sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Carta ao Bispo



Carta ao Luíz
Carlos Azevedo*
Outro dia, encontrei o professor Luíz no saguão do aeroporto, em João Pessoa. Era madrugada, eu me dirigindo ao interior de São Paulo e ele, com certeza, indo para Brasília para dar expediente no dia seguinte, no Congresso Nacional. Cochilava e por certo aquela viagem ao centro do país chamado Brasil fisicamente o desgastava por mil vezes. Tive receio de cumprimentá-lo, de atrapalhar seus pensamentos ou mesmo seu breve descanso naquele momento.
Entre um cochilo e outro, ele me olhou. Talvez tivesse lembrado daquela face. De onde conheço aquele outro senhor que ali também espera o tedioso momento do embarque?
Os anos se passaram Luíz. E o que eu queria apenas te dizer naquele momento é que as árvores que você plantou na Praça da Alegria da UFPB cresceram. Confesso que no início, logo quando você as plantou não tive muita fé que elas fossem vingar, talvez pisoteadas pelas manadas desatentas de selvagens estudantes. Mas a fé floresce hoje nos corredores da universidade, em João Pessoa. A sombra boa já acolhe os grupos que alegremente conversam de tudo por lá.
Naquele tempo, de árduas militâncias no Partido dos Trabalhadores e no movimento estudantil, sabia que podia contar com seu apoio e experiência como diretor do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA). Mas o tempo te encaminhou para tarefas mais difíceis ainda. E te distanciaram da sala de aula, do convívio com os estudantes e professores, do convívio com os fiéis na Igreja. Tarefas históricas de um tempo que clamava por mudanças radicais. E não bastava ser apenas professor ou padre. Mas sei que sentes saudades e nunca abandonastes por completo nenhuma das duas missões.
Hoje tua missão é mais árdua. Acompanho-te pelos jornais. Combates com toda a tua força e coragem o crime organizado que se infiltrou por todos os poderes e esferas deste país. E corre o risco de ser perseguido e morto, inocente cordeiro, tal qual Cristo. Mas segues teu caminho com honra, coragem e fé.
Pois é professor, li que alguém, o qual não se pode nem pronunciar o nome, autoritariamente quer te tirar o sagrado direito de celebrar a vida, seja na universidade, na Igreja ou na tribuna.
Segue teu caminho como homem honrado, assim como fez o nosso Dom Hélder, clamando por justiça num país injusto. Empunha teu mandato popular conquistado nas urnas e celebrado na comunhão dos homens simples. E lembra que muitos te reconhecem pelas árvores, pela fé, pelos amigos que cultivas e pela coragem de fazer deste lugar chamado Brasil uma utopia pulsante e viva, apesar de tudo.

* Jornalista, professor de Comunicação Social da UEPB

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