sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Carta ao Bispo



Carta ao Luíz
Carlos Azevedo*
Outro dia, encontrei o professor Luíz no saguão do aeroporto, em João Pessoa. Era madrugada, eu me dirigindo ao interior de São Paulo e ele, com certeza, indo para Brasília para dar expediente no dia seguinte, no Congresso Nacional. Cochilava e por certo aquela viagem ao centro do país chamado Brasil fisicamente o desgastava por mil vezes. Tive receio de cumprimentá-lo, de atrapalhar seus pensamentos ou mesmo seu breve descanso naquele momento.
Entre um cochilo e outro, ele me olhou. Talvez tivesse lembrado daquela face. De onde conheço aquele outro senhor que ali também espera o tedioso momento do embarque?
Os anos se passaram Luíz. E o que eu queria apenas te dizer naquele momento é que as árvores que você plantou na Praça da Alegria da UFPB cresceram. Confesso que no início, logo quando você as plantou não tive muita fé que elas fossem vingar, talvez pisoteadas pelas manadas desatentas de selvagens estudantes. Mas a fé floresce hoje nos corredores da universidade, em João Pessoa. A sombra boa já acolhe os grupos que alegremente conversam de tudo por lá.
Naquele tempo, de árduas militâncias no Partido dos Trabalhadores e no movimento estudantil, sabia que podia contar com seu apoio e experiência como diretor do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA). Mas o tempo te encaminhou para tarefas mais difíceis ainda. E te distanciaram da sala de aula, do convívio com os estudantes e professores, do convívio com os fiéis na Igreja. Tarefas históricas de um tempo que clamava por mudanças radicais. E não bastava ser apenas professor ou padre. Mas sei que sentes saudades e nunca abandonastes por completo nenhuma das duas missões.
Hoje tua missão é mais árdua. Acompanho-te pelos jornais. Combates com toda a tua força e coragem o crime organizado que se infiltrou por todos os poderes e esferas deste país. E corre o risco de ser perseguido e morto, inocente cordeiro, tal qual Cristo. Mas segues teu caminho com honra, coragem e fé.
Pois é professor, li que alguém, o qual não se pode nem pronunciar o nome, autoritariamente quer te tirar o sagrado direito de celebrar a vida, seja na universidade, na Igreja ou na tribuna.
Segue teu caminho como homem honrado, assim como fez o nosso Dom Hélder, clamando por justiça num país injusto. Empunha teu mandato popular conquistado nas urnas e celebrado na comunhão dos homens simples. E lembra que muitos te reconhecem pelas árvores, pela fé, pelos amigos que cultivas e pela coragem de fazer deste lugar chamado Brasil uma utopia pulsante e viva, apesar de tudo.

