Breve
notícia acerca do Ato Público realizado hoje, em Sapé – PB, em comemoração
solidária dos 50 anos do assassinato de João Pedro Teixeira
(02/04/1962-02/04/2012)
Por: Alder
Júlio Ferreira Calado
Graças ao trabalho organizativo e
mobilizador do Memorial das Ligas Camponesas da Paraíba, em parceria ativa e
orgânica com dezenas de movimentos sociais (do campo e da cidade) e de
organizações de base de nossa sociedade, foi realizado em Sapé – PB, nesse 2 de
abril, o ATO PÚBLICO EM MEMÓRIA DE JOÃO PEDRO TEIXEIRA e demais protagonistas
das LIGAS CAMPONESAS da Paraíba, por ocasião dos 50 anos desde o covarde
assassinato perpetrado contra João Pedro pelos latifundiários da Paraíba, mais
precisamente pelo famigerado “Grupo da Várzea”.
O Movimento das LIGAS CAMPONESAS
constitui um relevante marco na trajetória de lutas das classes populares
brasileiras. Atuando principalmente no período de uma década (1954-1964), as
Ligas Camponesas, cujas referências de origem se situam no Engenho Galiléia, em
Vitória de Santo Antão – PE vão difundindo-se, em seguida, por vários
municípios de Pernambuco, Paraíba e outros Estados, no Nordeste e para além do
Nordeste, as.
As
Ligas Camponesas deixaram-nos um legado de luta pela Reforma Agrária, que hoje
inspira as lutas de distintos movimentos sociais do campo (Via Campesina, MST,
MAB, MPA, etc.), bem como dezenas de organizações de base de nossa sociedade
(CPT, CONTAG, CIMI, STRs, ASA, Articulação Popular São Francisco Vivo, SPM e
Pastorais Sociais), aos quais se aliam tantos outros movimentos urbanos (de
Mulheres, de Negros, do Segmento LGBT, organizações estudantis combativas,
organizações sindicais, agremiações partidárias de esquerda, redes sociais, associações
cooperativas, entre outras forças de nossa sociedade.
Nas manifestações de Sapé e de Barra
de Antas, isto também se pôde observar. Diversificado era, com efeito, o perfil
dos protagonistas participantes da grande manifestação realizada, nessa manhã,
em Sapé, e, na parte da tarde, no povoado de Barra de Antas (zona rural de
Sapé), num sítio de 7 ha – recém-desapropriado pelo Poder Público estadual,
graças às lutas e gestões empreendidas pelo Memorial das Ligas Camponesas da
Paraíba -, em que viveram João Pedro Teixeira, Elizabeth Teixeira e seus onze
filhos e filhas. Vizinha a este sítio, na mesma Barra de Antas, convém
assinalar, vivem cerca de uma centena de famílias acampadas, HÁ LONGOS 14 ANOS,
em condições precárias.
Por volta das 8 horas, já iam chegando
centenas de pessoas, em ônibus fretados ou em outros veículos, procedentes de
várias cidades da Paraíba e de outros Estados, dirigindo-se ao cemitério Nossa
Senhora da Assunção, onde está plantado João Pedro Teixeira. Enquanto centenas
de pessoas iam passando, reverentes, pelo túmulo de João Pedro, outras, em
frente ao cemitério, iam cantando e gritando palavras de ordem, conforme o
ritmo proposto pela vibrante Equipe de Animação do Ato Público. Momento em que
essa mesma Equipe de Animação também ia fazendo registro de presenças de
dezenas de movimentos sociais, organizações de base, associações, redes,
pastorais sociais e outras entidades que lá se faziam presentes, portando
lindas faixas, que eram lidas e aclamadas.
Desde a chegada a Sapé, chamava à
atenção a presença massiva pelas ruas da cidade de jovens, adolescentes e
crianças de várias escolas, a perambularem, fardados, pelas ruas de Sapé, em
direção, primeiro, ao cemitério local, e daí em passeata rumo à Praça João
Pessoa.
Ainda em frente ao cemitério local, a
Equipe de Coordenação cuidava de dar as boas vindas, de anunciar mais
presenças, de informar o roteiro da marcha, de apontar e ler os dizeres das
faixas, a chamar o poeta a recitar seus versos de cordel, bem como a convidar a
escutar, com atenção, a recitação do Poema de Thiago de Melo, “Madrugada
Sertaneja” (recitado por Pádua, trabalhador e animador do Assentamento Novo
Salvador). E assim tem início a marcha, com cantos tocantes, com muitas faixas,
um intenso balançar de bandeiras de diversos movimentos e organizações
populares.
