DO CULTO A CULTURA DA POBREZA: Encontros com a Cidadania Incompleta.
Belarmino Mariano Neto.
"Miséria é miséria em qualquer quanto. Riquezas são diferentes. A fome está em toda parte. (...) Índio, mulato, preto, branco. (...) A morte não causa mais espanto (...) Cores, raças, castas. Riquezas são diferentes." (Arnaldo Antunes/Sérgio Brito/Paulo Miklos, Titãs, BMG/Ariola, São Paulo, 1992)
Este trabalho objetiva relacionar idéias sobre a cultura da pobreza e a pobreza propriamente dita. Neste sentido, usaremos os escritos de Lewis (1969), A Cultura da Pobreza. E Mueller (1997) em um artigo que trata da Degradação da Pobreza no Brasil. Além de variados exemplos pertinentes ao tema, para substanciar nossa visão de pobreza enquanto uma condição social com viés físico ou material, e culturais. Sendo representados nos dias atuais como parâmetros para uma cidadania incompleta.
de enveredarmos pelos conceitos de Cultura da Pobreza, propostos por Lewis, ou pela degradação da pobreza de Muelle, enfatizaremos alguns cultuadores da pobreza como padres, poetas e pintores. Isto é, aqueles que vivem da cultura da pobreza e que geralmente não vivem na pobreza ou em sua cultura.
Os padres por fazerem seus votos de pobreza em uma visão do Cristo Primitivo, defensor de um reino em que os pobres seriam os bem aventurados. Pois para o cristianismo, seria "mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, de que um rico entrar no reino do céu". Os Franciscanos são um excelente exemplo dos cultuadores da pobreza.
Os poetas quando falam dos moribundos que perambulam pelas calçadas da vida, ou quando se alimentam com os restos podres da cidade. Ou quando escrevem sobre camas de papelão nos quartos de calçadas das grandes lojas de departamento que embalam os sonhos de cola dos meninos e meninas de rua.
Os pintores que povoam suas telas com uma geografia dos miseráveis, expressões de desconcerto do olhar, crianças barrigudas e casebres de taipa enquadrados e fixos, seguem expostos pelas ruas avenidas dos mais recônditos lugares.
O jans saído das fábricas e oficinas carregados de graça e fuligem em corpos operários, ganhou as ruas e passarelas da moda mundial. A cultura da pobreza lida pelo rústico e pela simplicidade do não ter, do despossuir tonificou esse modelo ou desenho social que serve de protesto e consumo, nos deixando confundidos, entre a cena, o cenário e a poesia do mercado concreto em seus diversos papeis.
O sonho de casamentos e amores impossíveis entre protagonistas ricos e pobres são os motivos de vasta literatura em que as tramas são construídas em dramas, tragédias e comédias. Aparecendo enquadrados pelos sonhos dos pobres encarcerados em seu real e pela "fome dos meninos que têm fome". E que geralmente, só se realizam nos melodramas das telenovelas "globais."
Lewis (1969), conceitua a Cultura da pobreza como sendo tanto uma adaptação quanto uma reação dos pobres a sua posição marginal numa sociedade estratificada em classes, altamente individualista, capitalista. Representa um esforço para enfrentar os sentimentos de desesperança e desespero que se desenvolvem quando verificam a impossibilidade de alcançar êxito de acordo com os valores e objetivos da sociedade envolvente.
Nesse contexto, temos como estrutura lógica da cultura da pobreza um modo de vida de parte da sociedade, na qual, suas características se materializam em diferentes momentos históricos, emergindo com maior força na sociedade moderna, em que, a idéia de pobreza e a natureza da pobreza toma maior corpo físico.
Tanto do ponto de vista de indivíduos, como de famílias, passando por regiões e países. A cultura da pobreza assume perfil espacial ou territorial, determinada pelas condições de classe, valores e atitudes que os pobres, assumido, tanto individualmente quanto coletivamente. Essa pobreza enquanto privação e dificuldades materiais vai se transformando em um modo de vida a ser transmitido pela sociedade e pela família.
Podemos pensar na origem da cultura da pobreza e não conseguimos data-la, mas a lógica aponta para os primeiros passos da história de exclusão, escravidão e submissão de povos ao longo das civilizações.