* Jornalista, professor de Comunicação Social da UEPB

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O POTE GEOGRÁFICO










Belarmino Mariano Neto belogeo@yahoo.com.br

Uma coisa que considero particularmente interessante é o pote. É uma dessas coisas que acompanham a civilização humana desde seus primórdios, o pote guarda em se toda a humanidade, desde quando ela começou a ocupar os vales argilosos das bacias hidrográficas planetárias. E para se chegar a este estágio, foi preciso construir muitas formas de ocupar os pântanos e planícies da morfologia terrestre, até porque, estes ambientes, eram áreas vitais de disputas territoriais entre as diferentes espécies de animais que precisavam de água para tocar a vida encadeada pelo alimento, sólido, líquido e gasoso que muitas vezes era arrancado na carne viva dos outros corpos que davam sentido a esta cadeia de necessidade da vida.
O pote é aparentemente um trabalho das mãos, uma arte do simples amassar a argila e lhe dar a forma de pote. Um pote não é tão simples quanto parece, aquele amontoado de fina argila, que guarda no vazio de sua forma a função de guardar água.
Vejo em um pote, um complexo processo de construção. A escolha da argila, os experimentos, as texturas, a dureza e sua plasticidade.Vejo no pote o complexo sistema da natureza humana a associada aos princípios primários da natureza.
O pote guarda em sua materialidade toda a filosofia Pré-Socrática dos quatro elementos (terra, água, fogo e ar) além do elemento vida como interrelacionados e interdependentes. A única falta de um destes, impediria a construção do pote. O pote é um ecossistema sociocultural. O pote guarda em sua gênese os princípios de interdependência plástica.
Cada pote é uma coisa única, por mais perfeita que seja a arte do oleiro, este não faria o mesmo pote duas vezes. E mesmo que na sua memória guarde o mapa mental do pote original, nunca mais fará o pote mesmo da sua cabeça, nem o pote real, nem o original das escrituras mentais do feito.
Cada pote guarda em si a experiência única de ser feito pote. O pote em sua feitura, guarda o sacrifício da lenha que gerou o fogo e que ao ser queimada(o), tanto o pote quanto a lenha, libertaram de si seus gases, suas novas formas materiais e a umidade de suas águas.
A argila que antes de pote, aceitava ser batida, sovada, amassada, agora na forma de pote se torna cristal rochoso, perdendo flexibilidade e ganhando rigidez. Esse estrutural que agora se sustenta basicamente em uma única coluna, plana e horizontal que ganha o sentido de fundo do pote e que é base desse todo. As colunas que edificaram o pote estão na mente, nas mãos e no vazio que o oleiro lhe impôs enquanto forma e fazer.
O pote só tem sentido enquanto vazio, se puder ser cheio de um sentido de água, vinho, azeite ou grãos. Sem isso, o sentido do pote é seu vazio que se enche de ar. Ou seja, o sentido exterior do pote é a sua forma estética ou plástica. Sem ela não se construiria o sentido interno do vazio do pote.
O pote não é trabalho para qualquer um. Um pote pede a experiência do oleiro. Da mente as mãos, dos pés a sensibilidade. O equilíbrio e o domínio no ponto da argila, nem muito mole, nem muito dura, mas no ponto de cada um dos oleiros.
O pote guarda em sua forma de pote um jeito de universo aberto, mesmo que tenha uma tampa. Depois de feito, o pote precisa passar pela cura, cheio de água em seu vazio, vai chupando a água pelos poros de sua parede demonstrando um sistema completamente aberto, no qual a argila bebe a água.
A água vai preenchendo os vazios da parede argilosa do pote até sair para a superfície, ganhando no vazio do mundo a sua condição de liberdade. Uma experiência que mexe com o sentido da estrutura do pote, tão sólida e aparentemente fechada em sua plástica.
Você ver o pote suando, transpirando e vertendo ou minando a fina água que se guardava na concreta, aparente e impenetrável materialidade do pote.
Não posso esquecer o quanto o pote é frágil em sua estrutura de barro, na permanente possibilidade de se quebrar, transformando-se em cacos; outra lembrança são os limites impostos pela parede do pote; o espaço do pote no espaço da casa, locus em que se encontra o pote; a forma do pote em sua base, cintura, pescoço e boca que aceita tudo que lhe queiram colocar, pois é da natureza do pote admitir em seus limites que lhe encham do sentido que queiram desde que consigam lhe enfiar boca adentro, pois sua boca é o limite.
Gosto muito da seguinte cena: uma mulher de estrutura média, pele morena ou queimada pelo sol com uma barrida carregada de lua cheia que carrega em si mais ou menos oito meses e meio de gravidez, subindo uma ladeira com uma criança de mais ou menos um ano e meio escachada em seu quadril esquerdo; uma rodilha de pano e um pote cheio de água em seu vazio.
A mão esquerda segura o filho, a direita corta e conta o vazio do tempo dos passos para equilibrar a barriga, o menino escanchado, o pote na rodilha e a rodilha na cabeça.
Tudo isso guarda um complexo e dinâmico processo de diferentes e correlacionados equilíbrios. É esse simples equilíbrio que dá sentido ao complexo do pote em seu todo de esferas e círculos em paredes de argila que dão sentido ao vazio que busco como sentido.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Ecologia e imaginário


