quarta-feira, 31 de agosto de 2011

“O corpo tem suas razões - Antiginástica e consciência de si” Relações com a geografia e o ambiente


Autora (Thérèse Bertherat) Por: Belarmino Mariano Neto





Nosso corpo somos nós. É nossa única realidade perceptível. Não se opõe a nossa inteligência, sentimentos, alma. Ele os inclui e dá-lhes abrigo. Por isso tomar consciência do próprio corpo é ter acesso ao ser inteiro, pois o corpo e espírito, psíquico e físico, e até força e fraqueza, representam não a dualidade do ser, mas sua unidade (BERTHERAT, 1987, p. 14).



                Somos feitos de razão e emoção que se fazem pensamento, sentimento e vontade para que possamos estar em equilíbrio e conscientes do ser. Quando uma destas forças se sobrepõe as demais, perdemos o ritmo da existência, passando a encarar contrastes de um viver desequilibrado.

                O livro de Thérése Berttherat que trata da Antiginástica e consciência de si é um grande tratado de vida e de trabalho que se misturam e dão unidade ao corpo e a alma, desafiando as palavras a contarem sobre a prática do cotidiano que se faz em cada experiência.

                Estes escritos tratam do corpo enquanto morada sagrada dos nossos dias e o bom dono da casa é aquele que consegue harmonizar todos os espaços de um corpo que sente de o simples aí de uma unha ao (des)ritimar de um coração. A autora desafia as formas tradicionais de exercícios ou ginásticas para embelezar ou dar saúde, apontando algumas formas muito mais como embrutecedoras da calma, da alma e da alegria, onde os insatisfeitos têm em seu corpo uma casa onde não se mora tão grande é a assombração com os laços de insatisfação.

                A casa enquanto habitat, o bairro, a cidade. O morar alugado e a relação destas idéias com a casa corpo, que por muito passa despercebido de suas funções e cuidados, e passo a passo vai se tornando algo rígido, prisão e prisioneiro de sentimentos de angustia, alegria, decepções, tragédias trazidas pela vida e absorvidas completamente pelos ossos, carne, sangue e nervos, para em cada personalidade um morador de uma morada aparentemente estranha.

                O livro ao mesmo tempo em que se apresenta como uma busca que rebusca a vida afetiva e profissional da autora, é um apontador de caminhos, experiências práticas e formas de como você  se tratar como um corpo que pensa, sente e fala. (Re)agindo a todo e qualquer (des)estimulo de nosso cotidiano.

                A casa no beco representa o primeiro encontro da autora com seu corpo enquanto espaço de consciência. Saindo em busca de uma casa objeto material, se deparando com a antiginastica, descobre a casa real, aquela que guarda todos os segredos de uma vida, desde nosso nascimento e absorvedora de todos os nossos sentidos. Neste primeiro momento, já temos contato com alguns exercícios para a consciência corporal.

                O corpo que se faz forte, permitindo o amor, comer, beber e se permitir é o aprofundamento de uma busca de se mesma, um encontro com a vida e as emoções a muito reprimidas pelo peso dos valores que a sociedade, sua ética, moral e posturas vão impondo-nos.

                Esta busca lhe leva a um contato com a morte. É no morrer de um ente querido como aquele que se ama, para no desequilíbrio das emoções iniciarem na solidão o possível mundo do silêncio e construção de uma fortaleza para se proteger e dar proteção.

                O mais importante neste trabalho é o trabalho coletivo e a ajuda mutua aonde os mestres vão sendo descobertos dentro de se mesmo. a exemplo da sala de música, onde existe muito espaço, mas que no decorrer do fazer-se consciência de si, se descobre ainda nem sabendo respirar direito. As descobertas precisam vim de dentro e nunca do exterior. É neste contesto que se pode repassar o que se sabe, no ato de socializar os experimentos.

                A casa mal assombrada é o contato com outros corpos que buscam se descobrir os seus erros e preconceitos.



Toda rigidez muscular contém a história e a significação de sua origem. Quando ela é dissolvida, não só a energia é liberada... mas também traz à memória própria situação infantil em que o recalque se deu (W. Richer, apud. BERTHERAT, p. 66-67, 1987.)



                Temos que os neófitos nas experiências com o corpo são um receptáculo de dúvidas, medos e fragmentação das reações emocionais reprimidas e escondidas nas entranhas, muitas vezes abandonando o trabalho e fortalecendo as doenças do se fazer completa insegurança de si.

                Uma revolução pode ser representado pelo experimentar outras experiências no despertar das sensações corporais, reprimidas e adormecidas, sem, no entanto ultrapassar os limites do físico. Um trabalho bebido a partir de Françoise Méziéres, que apontava para o terapêutico, anatomia e fisiologia, onde o patológico pode se esconder nos recantos mais estáveis de um corpo aparentemente sãs.

Fazer a revolução é não aceitar o fracasso e no desafio trabalhar até com a força da gravidade no deslocamento das massas do corpo, cabeça, barriga, costa, etc., para no fazer da auto-observação, tratar vértebra por vértebra, onde a cabeça para frente ordena o movimento cotidiano do complexo corporal. a morfologia do corpo vem diretamente de sua musculatura, mas além destes elementos, temos outras articulações a darem se bem trabalhadas um morfologia perfeita ao corpo, onde apenas as fraturas e mutilações não permitem uma recuperação completa.

                A consciência corporal nos permite exigir um equilíbrio de todas as partes do corpo, para que possamos ter uma energia capaz de alimentar sem perdas todos os recantos da casa, para na consciência do toda, a relação do corpo com o universo. Estes são os alicerces milionários, para um corpo aberto, onde a energia fluir do sol, da lua e de todo o cosmo. Onda a terra possa representar o macro, nosso corpo total representar o meso e suas partes em equilíbrio o micro em completo funcionamento, ritmados pelo tempo da natureza e todos os elos com o mundo natural. Tratados orientais demonstram o quanto isto é importante para um corpo e mente sã, onde a micro-massagem, a o trabalho com agulhas, pode levar um corpo ao seu estado de luz.

                No próprio corpo podemos encontrar todos os pontos geradores do cosmo em nosso universo corporal, um exemplo pode ser os pés e seus meridianos de relação com cada um dos nossos órgãos, onde o polegar pode percorrer todo o corpo a partir do solado dos pés.

                Por corpos aparentemente sadios podemos nos enganar completamente, pois a essência pode encontrar-se aprisionada pelo mundo das aparências, deixando o corpo e suas energias concentradas no superficial. Por tanto, o desperto do corpo é o acordar da pessoa, que sendo acolhida pela sua casa, passa a cuidar harmoniosamente da casa, sendo o bom dono da casa, falando a língua de um corpo que fala a cada ato de prazer sentido a partir das pequenas coisas.
Referência:

BERTHERAT, Thérése. O Corpo tem saus razões - Antiginástica e consciência de si. São Paulo: Martis Fontes, 1987.

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