quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A Marcha do Silêncio - Escutaram?

Por Ramiro Pinto Guarani Kaiowá e Italo Jones Marinho

"Neste dia 21/12/2012, enquanto o mundo brincava de apocalipse, os verdadeiros descendentes dos maias, vivos e reais, nos mandaram das montanhas de Chiapas uma importante mensagem, que surpreendeu o México hoje de manhã. Em diferentes municípios da região Sudeste, milhares de indígenas integrantes do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) iniciaram o dia em grandes marchas por diferentes estradas e cidades. A manifestação, organizada até a véspera em sigilo, foi pacífica e surpreendentemente silenciosa. Em todas as marchas, o silêncio foi absoluto. Nenhuma palavra de ordem, nenhum cântico, nenhum grito de protesto. Ao final do dia finalmente foi divulgado um comunicado oficial do líder máximo do EZLN, Subcomandante Marcus, dizendo apenas: “Escutaram? É o som do mundo de vocês desmoronando. E do nosso ressurgindo”. Como sabemos, os maias nunca falaram em “fim do mundo” (tampouco jamais conceberam essa ideia). Ao contrário, em um gigantesco silêncio, nos disseram hoje que um mundo novo, uma nova era, está começando. E que os ideais zapatistas estão de volta." ...
vejam o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=qH8nxafgKdM&ytsession=fjVB5NHc2oINjP7szyWMCrP1yE6g0E3iFCAV5j13nu9MJyb0FmYxA2lrnUEM6f7f82yU3Dixc-sn4aGiTv3RjJZoeRGtgQOuTDH_eGte7f12dVxSZwxu3nHY56XQiZBppzM0OYQBLgXzPP2p7yrxKdrkRzrgTO5gPPDbf6G_Bi9xyIxaQxiET-GqlaKK33ELNDvFesNtv_kOtaJHCPDQdDRcShCXcozofcQm4QAci3s
veja mais informações - http://noticias.terra.com.br/mundo/america-latina/mexico-zapatistas-marcham-para-lembrar-massacre-de-indigenas,fecf248f5efbb310VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html ...

domingo, 23 de dezembro de 2012

APONTAMENTOS DAS AULAS DE TEORIA DA GEOGRAFIA



                                            Figura - Categorias Essenciais da Gegrafia - Esquema do Prof. Belarmino Mariano Neto, 2006.


(Autora): FERNANDA DANNIELLY SOUZA ARAÚJO


Introdução

Durante as aulas de Teoria da Geografia, no Centro de Humanidades da UEPB, em Guarabira/PB, foram abordadas discussões baseadas em livros escolhidos pelos próprios alunos, o que nos deu liberdade para escolhermos o assunto que mais nos interessasse. Orientados pelo professor Belarmino Mariano Neto, usamos como base teórica a linha de estudo ESPAÇO – TEMPO – SOCIEDADE – NATUREZA, e o mesmo não poderia usar citação melhor que: “O homem é a natureza adquirindo consciência de si próprio” (RECLUS, In: ANDRADE,1985), citação esta que resume todo e qualquer tema abordado, uma vez que sendo parte da natureza, o homem/natureza/sociedade que por si, modifica-se, declina-se e edifica-se.
Livros como “A Educação Para Além do Capital” (MÉSZÁROS, 2005), “Economia Espacial” (SANTOS, 2003), “Reflexões Sobre Teoria e Critica em Geografia” (GOMES, 1991), “A Geografia – isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra” (LACOSTE, 1988), “A Questão Agrária no Brasil” (MENDONÇA, 2010), entre outros, foram analisados e discutidos, se não a obra completa, pelo menos um ou mais capítulos das mesmas.
Em sua maioria, as obras discutidas em aula, sempre acabavam nos motivando a falar sobre a luta de classes, o capitalismo, o meio ambiente, cultura, sobre a ação do homem sobre a natureza, o conhecimento escolar, conhecimento da vida. Estas discussões serão de suma importância para a nossa vida acadêmica, levando em consideração que a maioria dos livros eram teorias voltadas a Geografia, como ciência; e a prática do ensino geográfico, como disciplina, mas também têm grande importância para nossa vida fora da universidade, levando em conta o amplo conhecimento que tivemos acerca das mazelas que cercam a sociedade, mas também teorias esclarecedoras de como a práxis geográfica pode ser aplicada a esses problemas.
Aqui, uma breve análise do livro discutido por mim, A educação para além do capital, onde o autor, Stiván Mészáros (2005), critica a forma como deixamos o capitalismo atuar na nossa vida, fazendo com que a vivamos no intuito de obter um trabalho, estudando, só e somente só, para essa destinação: O mercado de trabalho, indagando, segundo Marx, se a aprendizagem conduz a auto realização dos indivíduos como indivíduos socialmente ricos, e ainda, se o conhecimento é o elemento necessário para transformar em realidade o ideal da emancipação humana, ou seja, se a educação, somente para chegar ao mercado, limitando assim o período da educação institucionalizada. Não esquecendo que, tão importante quanto esse conhecimento acadêmico ou até mais importante que o mesmo, é a educação e o conhecimento para a vida, o conhecimento de mundo segundo nossas próprias visões, o direito de não apenas “decorar”, mas de aprender para viver, segundo Mészáros (2005), nós vivemos o que alguns chamam de “novo analfabetismo” – porque é capaz de explicar, mas não de entender.
Assim, podemos concluir que, como este acima, os livros debatidos têm sua importância não só para chegarmos ao mercado de trabalho, mas de entender mais sobre a vida, sobre a geografia e sua atuação (na vida), sobre a necessidade de ter conhecimento não só acadêmico, mas VIVIDO, para a obtenção de êxito na vida.

