Fonte: http://dustindc4toa1.blogspot.com.br/ |
Por: Pedro Torres (Acadêmico de História/UEPB/CH)
Costumo
escrever aos domingos, aqui e acolá faço algumas leituras, alinhavo alguns
retalhos que ao final de minha atividade laboral sempre me rendem uma colcha
retalhosa. Outrora cá estive pensando, lendo, costurando e escrevendo; também
estive a repensar, reler, recosturar e reescrever.
Meus dias
tem se resumido ao paradoxo: fazer/refazer, e foi fazendo e refazendo que
conclui essa pequena malha que para alguns aperta, incomoda não por ser curta,
mas por ser cozida de retalhos que não gostamos e cujos estampados não nos
agrada. Mesmo sabendo que serve para uns e outros não, costurei. Há de servir a
alguém.
Pois bem,
ao ver uma colcha belíssima produzida por um costureiro amigo meu resolvi fazer
esse bordado, pegando alguns traços seus. Cozi meu bordado com estes letreiros:
Por qual razão falamos tanto em cultura e não saímos do campo discursivo?
Seja por
estas terras planas ou por aquelas serranas não se fala em outra coisa nas
peças teatrais encabeçadas por bacharéis em artes cínicas e em seus roteiros fantásticos.
Cultura é nas páginas amareladas palavras de ordem. Contudo, olhando de perto
tal espetáculo macabro não compreendo porque nele fala-se tanto em cultura, quando
o único investimento está nas falas.
Parece-me
que estes bacharéis ao elaborarem seus roteiros não valorizam para além da
encenação a cultura. Suas companhias teatrais, historicamente, tem se mostrado
indiferentes a história de seu público, a cultura de seu público. O roteiro
silencia e destrói a cultura de um povo e ao destruir a cultura de um povo se
destrói também sua História.
Sem
história e sem cultura, ou melhor, quando apagadas, os reduzem a um povo sem
identidade, consequentemente, mais dócil, despolitizado, fácil massa de
dominação/manobra. Eles têm apostado num espetáculo diferente, a cidade deles é
uma cidade de "Pedra e Cal" onde não se dá o pão nem o Circo. Pois na
cultura do capital se paga por tudo. Ser de algum lugar certamente é ter uma
identidade, mas no final das contas resta-nos saber se valorizam de fato o
lugar e a cultura, para além das prateleiras e do valor venal da exploração de
um povo.
Aqui
apresento os últimos rasgões do tecido cultural, no exemplar trabalho de Chico
Science – Nação Zumbi, quando ele fala sobre a lama e o caos. Nesse tecido de
lama que escorre e amarga o rio Doce das Minas Gerais, vemos a cultura do lucro
e da mineração que destrói a identidade de um lugar. Rasgões ambientais sem
precedentes na história da natureza. Retalhos e rasgões que não servem para
vestirmos um povo, para fazermos uma festa de reis, ou um maracatu rural. Essa
é a cultura do capital e nos alimenta de “jumentas magras”, que são levadas
para as colchoeiras do preconceito de lugar, destruindo a verdadeira cultura de
um povo.
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