De acordo
com o professor Antônio Pereira, foi confirmada a presença dos companheiros de
Engenho Galileia e do Maestro Geraldo Menucci, compositor do Hino das
Ligas Camponesas gravado em 1960. A letra é de Francisco Julião. Graças
à articulação do historiador Felipe Galinos/PE, o maestro Geraldo Menucci,
93 anos, estará presente em Sapé da Paraíba no ato público do dia 02 de abril,
por ocasião do cinquentenário do assassinato de João Pedro Teixeira.
OLHARES GEOGRÁFICOS - Grupo de Pesquisa em Geografia Cultural e da Percepção - UEPB/CH/PRPGP/CNPq.
sábado, 31 de março de 2012
50 anos das Ligas Camponesas na Paraíba
02 de abril de 2012
CINQUENTENTA DO ASSASSINATO DE
JOÃO PEDRO TEIXEIRA
Líder das LIGAS CAMPONESAS
MEMORIAL DAS LIGAS CAMPONESAS
O Memorial das Ligas Camponesas foi criado em 2008 com o apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT), camponeses assentados da reforma agrária e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O referido Memorial tem como objetivos desapropriar a área e a casa onde viveram João Pedro Teixeira e Elizabeth Teixeira com seus filhos e construir ali um Centro de Formação para o Campesinato; resgatar a memória através de documentos para a formação de um acervo histórico, social, político e cultural, tanto das Ligas Camponesas, como das lutas presentes e futuras em prol da reforma agrária; preservar o espírito de luta das Ligas Camponesas por Justiça Social, Dignidade Humana e Reforma Agrária.
Programação
Dia: 02 de abril de 2012
Local: Sapé/PB
Manhã
9h - Concentração no Cemitério Nossa Senhora da Assumpção em Sapé
(onde se encontra o túmulo de João Pedro Teixeira)
9h15min - Caminhada até a Praça João Pessoa
9h30min às 11h30min - Ato público na Praça João Pessoa
11h30min a 13h - Intervalo para almoço
Tarde
13h30min - Carreata para o povoado de Barra de Antas (zona rural de Sapé)
14h - Inauguração do Memorial das Ligas Camponesas (em Barra de Antas)
JOÃO PEDRO TEIXEIRA
Líder fiel das Ligas Camponesas - até o fim, e com o sacrifício de sua própria vida! -, João Pedro vive em nós e em nossas lutas! Luta por Reforma Agrária! Luta pela dignidade e por cidadania dos camponeses e camponesas.
A João Pedro, a Elizabeth Teixeira, a João Alfredo, a Pedro Fazendeiro, a Gregório Bezerra, a Francisco Julião, aos bravos protagonistas do Engenho Galiléia e a tantos outros camponeses e camponesas lutadores, ilustres ou anônimos, rendemos homenagem, deles e delas fazendo memória. Uma memória sempre grávida de utopia, utopia revolucionária, de que se faça justiça aos sonhos mais generosas da humanidade, de terra, trabalho e liberdade para todos os que vivem do seu trabalho, no campo ou na cidade! Sonho de uma autêntica Reforma Agrária, em relação à qual passos significativos foram dados – como ignorar, na Paraíba, a conquista de mais de duzentas famílias assentadas! -, mas da qual ainda estamos longe...
Em João Pedro Teixeira e em tantos lutadores e lutadoras, de ontem e de hoje, nos inspiramos para o enfrentamento exitoso dos desafios presentes, associando-nos aos mesmos sonhos de construção de uma sociedade justa e solidária, na qual a Reforma Agrária já não seja uma expressão vaga, mas uma realidade concreta, que permita aos Trabalhadores e Trabalhadoras do campo e da cidade uma vida digna e de qualidade social, em harmonia com a Mãe-Natureza.
Ontem, hoje, no dia 2 de abril e sempre, sigamos fazendo memória, revisitando João Pedro Teixeira e as Ligas Camponesas, movidos por três dimensões complementares: memória-mística-utopia, recolhendo as lições do seu denso legado; preparando-nos para enfrentar os desafios presentes, com lucidez e criatividade, e dispondo-nos a avançar na luta por uma sociedade alternativa à barbárie do Capitalismo.