Dissertação sobre Ecologia e Imaginário
http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bte/bte.nsf/2C746CB5A002321203256FDD004629B8/$File/NT000A657E.pdf

É o resultado de dois anos de pesquisa sobre o semi-árido paraibano. Um trabalho que engloba uma pluralidade lingüística, marca o atual estágio de mundialização cultural e submundialização sócio-econômica e técnica. Academicamente de grande utilidade, para aqueles que pretendem conhecer a geografia, a ecologia e a história da Paraíba, em especial sua extensa zona semi-árida. As dificuldades e estratégias de vida dos que fazem o Sertão e o Cariri.
São duzentas páginas, com mapas, gráficos e um capítulo de fotografias que enfoca um olhar geoecológico do território paraibano. Imagens que demonstram a riqueza da diversidade regional, destacando as diversas paisagens paraibanas.
A partir da constituição do imaginário, analisamos a idéia de natureza, relacionando a topofilia e a percepção como elementos norteadores de uma ecologia da convivência homem/natureza na Microrregião dos Velhos Cariris do Paraíba, através do relato de histórias orais e de vida das pessoas idosas, relacionando os costumes e tradições locais sob as influências da modernização, no tocante ao mundo social, cultural e natural, para vermos até que ponto o processo de modernização deitou raízes em comunidades tradicionais.
O autor, Belarmino Mariano Neto é Doutor em Sociologia pela UFCG/UFPB (2006); Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento, pelo PRODEMA/UFPB (1999); especialista em Gestão Territorial (1996); aperfeiçoamento em Geografia Agrária (1995); graduação em Geografia (1992). Participante da Pesquisa "Vida e Trabalho do Menor na Atividade Canavieira", CNPq. (1995); colaboração nas pesquisas que resultaram no livro "Por um pedaço de chão", da profª. Emília Moreira. Atualmente é professor Adj. da UEPB/CH e lider do Terra - Grupo de pesquisa urbana, rural e ambiental;
Podemos dizer que este é um importante convite à leitura. Expressão construída na comunhão de palavras bem arranjadas pela leveza das idéias; escritos memoriais de diálogos pluralizados pela experiência do escutar e chegar aos brotos de lembrança. Estes, como crianças, podem renascer em cada um, desde que se ative a valorização dos que sabem como lidar com a natureza semi-árida, desvendando seus mistérios e transformando o potencial deserto em jardim. Ele nos convida para o pertencimento do lugar. O semi-árido é apresentado com a livre leveza dos cabelos ao vento ou de um caminhar descalço. Podemos identificar na topofilia, representada pelo amor dos que vivem e são o semi-árido.
Este trabalho analisa a constituição do imaginário e a natureza, relacionando a topofilia e a percepção como elementos para a construção de uma sociedade ecológica. Baseia-se na história oral, memória cultural, análise de conteúdo e narrativa descritiva informativa. Busca a identificação da percepção e a integração das comunidades com a natureza, para encontrar as raízes culturais que tinham a natureza como elemento sagrado e as formas como elas deixaram de existir ou ainda remanescem no cotidiano. Relaciona os costumes e tradições locais sob as influências da modernização, no tocante ao mundo da sociedade, da natureza e dos problemas de ordem sócio-ambientais emergentes. Resgata a importância dos conceitos de imaginário enquanto forma de abordar aspectos das ciências da natureza e da sociedade. Situa o local no contexto mundial, dentro de uma perspectiva tempo/espaço, complexidade e submundialização da humanidade, globalização e culturas fragmentadas, desenraizadas do mundo natural e embaladas pelos ritmos acelerados da mundialização. BAIXE ESSE LINK e boa leitura.