Na atualidade, podemos pensar nos Astecas do Novo México e nos negros de algum morro do Rio de Janeiro e lhes colocar tão distantes e tão próximos, pois ambos estão inseridos no contexto histórico da Cultura da pobreza. Pois foram submetidos aos choques culturais do início da modernidade. Um tempo tão presente que em menos de quinhentos anos globalizou a pobreza e condicionou homens, mulheres e crianças a condição subumana de alienação material e intelectual.
A quebra dos modelos tradicionais de organização social, pautados na comunhão, na solidariedade e no coletivismo, são condições favoráveis a instituição da cultura da pobreza. Isso, todos podemos ver em função dos ritmos acelerados de modernização. Quando essa quebra se processa, temos o florescer da cultura da pobreza como uma subcultura da sociedade.
O mudo social desajustado, cria relações de dominação do homem pelo homem. Estes são os pré requisitos mínimos para uma forte carga política e ideológica das experiências humanas. Temos então, as condições de segregação, violência, fome, subdesenvolvimento e exploração como molas propulsoras da cultura da pobreza. Na qual, os pobres vão em meio a sua realidade, incutindo geração após geração, um forte sentimento de marginalidade, de desamparo, de dependência, de inferioridade, de infortúnio e falta de aspirações.
No contexto Brasileiro, temos uma acentuada presença da cultura da pobreza, engendrada pelo modelo de desenvolvimento adotado neste país. Para entendermos a cultura da pobreza e sua materialização no Brasil, teremos como suporte o texto de Mueller (1997), que ao tratar da degradação da pobreza, especialmente nas cinco últimas décadas, faz uma crítica ao estilo de desenvolvimento adotado e como a ecologia econômica pode apontar soluções para as questões socioambientais em relação as camadas pobres da sociedade brasileira.
O autor ao identificar o modelo de desenvolvimento adotado no Brasil, como sendo desigual, ele busca em alguns indicadores socioambientais os argumentos que justificam a degradação dos pobres.
Os maiores problemas da pobreza no Brasil da atualidade, estão na concentração urbana dos pobres, na degradação sanitária, na desigual distribuição da renda e no baixo padrão de consumo dos pobres.
O Brasil a partir dos anos cinqüenta, começou a viver um surto de modernização (industrialização, urbanização e crescimento econômico). Na verdade, esse modelo foi limitado e concentrado em áreas do Centro - Sul do país, gerando uma concentração urbana da pobreza.
A partir dos anos 70 a modernização da sociedade atinge o campo. Esse momento será marcado pelos CAIs (complexos agro-industriais). Identificado como modernização conservadora da agricultura, onde máquinas, ferramentas e produtos da indústria são produzidos para ampliar a produção agrícola. Modernização conservadora, pois não alterou a estrutura fundiária do país, que pela falta de uma reforma agrária nacional, favoreceu um forte deslocamentos de pessoas pobres do campo para os grandes e médios centros urbanos do país.
A migração rural - urbana em nosso país, gerou diferentes instalações da pobreza nos grandes centros urbanos, onde a submoradia, as deficiências sanitárias e os prejuízos ambientas são alguns dos aspectos da cultura da pobreza no Brasil.
Este estilo de desenvolvimento desigual, gerou uma urbanização da pobreza, com grades aglomerados populacionais, onde os bolsões de miseráveis são territorialmente expressivos. Pobres espremidos em áreas de riscos que na maioria das vezes são ilegais perante o poder público, não assistindo estas áreas de uma infra estrutura básica (água encanada, instalações sanitárias, eletrificação, saúde, educação, etc.).
Os assentamentos de pobres, são áreas ambientalmente frágeis e fora do zoneamento urbano. Em função das mínimas condições de instalação, com: elevados riscos de desabamento, sujeitas as enchentes, sem estrutura sanitária, pequenos espaços para famílias numerosas e as vezes agregadas, com acústica desapropriada para os altos ruídos, sem condições para se contrapor as variações de temperatura e vulnerável a sujeira, aos ratos, baratas e diversos tipos de doenças infecto-contagiosas.
Este é uma quadro pintado pela realidade dos grandes centros urbanos do país. Áreas como a Grande São Paulo e Rio de Janeiro, Salvador, Recife e todas as outras grandes e médias cidades brasileiras. São comuns as favelas, mocambos e palafitas em áreas de encostas, morros, no limites de movimentadas rodovias ou em baixo das redes de alta tensão elétrica.