Eis a perspectiva a partir da qual nos lançamos à realização do Ato Público, em Sapé e em Barra de Antas, no próximo dia 2 de abril, data em que, há precisos 50 anos, João Pedro Teixeira foi covardemente assassinado (pelos latifundiários da região), e cujo corpo foi plantado como semente boa que há de germinar, no tempo oportuno, graças às nossas lutas de hoje e de amanhã.
REALIZAÇÃO:
MEMORIAL DAS LIGAS CAMPONESAS
APOIO:
PARÓQUIA DE SOBRADO
COMISSÃO PASTORAL DA TERRA
ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DE BARRA DE ANTAS
ASSENTAMENTOS RURAIS DA REFORMA AGRÁRIA
CONSULTA POPULAR
ASSEMBLÉIA POPULAR
MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA
ECOVÁRZEA
GABINETE DE FREI ANASTÁCIO
GABINETE DE LUIZ COUTO
REDE CIDADÃ DE EDUCAÇÃO
COMITE ESTADUAL DA VERDADE – PE
COMITE ESTADUAL VERDADE E JUSTIÇA - PB
LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE
MOVIMENTO LEVANTE
MOVIMENTO DOS TRABALHADORES DESEMPREGADOS
MARCHA MUNDIAL DE MULHERES
MOVIMENTO DO ESPÍRITO LILÁS
MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS
POVOS INDIGENAS – TABAJARA E POTIGUARA
ASSOCIAÇÃO PARAIBANA DOS AMIGOS DA NATUREZA
FRENTE PARAIBANA EM DEFESA DA TERRA E DAS ÁGUAS
SINDICATOS DOS TRABALHADORES RURAIS
FEDERAÇÃO ESTADUAL DOS TRABALHADORES DA AGRICULTURA FAMILIAR
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA: SEAMPO - CDH - NCDH – PRAC – NUDOC
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA: CASA CIVIL - SETDE -SEE-SECULT-SEDAP-CEHAP-COOPERRAR-IPHAEP
PREFEITURA DE SAPÉ
sexta-feira, 30 de março de 2012
Geografia Cultural e Pobreza
DO CULTO A CULTURA DA POBREZA: Encontros com a Cidadania Incompleta.
Belarmino Mariano Neto.
"Miséria é miséria em qualquer quanto. Riquezas são diferentes. A fome está em toda parte. (...) Índio, mulato, preto, branco. (...) A morte não causa mais espanto (...) Cores, raças, castas. Riquezas são diferentes." (Arnaldo Antunes/Sérgio Brito/Paulo Miklos, Titãs, BMG/Ariola, São Paulo, 1992)
Este trabalho objetiva relacionar idéias sobre a cultura da pobreza e a pobreza propriamente dita. Neste sentido, usaremos os escritos de Lewis (1969), A Cultura da Pobreza. E Mueller (1997) em um artigo que trata da Degradação da Pobreza no Brasil. Além de variados exemplos pertinentes ao tema, para substanciar nossa visão de pobreza enquanto uma condição social com viés físico ou material, e culturais. Sendo representados nos dias atuais como parâmetros para uma cidadania incompleta.
de enveredarmos pelos conceitos de Cultura da Pobreza, propostos por Lewis, ou pela degradação da pobreza de Muelle, enfatizaremos alguns cultuadores da pobreza como padres, poetas e pintores. Isto é, aqueles que vivem da cultura da pobreza e que geralmente não vivem na pobreza ou em sua cultura.
Os padres por fazerem seus votos de pobreza em uma visão do Cristo Primitivo, defensor de um reino em que os pobres seriam os bem aventurados. Pois para o cristianismo, seria "mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, de que um rico entrar no reino do céu". Os Franciscanos são um excelente exemplo dos cultuadores da pobreza.
Os poetas quando falam dos moribundos que perambulam pelas calçadas da vida, ou quando se alimentam com os restos podres da cidade. Ou quando escrevem sobre camas de papelão nos quartos de calçadas das grandes lojas de departamento que embalam os sonhos de cola dos meninos e meninas de rua.
Os pintores que povoam suas telas com uma geografia dos miseráveis, expressões de desconcerto do olhar, crianças barrigudas e casebres de taipa enquadrados e fixos, seguem expostos pelas ruas avenidas dos mais recônditos lugares.