Mestrado em Desenvolvimento Regional

Inscrições abertas para o Mestrado em Desenvolvimento Regional em parceria da UEPB e UFCG. Divulguem e vejam edital. http://www.uepb.edu.br/prpgp/ver-categoria/editais-prpgp/

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

PROGRAMA DE ANTROPOLOGIA CULTURAL



UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
CENTRO DE HUMANIDADES – CAMPUS III
DEPARTAMENTO DE GEO-HISTÓRIA
CURSO DE GEOGRAFIA
DISCIPLINA: ANTROPOLOGIA CULTURAL
ANO: 2009.1 CARGA HORÁRIA: 66 AULAS
Prof. Dr. Belarmino Mariano Neto (belogeo@yahoo.com.br)
http://observatoriodoagreste.blogspot.com/
http://olharesgeograficos.blogs.sapo.pt/


EMENTA DA DISCIPLINA DE ANTROPOLOGIA CULTURAL

A Antropologia enquanto ciência social e da humanidade; espaço, tempo, sociedade, natureza e cultura na construção do conhecimento antropológico; conceituação, objeto e objetivos da ciência antropológica; relação entre Antropologia e Geografia; da Antropologia cultural a Geografia cultural; teorias e métodos das ciências sociais aplicados a Antropologia e a Geografia; Antropologia física e Antropologia cultural; Antropologia, Geografia e cultura. O ser humano na perspectiva social e cultural. Espaços e relações de poder; Território e identidades culturais; Paisagem, região, religião, folclore e identidade cultural local; teorias culturais, cultura e natureza; origens da humanidade e questões étnicas; cultura popular, cultura de massa e cultura erudita; linguagens, representações e formas de organização. A importância da memória, da percepção e do imaginário para a antropologia.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

UNIDADE TEMÁTICA I : A CIÊNCIA ANTROPOLÓGICA

1.1 Conceituação; objeto e objetivo da Antropologia.
1.2 Divisão e campo da Antropologia; os objetivos da Antropologia Cultural.
1.3 Origem dos dados; os métodos e as técnicas em Antropologia.
1.4 As ciências afins da Antropologia – Sociologia, Geografia, História, Economia, Medicina, Biologia, Psicologia, Economia, Política, Paleontologia, Geologia, etc.
1.5 Histórico da Antropologia e principais correntes do pensamento antropológico.
1.6 Antropologia Física, Cultural e Aplicada

UNIDADE TEMÁTICA II: HOMEM, CULTURA E SOCIEDADE

2.1 O conceito de cultura; a construção da cultura.
2.2 Componentes da cultura; processos culturais;
2.3 Cultura real e cultura ideal, cultura material e cultura imaterial.
2.4 Relativismo cultural e Etnocentrismo.
2.5 Origens da Humanidade e passado cultural do homem.
2.6 Aspectos culturais da sociedade brasileira e nordestina.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:

ARAÚJO, Walkiria Toledo de. (Org.) Cultura local discursos e práticas. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2000, 113p.
BAKTHIN, Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento. São Paulo-Brasilia: HUCITEC e Editora UnB, 2008, 6ª ed, 419p.
BOTAS, Paulo. Carne do Sagrado – EDUN ARA. Petrópolis/RJ: Vozes; Koinonia, 1996, 96p.
CERTEAU, Michel de; GIARD, Luce; MAYOL, Pierre. A invenção do cotidiano 2. morar, cozinhar. Petropolis, RJ: Vozes, 2008, 7ª ed, 372p.
CORRÊA, Mariza. História da Antropologia no Brasil (1930-1960). Campinas/SP: Editora da UNICAMP e Vertice, 1987, 127p.
CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDAHL, Zeny (Orgs.). Geografia cultural: um século 3. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2002, 190p.
DURAND Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário. Introdução à Arquetipologia geral. Lisboa/PT: Editora Presença, 1989, 1ª ed, 326p.
DURAND Gilbert. O Imaginário - ensaio acerca das ciências e da filosofia da imagem. Rio de Janeiro: DIFEL, 1998, 127p.
FROST, Everett L; HOEBEL, E. Anderson. Antropologia cultural e social. São Paulo. Cultrix. 2006, 1ª ed, 8 ª Imp.; 469 p.
GODOI, Emília Pietrafesa. O trabalho da memória – cotidiano e história no sertão do Piauí. Campinas/SP: Editora da Unicamp, 1999, 165p.
HELERN.V E OUTROS. O livro das religiões. São Paulo: Cia das Letras, 2000.
KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil - Vol. 2. Rio, São Paulo, Fortaleza: ABC Editora, 2003, 12ª ed, 611p.
LAPLATINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo. Brasiliense. 2007, 205p.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar,2003; 22ª Ed. 117p.
MALDONADO, Simone Carneiro. Pescadores do mar. São Paulo: Ática, 1986, 77p.
MARCONI, Mariana de Andrade; PRESOTTO, Zélia Maria Neves. Antropologia Uma Introdução. São Paulo: Atlas, 2007, 6 ª Ed, 324p.
MARIANO NETO, Belarmino. Ecologia e imaginário - memória cultural, natureza e submundialização. João Pessoa: Editora da UFPB, 2001, 2 ª Reimpressão, 206p.
MARIANO NETO, Belarmino; RODRIGUES, L. P. M.; FREIRE, C. S. Roteiros Integrados “Civilização do açúcar”: os caminhos dos engenhos na Paraíba. In: Cultura no espaço rural brasileiro – Anais do 6ª Congresso Brasileiro de Turismo Rural. Piracicaba/SP: FEALQ, 2007, 171-177p.
MARIANO NETO, Belarmino. Imagem da Moenda do Engenho Rainha, Bananeira/PB, Sony Digital/6.0, 2008.
MELLO, Luiz Gonzaga de. Antropologia Cultural. Iniciação. Teorias e temas. Petrópolis, Vozes, 2001, 8ª Ed, 526p.
MERCIER, Paul. História da Antropologia. São Paulo: Ed. Moraes LTDA, 1974, 154p.
QINTAS, Fátima (Org.) A civilização do Açúcar. Recife: Sebrae/Fundação Gilberto Freyre, 2007, 208p.
RIBEIRO, Darcy. O povo Brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras. 1995.
ULMANN, Reinaldo Aloysio. Antropologia - O homem e a cultura. Petrópolis/RJ:Vozes. 1991, 328p.
SILVA, Aldo A. Dantas; GALEANO, Alex (Orgs.). Geografia ciência do complexus – ensaios transdiciplinares. Porto Alegre/RS: Editora Sulina, 2004, 334p.
SOUSA NETO, Manoel Ferandes de. Aula de Geografia. Campina Grande: Bagagem, 2008, 2ª Ed, 109p.
VELHO, Gilberto. Projeto e metamorfose: Antropologia das sociedades complexas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, 1994.

A PAISAGEM NO CONTEXTO MULTICULRAL




Grd. Sharlene da Silva Bernardino - Geografia –UEPB/CH – Sharlene_sb@hotmail.com
Prof. Dr. Belarmino Mariano Neto – Geografia – UEPB/CH – belogeo@yahoo.com.br

A paisagem pode ser tomada como reflexo de vários elementos culturais inseridos numa sociedade. Alguns desses símbolos se destacam e acabam por hierarquizar alguns hábitos, fazendo com que os cidadãos que compõem uma sociedade acabem por deixar de perceber a dimensão dos elementos advindos de várias culturas que tornam a cidade, em especial a metrópole, um âmbito de constantes trocas culturais. Este trabalho intensiona observar a importância dos símbolos que constituem e identificam uma paisagem, enfatizando a falta de percepção dos indivíduos para reconhecerem esses elementos no espaço a sua volta. É considerada nesse contexto a importância da paisagem materializada, como também aquela que se constitui para além do poder ótico.