REFERÊNCIAS
ANDRADE, Manuel Correia de (org).  Elisée Reclus.  Geografia, coleção Grandes cientistas sociais. São Paulo: Ática, 1985.
GOMES, Horieste. Teoria do conhecimento. In:________. Reflexões sobre teoria e critica em geografia. Goiás: CEGRAF/UFG, 1991, p.17-27. 
LACOSTE, Yves.  A geografia – isso serve, em primeiro lugar para fazer guerra. Tradução Maria Cecília França – Campinas, SP: Papirus, 1988.
MENDONÇA, Sônia Regina. A questão agrária no Brasil: a classe dominante agrária – natureza e comportamento 1964 \ 1990; 2°.ed.São Paulo: Expressão Popular, 2010.
MÉSZÁROS, Istvan. A Educação para além do Capital. São Paulo: Bom tempo, 2005.
SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. 5°ed., São Paulo: editora da universidade de São Paulo, 2008.
SANTOS, Milton. Economia espacial: críticas e alternativas. São Paulo: Hucitec, 1979.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

ANÁLISE TEÓRICA DO CAPÍTULO OITO DO LIVRO CAPÍTULOS DE GEOGRAFIA AGRÁRIA DE EMÍLIA MOREIRA E IVAN TARGINO



Fotografia de Belarmino Mariano Neto, Alagoa Grande/PB, 2011

Equipe:
Alainí da Silva Oliveira
Ana Cristina de Brito Santos
Itamar Nunes da Silva


INTRODUÇÃO

O presente trabalho é fruto da discussão sobre os referenciais teóricos de geografia, iniciada em sala de aula na disciplina de teoria da geografia, ministrada pelo professor Belarmino Mariano Neto, no período 2012.2.   Inicialmente o estudo aconteceu individualmente, onde os estudantes escolheram diferentes autores, seguindo os referenciais sugeridos pelo programa da disciplina e posteriormente a ideia foi juntar as leituras para reflexão em equipe, onde fizemos, então, a leitura coletiva dos autores. 
O livro escolhido tem como título, Capítulos de geografia agrária da Paraíba dos autores Emília Moreira e Ivan Targino (1997), aborda a questão agrária no estado da Paraíba, os autores também fazem um resgate do processo de formação e evolução da organização do espaço agrário paraibano desde a conquista do território aos anos de 1960 do século XX, destacando as mudanças nele ocorrida ao longo das décadas. Para os autores, o espaço agrário paraibano não constituiu uma realidade homogênea dada e acabada, mas um produto heterogêneo da ação diversificada do homem sobre a natureza.
Escolhemos precisamente o capitulo oito, “os movimentos sociais no campo e as conquistas da classe trabalhadora” para focar o nosso estudo, pois ele relata a luta dos agricultores com e sem terra, ele aborda ainda, o processo de exploração e expropriação, a vida e o sofrimento dos camponeses e toda a luta sindical, explicando a questão da luta pela reforma agraria, partilhas que nem sempre são pacíficas, muito pelo contrario, durante esses processos centenas de pessoas e líderes sindicais foram brutalmente assassinadas.
Percebemos que durante o processo de exploração e expropriação, marcado geralmente pela violência, os agricultores resistem às tentativas de retomadas dos “donos de terras” e os proprietários os agridem fisicamente, moralmente, e principalmente destruindo suas colheitas, assim os obrigando a desistirem dos movimentos reformistas.
Observamos também que a Igreja durante anos foi contraria a esse movimento, ficando, em muitos casos, a favor dos proprietários, só após ver o massacre que estava se tornando a reforma agraria, com a morte de centenas de pessoas, é que a ala mais consciente da Igreja Católica (ala progressista) passa a lutar em favor dos agricultores, mas infelizmente muitas vezes ela era neutra ou reagia de forma inesperada a favor de seus próprios interesses, assim como o governo, cujo papel deveria ser fortalecido através de melhorias na assessoria jurídica.
É impossível falar em reforma agraria sem abordar a questão da violência no campo, pois elas estão intimamente ligadas, a violência acontece de diversas maneiras, através despejos, das destruições das casas e lavouras dos agricultores pelos proprietários, de prisões, torturas e assassinatos. Estes são os primeiros apontamentos feitos a partir da leitura da obra de Moreira e Targino (1997).