O jans saído das fábricas e oficinas carregados de graça e fuligem em corpos operários, ganhou as ruas e passarelas da moda mundial. A cultura da pobreza lida pelo rústico e pela simplicidade do não ter, do despossuir tonificou esse modelo ou desenho social que serve de protesto e consumo, nos deixando confundidos, entre a cena, o cenário e a poesia do mercado concreto em seus diversos papeis.
O sonho de casamentos e amores impossíveis entre protagonistas ricos e pobres são os motivos de vasta literatura em que as tramas são construídas em dramas, tragédias e comédias. Aparecendo enquadrados pelos sonhos dos pobres encarcerados em seu real e pela "fome dos meninos que têm fome". E que geralmente, só se realizam nos melodramas das telenovelas "globais."
Lewis (1969), conceitua a Cultura da pobreza como sendo tanto uma adaptação quanto uma reação dos pobres a sua posição marginal numa sociedade estratificada em classes, altamente individualista, capitalista. Representa um esforço para enfrentar os sentimentos de desesperança e desespero que se desenvolvem quando verificam a impossibilidade de alcançar êxito de acordo com os valores e objetivos da sociedade envolvente.
Nesse contexto, temos como estrutura lógica da cultura da pobreza um modo de vida de parte da sociedade, na qual, suas características se materializam em diferentes momentos históricos, emergindo com maior força na sociedade moderna, em que, a idéia de pobreza e a natureza da pobreza toma maior corpo físico.
Tanto do ponto de vista de indivíduos, como de famílias, passando por regiões e países. A cultura da pobreza assume perfil espacial ou territorial, determinada pelas condições de classe, valores e atitudes que os pobres, assumido, tanto individualmente quanto coletivamente. Essa pobreza enquanto privação e dificuldades materiais vai se transformando em um modo de vida a ser transmitido pela sociedade e pela família.
Podemos pensar na origem da cultura da pobreza e não conseguimos data-la, mas a lógica aponta para os primeiros passos da história de exclusão, escravidão e submissão de povos ao longo das civilizações.
Na atualidade, podemos pensar nos Astecas do Novo México e nos negros de algum morro do Rio de Janeiro e lhes colocar tão distantes e tão próximos, pois ambos estão inseridos no contexto histórico da Cultura da pobreza. Pois foram submetidos aos choques culturais do início da modernidade. Um tempo tão presente que em menos de quinhentos anos globalizou a pobreza e condicionou homens, mulheres e crianças a condição subumana de alienação material e intelectual.
A quebra dos modelos tradicionais de organização social, pautados na comunhão, na solidariedade e no coletivismo, são condições favoráveis a instituição da cultura da pobreza. Isso, todos podemos ver em função dos ritmos acelerados de modernização. Quando essa quebra se processa, temos o florescer da cultura da pobreza como uma subcultura da sociedade.
O mudo social desajustado, cria relações de dominação do homem pelo homem. Estes são os pré requisitos mínimos para uma forte carga política e ideológica das experiências humanas. Temos então, as condições de segregação, violência, fome, subdesenvolvimento e exploração como molas propulsoras da cultura da pobreza. Na qual, os pobres vão em meio a sua realidade, incutindo geração após geração, um forte sentimento de marginalidade, de desamparo, de dependência, de inferioridade, de infortúnio e falta de aspirações.
No contexto Brasileiro, temos uma acentuada presença da cultura da pobreza, engendrada pelo modelo de desenvolvimento adotado neste país. Para entendermos a cultura da pobreza e sua materialização no Brasil, teremos como suporte o texto de Mueller (1997), que ao tratar da degradação da pobreza, especialmente nas cinco últimas décadas, faz uma crítica ao estilo de desenvolvimento adotado e como a ecologia econômica pode apontar soluções para as questões socioambientais em relação as camadas pobres da sociedade brasileira.
O autor ao identificar o modelo de desenvolvimento adotado no Brasil, como sendo desigual, ele busca em alguns indicadores socioambientais os argumentos que justificam a degradação dos pobres.
Os maiores problemas da pobreza no Brasil da atualidade, estão na concentração urbana dos pobres, na degradação sanitária, na desigual distribuição da renda e no baixo padrão de consumo dos pobres.
O Brasil a partir dos anos cinqüenta, começou a viver um surto de modernização (industrialização, urbanização e crescimento econômico). Na verdade, esse modelo foi limitado e concentrado em áreas do Centro - Sul do país, gerando uma concentração urbana da pobreza.