A pesquisa foi realizada a partir da leitura e análise de textos que colocam a paisagem e a cultura como norteadores da identidade social dos indivíduos. Fica evidente que a paisagem acontece de maneira única e veloz tendo em sua composição elementos que advém de hábitos culturais de vários lugares. Diante das pesquisas e análises textuais que se processaram se faz clara a necessidade da compreensão dos elementos culturais que são construtores de uma paisagem mesclada pela multiculturalidade constituinte por um cotidiano que transpassa a capacidade perceptível dos indivíduos que o compõem.
A geografia é uma área do conhecimento que sempre demonstrou preocupação em compreender a relação do homem com o seu meio. Um dos pontos de maior relevância para esse entendimento é a observação e análise da paisagem, já que esta é capaz de retratar as mais diferentes maneiras do individuo relaciona-se com o espaço. Espaço este que segundo Milton Santos (1997), constituiu-se de sistemas que “é formado por um indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como um quadro único na qual a historia se dá”.
Nessa perspectiva, a paisagem pode ser tomada como expressão materializada das relações entre o homem e meio que acontecem num determinado espaço, Wether Holzer apud Londscape coloca que: “a paisagem enquanto elemento geográfico fundamental é vista não só como suporte físico das atividades humanas, mas como palco de um processo interativo onde ela é apropriada pelas culturas que a modifica e lhe introduz novos elementos”. É necessário colocar também que a paisagem é algo para além do visível que se compõe a despeito da interferência humana na funcionalidade dos elementos simbólicos que a desenha. Para Correia (1995):

A paisagem é de um lado o resultado de uma dada cultura que a modela, e de outro, constitui-se em uma matriz cultural (...) muitos de seus elementos servem de mediação na transmissão de conhecimentos, valores, contribuindo para transmitir de uma geração à outra o saber, crenças, sonhos, e atitudes sociais (CORREIA, 1995, p. 4-5).

Assim, a paisagem é concebida pela junção de inúmeros elementos que estão dispostos em um espaço representado por mecanismos culturais que acabam por demandar as ações sociais. Contudo, Laraia (1932 p.80) coloca que “a participação do individuo em sua cultura é sempre limitada; nenhuma pessoa é capaz de participar de todos os elementos de sua cultura”.
Os ditames culturais podem passar de uma geração à outra como já descrito aqui, por Correia, no entanto, a paisagem sofre uma dinâmica constante que para ser percebida se faz essencial está voltado para elementos que requerem uma percepção sensorial, Fernandes (2003) capta essas sensações e as descreve como:

Matérias primas, primeiras e familiares que encontro em um fantástico balé de cores e forma (...) como se essa linguagem visual me detivesse diante dos objetos e me pusesse a diante deles(...)gosto das comidas e bebidas locais(...)essas coisas todas que mexem com os sentidos esse se misturam quando entro em contato com o mundo, estabelecem códigos de afetividade, desenham traços sensoriais dentro de mim. A tudo isso posso denominar de paisagem. (FERNANDES, 2003, p.68-69).

Essa fusão cultural desenhada por elementos que só são perceptíveis por suas cores, sons, cheiros, dentre outras peculiaridades, passa, por vezes, despercebida à sagacidade humana, acontecendo com maior relevância nas grandes metrópoles onde a demanda de serviços e produtos provém dos mais diversos lugares. Ralp Linton apud Laraia traz um formidável texto que retrata de maneira humorada as limitações do individuo para detectar os elementos culturais que permeiam a paisagem a sua volta.