As estimativas de 1960, feitas pelo IBGE, indicavam aproximadamente 16 milhões de pobres no Brasil. Em 1998, este número já estava na casa dos 45 milhões de pobres, amontoados em especial nos grandes centros urbanos.
A falta de assistência pública de serviços básicos é lamentável. Em muitos casos não existe água encanada e a colete de lixo nem sempre é feita, além da falta de instalações sanitárias, geram um acumulo de lixo, dejetos humanos e consumo de águas contaminadas que são os principais indicadores de doenças infecto-contagiosas.
A pobreza em nosso país é geral. Nas três últimas décadas acentuou-se mais ainda em função da grande concentração de renda e das disparidades regionais.
O crescimento econômico do Brasil, não veio acompanhado das melhorias sociais para a população de baixa renda, ficando excluída do consumo, de saúde, educação, moradia, qualificação, lazer, etc. Este modelo de desenvolvimento, concentrador e excludente, gerou disparidades regionais ainda maiores. Temos as regiões Nordeste e Norte como áreas marcadas fortemente pela pobreza de sua população.
Nessa cultura da pobreza, temos uma forte cobrança dos deveres e obrigações dos pobres, que vão desde a obrigatoriedade do voto para os analfabetos até ocupação em alguma atividade (produção), mas a estes mesmos pobres, são negados os direitos e garantias mínimas. É isto que identificamos como a cidadania incompleta, como raiz de sustentação da cultura e da degradação da pobreza, tanto a nível global, como a nível nacional, regional e local.
Notas:
LEWIS, Oscar. La Vida: a Puerto Rican Family in the Culture of Poverty: San Juan & New York, London (Panther Books), 1969. Tradução de F. Moonem.
2. MUELLER, Charles C. Problemas Ambientais de um Estilo de Desenvolvimento: A Degradação da Pobreza no Brasil. UnB/ Brasília: Ambiente e Sociedade - Ano I - nº 1 - 2º semestre de 1997.
3 Cf. Adriana Calcanhoto, Esquadros. Senhas. São Paulo: BMG/Ariola, 1996.
Belarmino Mariano Neto.
"Miséria é miséria em qualquer quanto. Riquezas são diferentes. A fome está em toda parte. (...) Índio, mulato, preto, branco. (...) A morte não causa mais espanto (...) Cores, raças, castas. Riquezas são diferentes." (Arnaldo Antunes/Sérgio Brito/Paulo Miklos, Titãs, BMG/Ariola, São Paulo, 1992)
Este trabalho objetiva relacionar idéias sobre a cultura da pobreza e a pobreza propriamente dita. Neste sentido, usaremos os escritos de Lewis (1969), A Cultura da Pobreza. E Mueller (1997) em um artigo que trata da Degradação da Pobreza no Brasil. Além de variados exemplos pertinentes ao tema, para substanciar nossa visão de pobreza enquanto uma condição social com viés físico ou material, e culturais. Sendo representados nos dias atuais como parâmetros para uma cidadania incompleta.
de enveredarmos pelos conceitos de Cultura da Pobreza, propostos por Lewis, ou pela degradação da pobreza de Muelle, enfatizaremos alguns cultuadores da pobreza como padres, poetas e pintores. Isto é, aqueles que vivem da cultura da pobreza e que geralmente não vivem na pobreza ou em sua cultura.
Os padres por fazerem seus votos de pobreza em uma visão do Cristo Primitivo, defensor de um reino em que os pobres seriam os bem aventurados. Pois para o cristianismo, seria "mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, de que um rico entrar no reino do céu". Os Franciscanos são um excelente exemplo dos cultuadores da pobreza.
Os poetas quando falam dos moribundos que perambulam pelas calçadas da vida, ou quando se alimentam com os restos podres da cidade. Ou quando escrevem sobre camas de papelão nos quartos de calçadas das grandes lojas de departamento que embalam os sonhos de cola dos meninos e meninas de rua.
Os pintores que povoam suas telas com uma geografia dos miseráveis, expressões de desconcerto do olhar, crianças barrigudas e casebres de taipa enquadrados e fixos, seguem expostos pelas ruas avenidas dos mais recônditos lugares.