A partir dos anos 70 a modernização da sociedade atinge o campo. Esse momento será marcado pelos CAIs (complexos agro-industriais). Identificado como modernização conservadora da agricultura, onde máquinas, ferramentas e produtos da indústria são produzidos para ampliar a produção agrícola. Modernização conservadora, pois não alterou a estrutura fundiária do país, que pela falta de uma reforma agrária nacional, favoreceu um forte deslocamentos de pessoas pobres do campo para os grandes e médios centros urbanos do país.
A migração rural - urbana em nosso país, gerou diferentes instalações da pobreza nos grandes centros urbanos, onde a submoradia, as deficiências sanitárias e os prejuízos ambientas são alguns dos aspectos da cultura da pobreza no Brasil.
Este estilo de desenvolvimento desigual, gerou uma urbanização da pobreza, com grades aglomerados populacionais, onde os bolsões de miseráveis são territorialmente expressivos. Pobres espremidos em áreas de riscos que na maioria das vezes são ilegais perante o poder público, não assistindo estas áreas de uma infra estrutura básica (água encanada, instalações sanitárias, eletrificação, saúde, educação, etc.).
Os assentamentos de pobres, são áreas ambientalmente frágeis e fora do zoneamento urbano. Em função das mínimas condições de instalação, com: elevados riscos de desabamento, sujeitas as enchentes, sem estrutura sanitária, pequenos espaços para famílias numerosas e as vezes agregadas, com acústica desapropriada para os altos ruídos, sem condições para se contrapor as variações de temperatura e vulnerável a sujeira, aos ratos, baratas e diversos tipos de doenças infecto-contagiosas.
Este é uma quadro pintado pela realidade dos grandes centros urbanos do país. Áreas como a Grande São Paulo e Rio de Janeiro, Salvador, Recife e todas as outras grandes e médias cidades brasileiras. São comuns as favelas, mocambos e palafitas em áreas de encostas, morros, no limites de movimentadas rodovias ou em baixo das redes de alta tensão elétrica.
As estimativas de 1960, feitas pelo IBGE, indicavam aproximadamente 16 milhões de pobres no Brasil. Em 1998, este número já estava na casa dos 45 milhões de pobres, amontoados em especial nos grandes centros urbanos.
A falta de assistência pública de serviços básicos é lamentável. Em muitos casos não existe água encanada e a colete de lixo nem sempre é feita, além da falta de instalações sanitárias, geram um acumulo de lixo, dejetos humanos e consumo de águas contaminadas que são os principais indicadores de doenças infecto-contagiosas.
A pobreza em nosso país é geral. Nas três últimas décadas acentuou-se mais ainda em função da grande concentração de renda e das disparidades regionais.
O crescimento econômico do Brasil, não veio acompanhado das melhorias sociais para a população de baixa renda, ficando excluída do consumo, de saúde, educação, moradia, qualificação, lazer, etc. Este modelo de desenvolvimento, concentrador e excludente, gerou disparidades regionais ainda maiores. Temos as regiões Nordeste e Norte como áreas marcadas fortemente pela pobreza de sua população.
Nessa cultura da pobreza, temos uma forte cobrança dos deveres e obrigações dos pobres, que vão desde a obrigatoriedade do voto para os analfabetos até ocupação em alguma atividade (produção), mas a estes mesmos pobres, são negados os direitos e garantias mínimas. É isto que identificamos como a cidadania incompleta, como raiz de sustentação da cultura e da degradação da pobreza, tanto a nível global, como a nível nacional, regional e local.
Notas:
LEWIS, Oscar. La Vida: a Puerto Rican Family in the Culture of Poverty: San Juan & New York, London (Panther Books), 1969. Tradução de F. Moonem.
2. MUELLER, Charles C. Problemas Ambientais de um Estilo de Desenvolvimento: A Degradação da Pobreza no Brasil. UnB/ Brasília: Ambiente e Sociedade - Ano I - nº 1 - 2º semestre de 1997.
3 Cf. Adriana Calcanhoto, Esquadros. Senhas. São Paulo: BMG/Ariola, 1996.
Belarmino Mariano Neto.