Análise teórica do capítulo oito “Os movimentos sociais no campo e as conquistas da classe trabalhadora”.

Para realizarmos este trabalho os autores nos conduziram por uma breve volta ao passado, então, percebemos que a questão da disputa por terras é bem antiga, nos remonta ao “descobrimento” do Brasil, mas precisamente no ano de 1530, onde a questão fundiária brasileira era muito complexa para ser abordada na prática. Pois a coroa portuguesa via-se numa necessidade de expandir o território recém-invadido, além de descobrir a real dimensão da extensão territorial e do tipo de terras que se tinha na colônia e também pelo temor de Portugal de mais invasões estrangeiras, visto que, na época, piratas ingleses, franceses e holandeses constantemente saqueavam as riquezas recém-descobertas da colônia (MOREIRA e TARGINO, 1997).
Por os autores, esse foi o motivo para se criar o sistema de capitanias hereditárias, que consistia em distribuir para os membros da coroa portuguesa vastas porções de terras do território brasileiro divididas em faixas de linhas imaginárias que partiam do litoral até a delimitação imposta.
Ainda dentro dos caminhos da História agrária brasileira, Moreira e Targino (1997) afirma que depois de séculos de disputas por terras, surge à necessidade de transforma-la em um bem, em um capital que pertenceria à determinada família que seriam os proprietários. Pois a terra é um bem natural que nunca envelhece e tem seu valor constantemente elevado. A partir de 1850, com a criação da Lei 601, conhecida como a Lei de Terras, a terra passa a ser uma mercadoria que pertenceria a quem pudesse pagar por ela, ou seja, ao proprietário juridicamente reconhecido pela lei, e não mais a quem quisesse ou pudesse ocupa-la. A terra passa, então, a ser altamente importante para a economia brasileira desenvolvendo também o capitalismo, pois a terra agora era vista como uma mercadoria de alto valor.
Os autores afirmam que os maiores prejudicados com essas medidas foram os imigrantes, os ex-escravos e os camponeses que foram expulsos, pelos novos donos, do lugar onde viviam, onde até então pertencia a eles, porque não tinham condições de pagar o valor da terra que era estabelecido pelo governo. Foi a partir desse momento mais precisamente em 1950, que o advento da industrialização e da urbanização que a sociedade vai se voltar para a real importância da terra. Fala-se, então, em Reforma agrária afim de, minimizar anos de injustiças, o que consistia em uma doação do governo de terras que eram improdutivas a determinadas famílias de agricultores para que eles pudessem morar e produzir na terra, através da agricultura de subsistência, melhorando a vida de inúmeras famílias e diminuindo as desigualdades. Criam-se, então, leis, ligas e sindicatos que pudessem defender o direito dos camponeses, a exemplo da Superintendência de Reforma Agrária (SUPRA), do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e do Ministério Extraordinário para o Desenvolvimento e Reforma Agrária (MIRAD).
A partir desse histórico, Moreira e Targino (1997) aborda a questão social no campo de forma a defender a classe trabalhadora, o que eles expõem no capítulo oito que é o objeto de nosso estudo. Baseado no estudo desses dois autores paraibanos, observamos que a diminuição do trabalho manual na zona rural nas ultimas décadas do século XX se deu por causa do processo de modernização da agricultura que foi responsável por modificar profundamente as relações de trabalho no campo, o que excluiu o trabalhador rural de seu ambiente habitual de trabalho. Foi por esse motivo que muitos trabalhadores se uniram em grupos sindicais de assentamentos rurais afim de, evitar o processo de exclusão trazido pela modernização, de lutar pela exploração do trabalho, expulsão e expropriação da terra e afim de, se fortalecer contra os grandes latifundiários.
A ênfase maior é dada a organização dos trabalhadores rurais frentes a luta contra a exploração do trabalho e por melhores condições de vida, não só dos agricultores assentados mais também dos assalariados da cana de açúcar, que segundo Moreira e Targino, “na atividade canavieira, as jornadas de trabalho são muito longas, podendo alcançar até dez horas, ganha-se por diária, avaliada através da jornada cumprida” (MOREIRA; TARGINO, 1997, p.283).
Ou seja, para os autores, as condições de trabalho dos canavieiros são piores que a dos agricultores, pois eles têm uma grande precariedade no transporte para o local de trabalho, não tem água potável, falta equipamento de proteção, entre outras coisas que torna esse trabalho altamente precarizado, por esses motivos eles precisam de uma grande defesa sindical. Eles também enfatizam no capitulo a luta contra a expulsão e expropriação que para os sindicalistas se configura no direito de ficar e viver na terra, não se submetendo ao capitalismo.
Moreira e Targino (1997) destacam que o crescente número de assentamentos tem servido para demostrar a importância da luta dos agricultores pela Reforma Agrária, no estado da Paraíba a luta pelo retorno a terra é uma questão recente e se caracteriza pela ocupação de imóveis por trabalhadores assalariados. Essas ações têm sido mediadas pelo movimento dos sem terras, atuando na Paraíba desde 1992 e pela Comissão Pastoral da Terra. Dessa forma com a ajuda organizacional levanta-se “acampamento” e inicia-se o processo de ocupação do imóvel, dando surgimento, mais tarde, a um novo assentamento de reforma agrária. De acordo com os autores do livro ao qual estamos analisando,
"Para o homem do campo, a terra representa não apenas a possibilidade de sua sobrevivência, mas também a garantia de poder permanecer com sua família no seu local de origem, livre da sujeição do cambão ou do trabalho alugado. A terra constituiu ainda para o camponês o único bem e a única herança possível de ser deixada para a família. Em outras palavras a terra confere dignidade ao pequeno produtor" (MOREIRA; TARGINO, 1997, p. 295).