O jans saído das fábricas e oficinas carregados de graça e fuligem em corpos operários, ganhou as ruas e passarelas da moda mundial. A cultura da pobreza lida pelo rústico e pela simplicidade do não ter, do despossuir tonificou esse modelo ou desenho social que serve de protesto e consumo, nos deixando confundidos, entre a cena, o cenário e a poesia do mercado concreto em seus diversos papeis.
O sonho de casamentos e amores impossíveis entre protagonistas ricos e pobres são os motivos de vasta literatura em que as tramas são construídas em dramas, tragédias e comédias. Aparecendo enquadrados pelos sonhos dos pobres encarcerados em seu real e pela "fome dos meninos que têm fome". E que geralmente, só se realizam nos melodramas das telenovelas "globais."
Lewis (1969), conceitua a Cultura da pobreza como sendo tanto uma adaptação quanto uma reação dos pobres a sua posição marginal numa sociedade estratificada em classes, altamente individualista, capitalista. Representa um esforço para enfrentar os sentimentos de desesperança e desespero que se desenvolvem quando verificam a impossibilidade de alcançar êxito de acordo com os valores e objetivos da sociedade envolvente.
Nesse contexto, temos como estrutura lógica da cultura da pobreza um modo de vida de parte da sociedade, na qual, suas características se materializam em diferentes momentos históricos, emergindo com maior força na sociedade moderna, em que, a idéia de pobreza e a natureza da pobreza toma maior corpo físico.
Tanto do ponto de vista de indivíduos, como de famílias, passando por regiões e países. A cultura da pobreza assume perfil espacial ou territorial, determinada pelas condições de classe, valores e atitudes que os pobres, assumido, tanto individualmente quanto coletivamente. Essa pobreza enquanto privação e dificuldades materiais vai se transformando em um modo de vida a ser transmitido pela sociedade e pela família.
Podemos pensar na origem da cultura da pobreza e não conseguimos data-la, mas a lógica aponta para os primeiros passos da história de exclusão, escravidão e submissão de povos ao longo das civilizações.
Na atualidade, podemos pensar nos Astecas do Novo México e nos negros de algum morro do Rio de Janeiro e lhes colocar tão distantes e tão próximos, pois ambos estão inseridos no contexto histórico da Cultura da pobreza. Pois foram submetidos aos choques culturais do início da modernidade. Um tempo tão presente que em menos de quinhentos anos globalizou a pobreza e condicionou homens, mulheres e crianças a condição subumana de alienação material e intelectual.
A quebra dos modelos tradicionais de organização social, pautados na comunhão, na solidariedade e no coletivismo, são condições favoráveis a instituição da cultura da pobreza. Isso, todos podemos ver em função dos ritmos acelerados de modernização. Quando essa quebra se processa, temos o florescer da cultura da pobreza como uma subcultura da sociedade.
O mudo social desajustado, cria relações de dominação do homem pelo homem. Estes são os pré requisitos mínimos para uma forte carga política e ideológica das experiências humanas. Temos então, as condições de segregação, violência, fome, subdesenvolvimento e exploração como molas propulsoras da cultura da pobreza. Na qual, os pobres vão em meio a sua realidade, incutindo geração após geração, um forte sentimento de marginalidade, de desamparo, de dependência, de inferioridade, de infortúnio e falta de aspirações.
No contexto Brasileiro, temos uma acentuada presença da cultura da pobreza, engendrada pelo modelo de desenvolvimento adotado neste país. Para entendermos a cultura da pobreza e sua materialização no Brasil, teremos como suporte o texto de Mueller (1997), que ao tratar da degradação da pobreza, especialmente nas cinco últimas décadas, faz uma crítica ao estilo de desenvolvimento adotado e como a ecologia econômica pode apontar soluções para as questões socioambientais em relação as camadas pobres da sociedade brasileira.
O autor ao identificar o modelo de desenvolvimento adotado no Brasil, como sendo desigual, ele busca em alguns indicadores socioambientais os argumentos que justificam a degradação dos pobres.
Os maiores problemas da pobreza no Brasil da atualidade, estão na concentração urbana dos pobres, na degradação sanitária, na desigual distribuição da renda e no baixo padrão de consumo dos pobres.