"Miséria é miséria em qualquer quanto. Riquezas são diferentes. A fome está em toda parte. (...) Índio, mulato, preto, branco. (...) A morte não causa mais espanto (...) Cores, raças, castas. Riquezas são diferentes." (Arnaldo Antunes/Sérgio Brito/Paulo Miklos, Titãs, BMG/Ariola, São Paulo, 1992)
Este trabalho objetiva relacionar idéias sobre a cultura da pobreza e a pobreza propriamente dita. Neste sentido, usaremos os escritos de Lewis (1969), A Cultura da Pobreza. E Mueller (1997) em um artigo que trata da Degradação da Pobreza no Brasil. Além de variados exemplos pertinentes ao tema, para substanciar nossa visão de pobreza enquanto uma condição social com viés físico ou material, e culturais. Sendo representados nos dias atuais como parâmetros para uma cidadania incompleta.
de enveredarmos pelos conceitos de Cultura da Pobreza, propostos por Lewis, ou pela degradação da pobreza de Muelle, enfatizaremos alguns cultuadores da pobreza como padres, poetas e pintores. Isto é, aqueles que vivem da cultura da pobreza e que geralmente não vivem na pobreza ou em sua cultura.
Os padres por fazerem seus votos de pobreza em uma visão do Cristo Primitivo, defensor de um reino em que os pobres seriam os bem aventurados. Pois para o cristianismo, seria "mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, de que um rico entrar no reino do céu". Os Franciscanos são um excelente exemplo dos cultuadores da pobreza.
Os poetas quando falam dos moribundos que perambulam pelas calçadas da vida, ou quando se alimentam com os restos podres da cidade. Ou quando escrevem sobre camas de papelão nos quartos de calçadas das grandes lojas de departamento que embalam os sonhos de cola dos meninos e meninas de rua.
Os pintores que povoam suas telas com uma geografia dos miseráveis, expressões de desconcerto do olhar, crianças barrigudas e casebres de taipa enquadrados e fixos, seguem expostos pelas ruas avenidas dos mais recônditos lugares.
O jans saído das fábricas e oficinas carregados de graça e fuligem em corpos operários, ganhou as ruas e passarelas da moda mundial. A cultura da pobreza lida pelo rústico e pela simplicidade do não ter, do despossuir tonificou esse modelo ou desenho social que serve de protesto e consumo, nos deixando confundidos, entre a cena, o cenário e a poesia do mercado concreto em seus diversos papeis.
O sonho de casamentos e amores impossíveis entre protagonistas ricos e pobres são os motivos de vasta literatura em que as tramas são construídas em dramas, tragédias e comédias. Aparecendo enquadrados pelos sonhos dos pobres encarcerados em seu real e pela "fome dos meninos que têm fome". E que geralmente, só se realizam nos melodramas das telenovelas "globais."
Lewis (1969), conceitua a Cultura da pobreza como sendo tanto uma adaptação quanto uma reação dos pobres a sua posição marginal numa sociedade estratificada em classes, altamente individualista, capitalista. Representa um esforço para enfrentar os sentimentos de desesperança e desespero que se desenvolvem quando verificam a impossibilidade de alcançar êxito de acordo com os valores e objetivos da sociedade envolvente.
Nesse contexto, temos como estrutura lógica da cultura da pobreza um modo de vida de parte da sociedade, na qual, suas características se materializam em diferentes momentos históricos, emergindo com maior força na sociedade moderna, em que, a idéia de pobreza e a natureza da pobreza toma maior corpo físico.
Tanto do ponto de vista de indivíduos, como de famílias, passando por regiões e países. A cultura da pobreza assume perfil espacial ou territorial, determinada pelas condições de classe, valores e atitudes que os pobres, assumido, tanto individualmente quanto coletivamente. Essa pobreza enquanto privação e dificuldades materiais vai se transformando em um modo de vida a ser transmitido pela sociedade e pela família.
Podemos pensar na origem da cultura da pobreza e não conseguimos data-la, mas a lógica aponta para os primeiros passos da história de exclusão, escravidão e submissão de povos ao longo das civilizações.
Na atualidade, podemos pensar nos Astecas do Novo México e nos negros de algum morro do Rio de Janeiro e lhes colocar tão distantes e tão próximos, pois ambos estão inseridos no contexto histórico da Cultura da pobreza. Pois foram submetidos aos choques culturais do início da modernidade. Um tempo tão presente que em menos de quinhentos anos globalizou a pobreza e condicionou homens, mulheres e crianças a condição subumana de alienação material e intelectual.