O cidadão norte-americano desperta num leito construído segundo padrão originário do oriente próximo, mas modificado na Europa Setrentional, antes de ser transmitido à América. Sai debaixo de cobertas feitas de algodão cuja planta se tornou domestica na Índia; ou de um linho de lã de carneiro, um e outro domesticado no oriente próximo; ou de seda, cujo emprego foi descoberto na china(...). Ao levantar da cama faz uso dos ”mocasins” que foram inventados pelos índios das florestas do leste dos Estados Unidos e entra no quarto de banho cujos aparelhos são uma mistura de invenções européias e norte-americanas, umas e outras recentes. Tira o pijama, que é um vestiário inventado na Índia e lava-se com sabão que foi inventado pelos antigos gauleses, faz a barba que é um rito masoquistico que parece provir dos sumerianos ou antgo Egito. Voltando ao quarto, o cidadão toma as roupas que estão sobre uma cadeira do tipo europeu meridional e veste-se. As peças de seu vestiário têm a forma das veste de pele originais dos nômades das estepes asiáticas; seus sapatos são feitos de peles curtidas por um processo inventado no antigo Egito e cortados segundo um padrão provenientes das civilizações clássicas do Mediterrâneo; a tira de pano de cores vivas que amarra ao pescoço é sobrevivência dos xales usados nos ombros pelos os croatas do século XVII. Antes de tomar seu breakfest ele olha a rua através da vidraça feita de vidro inventado no Egito(...). De caminho para o breakfest, pára para comprar um jornal, pagando-o com moedas, invenção da Líbia antiga. No restaurante, toda uma série de elementos tomados de empréstimos o espera. O prato é feito de uma espécie cerâmica invetada na china. A faca é de aço liga feita pela primeira vez na Índia do Sul(...). Começa seu breakfest com uma laranja vinda do Mediterrâneo Oriental, melão da pérsia, ou talvez uma fatia de melancia africana, toma café planta abissínia com nata e açúcar. A domestificação do gado bovino e a idéia de aproveitar o leite são originários do oriente próximo, ao passo que o açúcar foi feito pela primeira vez na Índia(...). Acabando de comer, nosso amigo se recosta para fumar, hábito implantado pelos os índios americanos e que consome uma planta originária do Brasil; fuma cachimbo, que procede dos índios da Virginia, ou cigarro, proveniente do México se for fumante valente pode ser que fume mesmo um charuto, transmitido à América do Norte pelas Antilhas, por intermédio da Espanha. Enquanto fuma, lê noticias do dia, impressas em caracteres inventado pelos os antigos semitas, em material inventado na China e por um processo inventado na Alemanha. Ao inteirar-se das narrativas dos problemas estrangeiros, se for bom cidadão conservador, agradecerá a uma divindade hebraica, numa língua indo-européia, o fato de ser cem por cento americano (Ralph LintonapudLaraia, 1932, p.107-108)

A Velocidade dos acontecimentos que moldam a metrópole torna, cada vez mais, a paisagem reflexo de uma multiculturalidade que em certos momentos transita na busca por identidade. Certeau (1986 p.46) descreve “a cidade contemporânea como um labirinto de imagens, onde o comércio liga os desejos às realidades”.
Essa dinamização, que ocorre desde os atos rotineiros acontecidos dentro de um espaço restrito, como os descrito, aqui, por Ralp Linton, podem ganham, ainda mais mobilidade nas ruas das grandes metrópoles. Essa movimentação constante e ritmada velozmente é tema da composição noticias populares da cantora e compositora Ana Carolina lançada em 2006 pela gravadora Sony music. Eis um trecho:

Tomei um táxi um motorista mexicano Veio falando sobre o 11 de setembro. Havia um homem na calçada lendo o código da Vinci ou lia o código da venda. Na parada havia um peruano cheio de badulaques, vendendo, nike, bike, coca- cola light,canivete aceita cheques pros breguetes. Noticias do Iraque na tv da lanchonete (CAROLINA, 2006, CD, SONY MUSIC).