O Brasil a partir dos anos cinqüenta, começou a viver um surto de modernização (industrialização, urbanização e crescimento econômico). Na verdade, esse modelo foi limitado e concentrado em áreas do Centro - Sul do país, gerando uma concentração urbana da pobreza.
A partir dos anos 70 a modernização da sociedade atinge o campo. Esse momento será marcado pelos CAIs (complexos agro-industriais). Identificado como modernização conservadora da agricultura, onde máquinas, ferramentas e produtos da indústria são produzidos para ampliar a produção agrícola. Modernização conservadora, pois não alterou a estrutura fundiária do país, que pela falta de uma reforma agrária nacional, favoreceu um forte deslocamentos de pessoas pobres do campo para os grandes e médios centros urbanos do país.
A migração rural - urbana em nosso país, gerou diferentes instalações da pobreza nos grandes centros urbanos, onde a submoradia, as deficiências sanitárias e os prejuízos ambientas são alguns dos aspectos da cultura da pobreza no Brasil.
Este estilo de desenvolvimento desigual, gerou uma urbanização da pobreza, com grades aglomerados populacionais, onde os bolsões de miseráveis são territorialmente expressivos. Pobres espremidos em áreas de riscos que na maioria das vezes são ilegais perante o poder público, não assistindo estas áreas de uma infra estrutura básica (água encanada, instalações sanitárias, eletrificação, saúde, educação, etc.).
Os assentamentos de pobres, são áreas ambientalmente frágeis e fora do zoneamento urbano. Em função das mínimas condições de instalação, com: elevados riscos de desabamento, sujeitas as enchentes, sem estrutura sanitária, pequenos espaços para famílias numerosas e as vezes agregadas, com acústica desapropriada para os altos ruídos, sem condições para se contrapor as variações de temperatura e vulnerável a sujeira, aos ratos, baratas e diversos tipos de doenças infecto-contagiosas.
Este é uma quadro pintado pela realidade dos grandes centros urbanos do país. Áreas como a Grande São Paulo e Rio de Janeiro, Salvador, Recife e todas as outras grandes e médias cidades brasileiras. São comuns as favelas, mocambos e palafitas em áreas de encostas, morros, no limites de movimentadas rodovias ou em baixo das redes de alta tensão elétrica.
As estimativas de 1960, feitas pelo IBGE, indicavam aproximadamente 16 milhões de pobres no Brasil. Em 1998, este número já estava na casa dos 45 milhões de pobres, amontoados em especial nos grandes centros urbanos.
A falta de assistência pública de serviços básicos é lamentável. Em muitos casos não existe água encanada e a colete de lixo nem sempre é feita, além da falta de instalações sanitárias, geram um acumulo de lixo, dejetos humanos e consumo de águas contaminadas que são os principais indicadores de doenças infecto-contagiosas.
A pobreza em nosso país é geral. Nas três últimas décadas acentuou-se mais ainda em função da grande concentração de renda e das disparidades regionais.
O crescimento econômico do Brasil, não veio acompanhado das melhorias sociais para a população de baixa renda, ficando excluída do consumo, de saúde, educação, moradia, qualificação, lazer, etc. Este modelo de desenvolvimento, concentrador e excludente, gerou disparidades regionais ainda maiores. Temos as regiões Nordeste e Norte como áreas marcadas fortemente pela pobreza de sua população.
Nessa cultura da pobreza, temos uma forte cobrança dos deveres e obrigações dos pobres, que vão desde a obrigatoriedade do voto para os analfabetos até ocupação em alguma atividade (produção), mas a estes mesmos pobres, são negados os direitos e garantias mínimas. É isto que identificamos como a cidadania incompleta, como raiz de sustentação da cultura e da degradação da pobreza, tanto a nível global, como a nível nacional, regional e local.
Notas:
LEWIS, Oscar. La Vida: a Puerto Rican Family in the Culture of Poverty: San Juan & New York, London (Panther Books), 1969. Tradução de F. Moonem.
2. MUELLER, Charles C. Problemas Ambientais de um Estilo de Desenvolvimento: A Degradação da Pobreza no Brasil. UnB/ Brasília: Ambiente e Sociedade - Ano I - nº 1 - 2º semestre de 1997.
3 Cf. Adriana Calcanhoto, Esquadros. Senhas. São Paulo: BMG/Ariola, 1996.
Nenhum comentário:
Postar um comentário