A quebra dos modelos tradicionais de organização social, pautados na comunhão, na solidariedade e no coletivismo, são condições favoráveis a instituição da cultura da pobreza. Isso, todos podemos ver em função dos ritmos acelerados de modernização. Quando essa quebra se processa, temos o florescer da cultura da pobreza como uma subcultura da sociedade.
O mudo social desajustado, cria relações de dominação do homem pelo homem. Estes são os pré requisitos mínimos para uma forte carga política e ideológica das experiências humanas. Temos então, as condições de segregação, violência, fome, subdesenvolvimento e exploração como molas propulsoras da cultura da pobreza. Na qual, os pobres vão em meio a sua realidade, incutindo geração após geração, um forte sentimento de marginalidade, de desamparo, de dependência, de inferioridade, de infortúnio e falta de aspirações.
No contexto Brasileiro, temos uma acentuada presença da cultura da pobreza, engendrada pelo modelo de desenvolvimento adotado neste país. Para entendermos a cultura da pobreza e sua materialização no Brasil, teremos como suporte o texto de Mueller (1997), que ao tratar da degradação da pobreza, especialmente nas cinco últimas décadas, faz uma crítica ao estilo de desenvolvimento adotado e como a ecologia econômica pode apontar soluções para as questões socioambientais em relação as camadas pobres da sociedade brasileira.
O autor ao identificar o modelo de desenvolvimento adotado no Brasil, como sendo desigual, ele busca em alguns indicadores socioambientais os argumentos que justificam a degradação dos pobres.
Os maiores problemas da pobreza no Brasil da atualidade, estão na concentração urbana dos pobres, na degradação sanitária, na desigual distribuição da renda e no baixo padrão de consumo dos pobres.
O Brasil a partir dos anos cinqüenta, começou a viver um surto de modernização (industrialização, urbanização e crescimento econômico). Na verdade, esse modelo foi limitado e concentrado em áreas do Centro - Sul do país, gerando uma concentração urbana da pobreza.
A partir dos anos 70 a modernização da sociedade atinge o campo. Esse momento será marcado pelos CAIs (complexos agro-industriais). Identificado como modernização conservadora da agricultura, onde máquinas, ferramentas e produtos da indústria são produzidos para ampliar a produção agrícola. Modernização conservadora, pois não alterou a estrutura fundiária do país, que pela falta de uma reforma agrária nacional, favoreceu um forte deslocamentos de pessoas pobres do campo para os grandes e médios centros urbanos do país.
A migração rural - urbana em nosso país, gerou diferentes instalações da pobreza nos grandes centros urbanos, onde a submoradia, as deficiências sanitárias e os prejuízos ambientas são alguns dos aspectos da cultura da pobreza no Brasil.
Este estilo de desenvolvimento desigual, gerou uma urbanização da pobreza, com grades aglomerados populacionais, onde os bolsões de miseráveis são territorialmente expressivos. Pobres espremidos em áreas de riscos que na maioria das vezes são ilegais perante o poder público, não assistindo estas áreas de uma infra estrutura básica (água encanada, instalações sanitárias, eletrificação, saúde, educação, etc.).
Os assentamentos de pobres, são áreas ambientalmente frágeis e fora do zoneamento urbano. Em função das mínimas condições de instalação, com: elevados riscos de desabamento, sujeitas as enchentes, sem estrutura sanitária, pequenos espaços para famílias numerosas e as vezes agregadas, com acústica desapropriada para os altos ruídos, sem condições para se contrapor as variações de temperatura e vulnerável a sujeira, aos ratos, baratas e diversos tipos de doenças infecto-contagiosas.
Este é uma quadro pintado pela realidade dos grandes centros urbanos do país. Áreas como a Grande São Paulo e Rio de Janeiro, Salvador, Recife e todas as outras grandes e médias cidades brasileiras. São comuns as favelas, mocambos e palafitas em áreas de encostas, morros, no limites de movimentadas rodovias ou em baixo das redes de alta tensão elétrica.
As estimativas de 1960, feitas pelo IBGE, indicavam aproximadamente 16 milhões de pobres no Brasil. Em 1998, este número já estava na casa dos 45 milhões de pobres, amontoados em especial nos grandes centros urbanos.
A falta de assistência pública de serviços básicos é lamentável. Em muitos casos não existe água encanada e a colete de lixo nem sempre é feita, além da falta de instalações sanitárias, geram um acumulo de lixo, dejetos humanos e consumo de águas contaminadas que são os principais indicadores de doenças infecto-contagiosas.
