limites do Desenvolvimento Sustentável. Campinas/SP: Editora da Unicamp, 2001.
FREIRE, Roberto. A Farsa Ecológica. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1992.
LEFF, Henrique. Epistemologia Ambiental. São Paulo: Cortez, 2001.
LIPIETZ, Alain. A Ecologia Política e o Futuro do Marxismo. In. Sociedade & Ambiente. Campinas/SP: NEPAM/UNICAMP, 2003.
MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política; Livro primeiro: O processo de produção do capital. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1985.
MARX, Karl. Manuscritos Econômicos e Filosóficos. São Paulo: Martin Claret, 2001.

MARIANO NETO, Belarmino. Ecologia e Imaginário – Memória cultural, natureza e submundialização. João Pessoa: Editora da UFPB, 2001.

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