Entre essa multidão, cumpre assinalar
a comovente participação de dezenas de crianças vindas dos assentamentos
vizinhos, bem arrumadinhas, alegres e participativas, a acompanharem a marcha
animada pelas ruas de Sapé. Durante esse trajeto, a Equipe de Animação
proporcionou àquela multidão de participantes momentos de muita emoção, seja
por meio do repertório das canções entoadas pela multidão (“Cansei de tanto
sofrer/ Cantei de tanto esperar”; “Vem, vamos embora, que esperar não é
saber...”; “Ninguém ouviu um soluçar de dor”; “Viver e não ter a vergonha de
cantar”; “Eu quero ver, eu quero ver, eu quero ver”; bem como por meio de
palavras de ordem expressivas: “João Pedro Teixeira vive em nossas lutas de
hoje”; “Viva a luta! Viva! Nossa união! Viva! Quem são vocês? Povo unido, outra
vez”; “Pisa ligeiro, pisa ligeiro! Quem não pode com a formiga / Não assanha o
formigueiro”...
E assim seguia a marcha pelas ruas de
Sapé, com centenas de participantes – mulheres, homens, crianças, adolescentes,
jovens, adultos, pessoas de idade avançada, pessoas de distintas etnias (lá
também estava uma boa representação dos povos indígenas, das comunidades quilombolas),
camponeses, camponesas, de gente vinda de distintas procedências.
Veio
gente de tantos assentamentos vizinhos e de outras áreas; veio gente de várias
escolas públicas rurais e urbanas da região; veio gente das várias microrregiões
da Paraíba; veio gente de Pernambuco, inclusive gente do venerando Engenho
Galiléia – de Vitória de Santo Antão – PE; veio gente do Nordeste; veio gente
de outros Estados do país, como de Minas Gerais (a exemplo de Dom José Maria
Pires, com seus 94 anos, e com sua palavra de pastor comprometido com a causa
dos camponeses); veio gente de fora do país, inclusive da Holanda (caso de Irmã
Tonny, missionária franciscana por muitos anos trabalhando com os camponeses na
Paraíba).
A certa altura da marcha, cuidou a
Equipe de Animação de informar à multidão da importância da Escola Gentil Lins,
de Sapé, onde se deu a primeira reunião da Liga de Sapé, com a participação de
João Pedro Teixeira. Escola que estava completando 75 anos.
Na
Praça João Pessoa, em Sapé, concentrou-se essa multidão, após a marcha. Aí se
achava um cenário emblemático, previamente bem preparado e bem equipado,
contando, não apenas com serviços de infraestrutura (água, sanitários
químicos), como também com tendas com objetos culturais, com música especial em
homenagem a João Pedro e às Ligas Camponesas, além de exposição de fotos,
vídeos, etc.
A
Equipe de Coordenação passou, então, a completar a lista já grande de
organizações presentes, além de seguir com cantos animados, palavras de ordem,
faixas bem elaboradas, além de algumas falas.
Após as ricas manifestações da manhã,
os participantes eram convidados a compartilhar uma refeição, inclusive com
refeições a preço simbólicos para quem preferisse.
Em seguida, foi organizada a carreata
prevista, em direção a Barra de Antas, para o cumprimento da agenda prevista
para a parte da tarde, inclusive a inauguração do Memorial das Ligas
Camponesas, cujo objetivo é de assegurar formação ao campesinato da região, em
especial os jovens dos assentamentos da Reforma Agrária da região.
Na
ocasião, coube à figura de Dom José Maria Pires, incansável pastor comprometido
com a causa dos pobres, proceder à bênção do Memorial das Ligas Camponesas, com
sua mensagem inconfundível de solidariedade às lutas dos camponeses.
Em frente à casa recém-reformada em
que viveram João Pedro Teixeira, Elizabeth Teixeira e seus onze filhos e
filhas, situada em Barra de Antas, num sítio de sete hectares, há pouco tempo
desapropriado pelo Governo do Estado, para fins de construção do Centro de
Formação para o Campesinato, e contando com a presença da própria Elizabeth
Teixeira, suas filhas Maria José das Neves e Anatilde Teixeira; Marina, irmã do
líder Nêgo Fuba, bem como de figuras tais como Anacleto Julião, filho de
Francisco Julião, líder \das Ligas Camponesas, em Pernambuco; de Luiz de Lima
(Luizinho), presidente do Memorial das Ligas Camponesas, de João Pedro Stédile,
do MST, além de prefeitos, ex-deputados aliados ou participantes dos embates
das Ligas na Paraíba, de secretários e outras Estados, deu-se a entrega
simbólica a Elizabeth Teixeira, pelo Governador Ricardo Coutinho, da chave de
sua antiga residência, ao tempo em que se reconfirmou a desapropriação da
referida área.
Foi, pois, em meio a essas
circunstâncias, cercadas de exposições de fotos, documentários, folhetos,
jornais e outros materiais, sem esquecer as cerca de cem famílias vivendo bem
ao lado dessa área, em condições de muita precariedade, ainda lutando por
condições dignas de vida e de trabalho, que se deu a inauguração do Memorial
das Ligas Camponesas.
Aqui, apenas linhas a título de resumo
parcial e limitado do que consegui registrar esse 2 de abril de 2012, em Sapé e
em Barra de Antas, pensando em tantas pessoas e grupos que não puderam
participar fisicamente desse Ato memorável Teremos, por iniciativas de outras
pessoas e organizações, outros relatos com detalhes e circunstâncias mais
apropriados.
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