Fonte: http://www.hypeness.com.br/wp-content/uploads/2013/08/katerinaplotnikova05.jpg
Por: Belarmino Mariano Neto
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Sabemos
que o dia 8 de março marca a luta e luto contra a violência as mulheres em
todo o mundo. Daí começar esse artigo com o trecho de um poema escrito no
Manifesto caleidoscópio da paixão poética pelo nada (http://essencialimo.blogs.sapo.pt) .Assim segue a ideia de mulher, sociedade e
natureza enquanto marcas das ações humanas no espaço:
Quando
ocupei o útero de Gaya ainda não era
homem, mas apenas sonho. Gaya gerou
do sêmen solar a luz da vida que germina em suas entranhas fecundas. Primeiro
um pó de luz se espalhando pelos recantos e imaginários olhos de mulher, que
chora, grita, e sorrindo cria nas profundezas do ser os cristais para o novo e
despreendido movimento do nascer galáctico: o filho de uma nova idade, fluído
de uma aromática essência de mulher que chorando se corta por dentro e sangra
um avermelhado e violento momento matriarcal (MARIANO NETO, 1996:07).
Esse
trabalho é apenas um ensaio que se coloca enquanto brecha e linha temática para
que estudos mais aprofundados aconteçam, as ciências humanas e sociais precisam refletir sobre o papel da mulher enquanto
existência de resignificado papel e desenho da cartografia social.
Ninguém
nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico
define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da
civilização que elabora este produto intermediário entre o macho e o castrado
que qualificam de feminino. (Simone de Beauvoir, ‘O segundo sexo’, 1949).
Quando propomos relacionar a mulher com natureza, não é com a intenção de
encontrarmos a “natureza feminina”, ideia de que a mulher possa estar mais
próxima da natureza como se expressam em seu próprio corpo, “os ciclos
naturais”, como se estes elementos fossem responsáveis pelo destino das
mulheres.
Muito
mais que isso, a mulher é essa natureza humana em seu desenho civilizatório, o
princípio básico do trabalho cotidiano, as imposições sócio-econômicas, éticas
ou morais e a quebra dessas amarras por um movimento historicamente sedimentado
na luta pelo destino em suas mãos e as feituras cotidianas de espaços e
paisagens que marcam os significados do trabalho da mulher.
Tomando como base a sociedade ocidental, temos que os
distanciamentos humanos da natureza a partir do trabalho criaram uma espécie de
dicotomia, onde as diferentes sociedades que tomaram como base a acumulação ou
pilhagem dos elementos naturais, afastarem-se da possibilidade de harmonia
entre seres humanos e meio ambiente natural.
Mesmo sabendo que toda e qualquer coisa existente em
nosso seio social, de forma material ou imaterial é em si natureza trabalhada.
Assim é a construção do meio ambiente humano, enquanto natureza social, ou
espaço artificial, e que muito nos interessa, pois nele, toda a cultura
produzida com os elementos vivos que foram historicamente sendo manipulados
pelos braços femininos (agricultura, domesticação, ervas, sementes, jardins,
alquimia dos alimentos), poder que na Antiguidade sagraram a mulher como
divindade, ou que no medievo concederam como bruxaria. Trabalho social,
sexualmente bem definido que lhes dar o poder de manipular com a natureza,
experimentos empíricos que tornaram as mulheres equilibradas de razão e emoção,
mas reprimidas ou controladas pela força, encobrindo por milênios a fio, quem é
que realmente mantém uma sociedade em pé e constrói uma civilização de “homens
fortes”.
A mulher na construção desse cotidiano social vai
contribuindo sobremaneira para na interface sociedade/natureza, pintar um
quadro que muito se expressa nas grandes obras das civilizações. Com seu
sorriso misterioso a mulher vai se construindo enquanto bruxa, fada ou feiticeira,
enquanto filha do estupro ou aborto do medo, violação patriarcal do divino.
O homem aí
diz que as mulheres precisam ser ajudadas para subir nas carruagens e
carregadas para atravessar regos, a para ter o melhor lugar em todos os cantos.
Ninguém nunca me ajudou para subir em carruagens ou passar por cima de
lamaçais, para me ceder o melhor lugar - e não sou eu uma mulher? Olhai meu
braço! Eu lavrei e plantei e armazenei em celeiros, e nenhum homem podia me
ultrapassar - e não sou eu uma mulher? Pude trabalhar e comer tanto quanto um
homem podia - quando tive a oportunidade - e agüentar chicote também! E não sou
eu uma mulher? Tive treze filhos, e vi a maioria vendida como escravos, e
quando chorei com minha dor de mãe, ninguém me ouviu, a não ser Jesus - e não
sou em uma mulher? (TRUTH, Sojourner, ex-escrava, líder abolicionista, USA,
séc. XIX).
Nos
dias atuais, a técnica/ciência tornou a terra em uma pequena aldeia global,
grandes megalópoles abundam em vários cantos do planeta. É uma fase de forte
artificialização do espaço, onde o distanciamento das coisas do meio ambiente
natural e a simulação de novos arranjos criam um humano frio, de concreto,
vidro e metal. Mas na sacada de um edifício com cinqüenta andares, no último
dos andares, as vezes é possível ver com a ajuda de uma luneta um pequeno jarro
de flores. Orquídeas, margaridas, dálias ou rosas. Terá sido o trabalho e
sensibilidade de um homem?
Concluímos
esse pequeno ensaio dizendo que sem a leveza livre e suave dos cabelos ao vento
e o caminhar descalço, sem as asas da paixão ou o voar de pássaros o nosso
universo não teria um toque mágico de mulher, com tintas e cores tecidas no
multicolorido amar incolor, que transpondo montanhas, sussurra em nossos
ouvidos castelos encantados respondem pelas grandes transformações da sociedade
que busca se humanizar em seu processo civilizatório.
Belarmino Mariano Neto, Guarabira, 8 de março de 2014.
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