Por Belarmino Mariano Neto
Este artigo se apresenta como uma contribuição ao debate sobre a modernidade e as teorias sociológicas discutidas ao longo da disciplina Teoria Sociológica I, ministrada pela professora Drª Tereza Correia da Nóbrega Queiroz. É uma narrativa objetiva de fragmentos do mundo moderno, natural e social construídos no decorrer dos últimos séculos.
Não estamos querendo nos colocar como estudiosos do mundo total, ou intérpretes do mundo contemporâneo globalizado. Mas, apenas fazer uma interpretação de fragmentos tempo/espaciais para a construção do conhecimento.
Pensar a natureza, a sociedade e o século XXI no contexto da atual (des)ordem mundial, passa por uma reflexão dos comportamentos sócio-econômicos e técnico-científicos vividos pela humanidade em seus diferentes estágios de desenvolvimento. Passa também pela compreensão das novas expressões incorporadas ao cotidiano dos povos, tais como: chips, informática, fibra ótica, softwares, multimídia, cibercultura, plugados, era digital, mercadorização generalizada, viragem ecológica, pânico ecológico, neurochips, biotecnologia, animais clonados, genoma, transgênicos, doenças do próximo milênio, complexidade, acaso, catástrofes, etc.
Os 500 anos de europeização do Novo Mundo, construídos pela exploração colonial, comercial e multinacional, deixaram um saldo de pobreza mundial contaminante dessa nova ordem, e que foi intensificada nos pós-guerras mundiais. Com o fim da Guerra Fria, o livre comércio propagandeado pelo neoliberalismo tira do caminho da sociedade de mercado os empecilhos ideológicos e políticos de contraposição socialista ao sistema, diminuindo-se o pânico ecológico de uma explosão nuclear em cadeia, passando a sobrar espaço e tempo para as disputas mercantis.
As duas guerras mundiais criaram fronteiras militares, ideológicas e políticas que culminaram com os programas da Guerra Fria, e ao mesmo tempo alimentaram o progresso tecnológico e econômico das grandes potências, que venderam para o mundo do século XX seus potenciais militares e técnico-científicos, além das ações imperialistas, calcadas no discurso de defesa do mundo e baseadas na agressão, subversão, terror ideológico e dominação econômica e cultural que moldaram o mundo da modernização. Um espaço contemporâneo com um grande fosso entre a riqueza e à pobreza, dentro de cada lugar onde o sistema tornou-se hegemônico. Especialmente no tocante à quebra das produções tradicionais e nas periferias dos sistemas centrais.
A mundialização da produção, da circulação e circuitos financeiros imediatos é manobrada pelo capital especulativo, que circula a uma velocidade luminar, com paradas de metrô em cada uma das bolsas de valores mundiais. Incontroláveis, transitórias e deixando marcas irreversíveis no mundo do capital produtivo.
Agora estamos diante das emoções digitais, tráfego veloz e intenso de idéias virtuais, nas super-redes de informações da internacional “Net work..” O século 21 já entrou pela nossa porta. Diagnosticar o quê? Quais as profecias que fracassarão, Nostradamus, Apocalipse? O difícil é aprisionar o futuro, por mais que psicologicamente busquemos a regularidade e o sentimento de constância do tempo. Pensar em ler este grande texto que chamamos “mundo” a partir de uma interpretação total e única é uma das ilusões desfeitas.
O território mundial é agora mapeado pela multimídia, um território tão volátil quanto à riqueza financeira virtual que circunda nas bolsas de investimentos financeiros e desestrutura os valores expressos da produção. A modernização do mundo nos apresenta um novo conjunto de instalações das relações sociais, movidas pela produção e por profunda apropriação da natureza nessa construção do sobreviver humano. Instalações em que podem ser lidas as contradições das relações e forças produtivas que em sua gênese combinam-se, contradizem-se e complementam-se simultaneamente.