A pobreza em nosso país é geral. Nas três últimas décadas acentuou-se mais ainda em função da grande concentração de renda e das disparidades regionais.
O crescimento econômico do Brasil, não veio acompanhado das melhorias sociais para a população de baixa renda, ficando excluída do consumo, de saúde, educação, moradia, qualificação, lazer, etc. Este modelo de desenvolvimento, concentrador e excludente, gerou disparidades regionais ainda maiores. Temos as regiões Nordeste e Norte como áreas marcadas fortemente pela pobreza de sua população.
Nessa cultura da pobreza, temos uma forte cobrança dos deveres e obrigações dos pobres, que vão desde a obrigatoriedade do voto para os analfabetos até ocupação em alguma atividade (produção), mas a estes mesmos pobres, são negados os direitos e garantias mínimas. É isto que identificamos como a cidadania incompleta, como raiz de sustentação da cultura e da degradação da pobreza, tanto a nível global, como a nível nacional, regional e local.
Notas:
LEWIS, Oscar. La Vida: a Puerto Rican Family in the Culture of Poverty: San Juan & New York, London (Panther Books), 1969. Tradução de F. Moonem.
2. MUELLER, Charles C. Problemas Ambientais de um Estilo de Desenvolvimento: A Degradação da Pobreza no Brasil. UnB/ Brasília: Ambiente e Sociedade - Ano I - nº 1 - 2º semestre de 1997.
3 Cf. Adriana Calcanhoto, Esquadros. Senhas. São Paulo: BMG/Ariola, 1996.
segunda-feira, 26 de março de 2012
RELATOS DE AÇÕES DA UEPB GUARABIRA
|
RELATÓRIO DO CH/UEPB
2010/2011
2010 - Diretor:
Belarmino Mariano Neto
Diretora Adjunta:
Wanilda L. Vidal de Lacerda
2011 - Diretor:
Belarmino Mariano Neto
Diretor Adjunto: Agassiz
Almeida Filho
|
A Direção do CH vem
através do presente relatório dar ciência à comunidade acadêmica e as esferas
administrativas da UEPB, das diversas atividades acadêmicas, administrativas e
situações que tem tido lugar no Centro de Humanidades durante os anos
2010/2011. Vale destacar que muitas das conquistas durante estes dois ultimos anos, só foram possíves devido a autonomia da uepb como um todo.
O Centro de Humanidades
(CH), instalado no Campus III da UEPB, Guarabira, realiza estudos, pesquisas e
extensões em nível de graduação e pós-graduação, distribuídas em cinco
departamentos, sendo eles: Departamento de Geografia; Departamento de História;
Departamento de Letras; Departamento de Educação e; Departamento de Ciências
Jurídicas. São cinco (05) cursos de graduação nas áreas de História, Geografia,
Letras (Línguas: Habilitação I – Língua Portuguesa e Habilitação II – Língua
Inglesa), Educação (Pedagogia) e Ciências Jurídicas (Direito).
domingo, 25 de março de 2012
Guarabira: Professor Pegoraro (Bolonha/Itália) Ministra Curso na UEPB/CH
Professor Lucio Pegoraro (Bolonha/Itália)
O Departamento de Direito do Centro de
Humanidades receberá, no próximo dia 27 de março, durante a manhã e tarde, o
professor Lucio Pegoraro, Catedrático de Direito Constitucional Comparado da
Universidade de Bolonha, na República da Itália. O professor Pegoraro, um dos
grandes nomes do Direito Público italiano, vem à UEPB para ministrar um Curso
sobre Jurisdição Constitucional e Direitos Fundamentais. Foram disponibilizadas
vagas para os cursos de Direito de Guarabira e Campina Grande. Na oportunidade,
o jurista italiano também analisará alguns aspectos dos art. 1º da Constituição
brasileira de 1988, tema sobre o qual escreveu a convite do professor Agassiz
Almeida Filho (Vice-Diretor do CH). Essa atividade conta com o apoio do Centro
de Referências em Direitos Humanos do Agreste da Paraíba, da Coordenação da
Especialização em Direitos Fundamentais e Democracia e do Centro Acadêmico de
Direito – CAD em Guarabira.
segunda-feira, 19 de março de 2012
A geografia de Luto
“Aprendi muito com o professor [Aziz]. O principal, para mim, foi descobrir que havia poesia na geografia.”