Os símbolos singulares descritos no fragmento desta composição são construtores de uma paisagem abarrotada de infindas culturas compactadas num dado espaço. Para Delfuss (1978 p. 9) “todo elemento do espaço e toda a forma de paisagem constituem fenômenos únicos que jamais podem ser encontrados exatamente iguais em outros locais ou outros momentos”.
Desta maneira, considera-se que a paisagem social é definida e sentida pelos elementos multiculturais que a instituem, no entanto, a dimensão desses símbolos não é absorvida em sua totalidade pelos os indivíduos que a formam e a modelam segundo suas necessidades.
Na ânsia de adequação a um meio que está em constante processo de mutação, mudanças essas que segundo Laraia (1986 p. 96) são dividas em dois tipos “uma que é interna, resultante da dinâmica da própria cultura e uma segunda que é o resultado do contanto de um sistema cultural com outro”, o homem acaba por centrar-se apenas no que considera peculiar a sua cultura esquecendo-se que, a mesma, jamais se constitui de maneira unilateral.

REFERÊNCIAS:


BURQUE, Peter (2003). Hibridismo Cultural. Rio grande do Sul : Ed: Unisinos.

CERTEAU, Michel 1986. A cultura no plural. Ed: Papirus. Campinas São Paulo.

DELFUSS, Olivier (1978). O espaço Geográfico. Ed: Difel Difusão S.A.

FERNANDES, Manoel (2003). Aula de geografia e algumas crônicas. Ed: Bagagem. Campina Grande.

LARAIA Roque de Barros (2003). Cultura: Um conceito Antropológico. 16 ed. Rio de Janeiro: Jorje Zahar.

WERTHER, Holzer. (1996). A Arte da Geografia e os geógrafos humanistas in Revista Fluminense de Geografia (1996). AGB. Niterói, Rio de Janeiro.

CORREIA, Roberto Lobato. (1995) A dimensão cultural do espaço: Alguns temas. In. Espaço e cultura. Rio de Janeiro: UERJ.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Abordagem sobre o lixo produzido na cidade de Araruna-PB, com vista a reciclagem

Maria de Fátima de Lima Gomes

ORIENTADOR: Prof. Ms. Joaquim Patrocollo Andrade da Silveira - UFPB/Areia
Co-orientadora Profª Drª Luciene Vieira de Arruda.

Geografia e meio ambiente

RESUMO

O excesso de produção de lixo vem aumentando assustadoramente em todo o planeta. Dessa forma, analisar as condições ambientais resultantes dos impactos provenientes do lixo é de suma importância. O objetivo deste trabalho foi abordar a problemática do lixo na cidade de Araruna-PB e identificar o que poderá ser reciclado. Após a coleta de dados e aplicação das entrevistas constatou-se que o montante de lixo produzido em Araruna corresponde a uma produção diária média de 9.595 Kg de lixo. Desse total, apenas parte do lixo seco é reciclado, aproximadamente 250 kg/dia, correspondendo a 2,9% do total. Em relação ao volume é produzido 48m³/dia, chegando a ser coletado 2,4 m³/dia correspondendo a aproximadamente 5%. 95% de todo o lixo produzido fica depositado no lixão acarretando sérios danos à saúde humana, bem como ao meio ambiente. O destino final de todo esse lixo produzido e que não foi selecionado para a reciclagem é a incineração realizada pelos catadores de lixo que ateiam fogo sem apoio técnico especializado. Observou-se que a área destinada para recepção deste montante de lixo é inadequada por se tratar de uma APP – Área de Preservação Permanente, onde os seus recursos hídricos recebem grande parte desses resíduos. Isso indica que a problemática do lixo em Araruna ainda é vista com indiferença e seu tratamento é muito precário, necessitando de maior assistência municipal junto aos coletores, assim como trabalhos relativos à conscientização ambiental para toda a comunidade.
Palavras-chave: Lixo, Reciclagem; Meio Ambiente

O Lixo nosso de cada dia

Por Belarmino Mariano Vendo os dados do Portal Desenvolvendo Negócios, podemos observar que as dez maiores empresas de coleta de...