A descabida concentração de capital, tanto em nível dos grupos econômicos, quanto em nível das regiões globais, bem como a nova revolução industrial (micro-eletrônica, cibernética, computacional, robótica, cognição, etc.) começa a construir um mundo para homens de sobra, vazios de trabalho, desempregados e contraditoriamente perdidos de sua milenar cultura da atividade. Humanos sem trabalho e sem capital começam, aos montes, a perambular por um mundo de abundância controlada, apropriada pela selvajaria de poucos. Estamos diante do tempo de ilusões, apontando para todas as sortes de incertezas que podemos pensar. Essa lógica do real/virtual combina-se na construção de uma sociedade onde os homens são nitidamente descartáveis.
Vivemos a náusea existencial de uma sociedade saturada, em que o virtual, preenche muito mais os “vazios,” que o próprio racionalismo dessa geração que estava adaptada e apoiada no progresso da ciência. A vida sem sentido começa a tonificar os novos seres ciberculturais. Essa nova era digital dos “plugados” não define um chão para os nossos pés.
A submundialização do planeta não é uma idéia profética, mas a vivência iniciada nestas últimas décadas em quase todos os recantos do mundo. O que segue é na medida de seu ritmo, o mundo do desemprego, tempo/espaço como instalações irreversíveis para o trágico choque secular, que será o puro demonstrativo de que as crises do modelo liberal da economia de mercado não são apenas cíclicas, mas constantes e cumulativas, e que levará ao abismo todos, não importando aí ordem de chegada, todos somos “filhos do medo”, e esta é a violação em estar vivo diante do real e da certeza. O mundo caminha para uma governança monoplanetária, centrada no poder do G-8, FMI e Banco Mundial, “trivium” de sustentação dessa nova ordem. O que nos resta é o caminhar para a submundialização, e para os que acham ser os donos da chave desse mundo, não adiantará levantar muralhas, pois a “barbárie do subdesenvolvimento” é um vírus instalado desde a gênese do sistema que é aberto, desigual/combinado e globalizado.
A submundialização pode ser lida como urbanização da pobreza, com grandes aglomerados populacionais, onde os bolsões de miseráveis são territorialmente expressivos. Pobres espremidos em áreas de riscos que, na maioria das vezes, são ilegais perante o poder público. Em muitos casos, não assistidas de infra-estrutura básica (água encanada, instalações sanitárias, eletrificação, saúde, educação, etc.). Este é o modelo global de desenvolvimento urbano/industrial.
Este é um quadro pintado pela realidade dos grandes centros urbanos dos países subdesenvolvidos. Áreas como a Grande São Paulo e Rio de Janeiro, Salvador, Caracas, Lima, Cidade do México, Nova Deli, Bombaim, Lagos, Cairo, Luanda, e muitas outras. São comuns as favelas, mocambos e palafitas em áreas de encostas, morros, beira de rio, mangues, limites de movimentadas rodovias ou embaixo das redes de alta tensão elétrica. A falta de assistência pública de serviços básicos é lamentável.
Estamos diante dos quinhentos anos de profundas alterações sócio-econômicas, culturais e ambientais que nosso estágio de civilização propiciou. O lucro mata a natureza e não contabiliza as perdas ambientas. Vivemos as super safras ao lado da fome. A crise é econômica, ecológica, moral, ética e de atitudes humanas. Na realidade, estamos diante de uma encruzilhada, em que a humanidade não acompanha o ritmo do progresso de uma minoria que comanda o mundial e a natureza não aceita esse ritmo de desenvolvimento imposto pelos homens.
A exploração abusiva dos recursos naturais nos coloca diante de uma natureza fúnebre. A natureza como ambiente dos lugares estragados, a natureza como um depósito de lixo a céu aberto.
Uma coisa é certa, diante de elevado grau de submundialização da civilização humana, este modelo urbano industrial e consumista de desenvolvimento não consegue dar a mesma qualidade de vida para toda a população do mundo, além de não se sustentar ecologicamente.
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