Cynara Menezes
16.03.2012 19:17 (site Carta Capital)
Aziz e eu
Se há algo bom de verdade nesta profissão de jornalista é ter a oportunidade de conhecer gente sábia. Eu posso dizer que tive a honra de conhecer alguns sábios ao longo da minha carreira. Um deles morreu hoje, aos 87 anos, mansamente, em sua casa em Cotia (SP): o geógrafo Aziz Ab’Saber. O Brasil perde um grande intelectual e um ser humano maravilhoso.
quarta-feira, 14 de março de 2012
Da discordia ao Discordianismo
Discordianismo - Por: belarmino mariano neto - belogeo@yahoo.com.br -
Podemos começar pensando o discordianismo na perspectiva mitológica, isso para encontrarmos uma idéia de deidade ou divindade da discórdia. Essa divindade é de sexualidade feminina. Éris - Uma das divindades primordiais, filha de Nix (a Noite). Em outras versões, é mencionada como filha ou irmã de Ares, o deus da guerra. Acompanhava-o aos campos de batalha, disseminando ódio entre os combatentes. Nix era Filha de Caos, um espaço aberto, matéria rude e informe, à espera de ser organizada, princípio de todas as coisas. Nesse espaço surgiu a Terra (Gaia). Nix gerou uma infinidade de deuses como Nêmesis (a Vingança), Momo (o Sarcasmo), Tánatos (a Morte), Hypnos (o Sono), Éris (a Discórdia). Nix envolvia o Caos como uma sólida casca, dando-lhe o aspecto de um ovo. No interior desse ovo gigantesco originou-se o primeiro ser: Fanes (a Luz). Este ser, unindo-se a Nix, engendrou o Céu e o próprio pai dos deuses. Segundo outra corrente da cosmogonia órfica, Nix não formava uma casca. Era uma ave negra de enormes asas. Fecundada pelo vento, pôs um ovo de prata no seio da Escuridão. Desse ovo saiu Eros, o Amor Universal.
Podemos começar pensando o discordianismo na perspectiva mitológica, isso para encontrarmos uma idéia de deidade ou divindade da discórdia. Essa divindade é de sexualidade feminina. Éris - Uma das divindades primordiais, filha de Nix (a Noite). Em outras versões, é mencionada como filha ou irmã de Ares, o deus da guerra. Acompanhava-o aos campos de batalha, disseminando ódio entre os combatentes. Nix era Filha de Caos, um espaço aberto, matéria rude e informe, à espera de ser organizada, princípio de todas as coisas. Nesse espaço surgiu a Terra (Gaia). Nix gerou uma infinidade de deuses como Nêmesis (a Vingança), Momo (o Sarcasmo), Tánatos (a Morte), Hypnos (o Sono), Éris (a Discórdia). Nix envolvia o Caos como uma sólida casca, dando-lhe o aspecto de um ovo. No interior desse ovo gigantesco originou-se o primeiro ser: Fanes (a Luz). Este ser, unindo-se a Nix, engendrou o Céu e o próprio pai dos deuses. Segundo outra corrente da cosmogonia órfica, Nix não formava uma casca. Era uma ave negra de enormes asas. Fecundada pelo vento, pôs um ovo de prata no seio da Escuridão. Desse ovo saiu Eros, o Amor Universal.
Manejo da Agrobiodiversidade do Agreste paraibano
Importante estudo sobre manejo da agrobiodiversidade do Agreste da PB, a partir de variedades de mandiocas, produzidas por agricultores em pequenas propriedades da região pesquisada. Esse estudo foi desenvolvido pela pesquisadora ANA LAURA BEZERRA MANTOVANI e estar baseado no novo paradigma ambientalista, com ênfase para a relação sociedade natureza. para os interessado em toda a dissertação, encontra-se disponível no link abaixo:
segunda-feira, 5 de março de 2012
Geógrafo David Harvey analisa a crise mundial
Folha São
Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 2012
Crise
beneficia os mais ricos, diz geógrafo Para David Harvey, a lógica das políticas
de austeridade é perpetuar o desastre econômico e concentrar mais o
poder Professor vê ascensão do nacionalismo e diz esperar movimentos mais
sólidos contra a desigualdade no mundo
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