Os autores afirmam literalmente que para o pequeno agricultor, aquele que está na labuta diária trabalhando na terra, esperando sua lavoura colher para com isso alimentar sua família, a terra não é apenas um produto, ela é a sua casa, o seu meio de vida e de subsistência. Já para os grandes latifundiários a terra é um produto que gera para eles lucro e aumenta, com isso, o seu capital pessoal. E é por esse motivo que eles querem toma-la dos camponeses.
Consequentemente chegamos às mesmas conclusões dos autores em relação aos conflitos de terras, pois ao longo de nossa abordagem teórica tentamos manter a mesma linha de raciocínio, principalmente ao abordarmos essa temática, concordamos com Moreira e Targino quando os mesmos afirmam que o conflito de terras é fruto do choque de interesses entre capital e trabalho representado, de um lado, pela necessidade de subordinação da produção à lei do lucro e, do outro, pelo direito de permanecer na terra, de viver na terra e garantir a sobrevivência da unidade familiar de produção. (1997, p.296).
É estabelecido nesse capítulo que a exploração da maioria dos conflitos de terras se dá por meio da exploração agropecuária que ocorre por mudanças de utilização do solo e nas relações sociais de produção, através do capitalismo. Já que falamos de exploração falaremos também de expulsão que segundo os autores inicia por dois métodos, através da morte do antigo dono quando a terra é subdividida entre os herdeiros e por meio da venda da propriedade, o que na maioria dos casos ocasiona na expulsão dos moradores que só tinham como garantia, um contrato verbal com os antigos proprietários.
Esse processo despertava inúmeras reações nos trabalhadores, como, por exemplo, a destruição das plantações de cana e capim, a solicitação jurídica de manutenção de posse, acampamentos em praças públicas e ocupando da sede local do Incra, a fim de, permanecerem na terra. Os agricultores resistiam não só a expulsão, mas também a subordinação a que a terra estava sujeita á monocultura e à pecuária, pois eles tinham “fome de alimento” e não só de lucro, ou seja, a terra era o seu meio de sobrevivência e não de enriquecimento.
Os autores relatam importantes aspectos da resistência camponesa, pois quando os camponeses reagiam por meio dos acampamentos seja em praças públicas ou na sede do Incra, era uma forma estratégica de despertar a ação do Estado por meio de seu ultimo recurso pressionando ao máximo o Estado para que o mesmo tomasse medidas imediatas, e ao mesmo tempo era uma maneira dos trabalhadores fugirem da violência dos donos de terras e com isso divulgarem o conflito para a sociedade.
O livro em seu capitulo oito, traz importantes dados sobre muitos conflitos por terra na Paraíba a exemplo dos conflitos: da Fazenda Gomes, em Alagoa Grande, que foi considerado o mais grave conflito do Estado; da fazenda Tabatinga/Jacumã no município do Conde; em João Pessoa e em Praia de Campina e em Rio Tinto, são marcados pela forte presença da violência, que ocasionam nessas áreas inúmeros assassinatos principalmente dos líderes sindicais como em Margarida Maria Alves em Alagoa Grande e Zé de Lela e Bila no Conde. A grande maioria desses crimes praticados á luz do dia permanecem até hoje impunes. Em áreas de conflito a violência no campo esta sempre presente seja por meio da destruição das lavouras, dos despejos ou por meio das prisões, torturas e assassinatos, o trabalhador rural sempre é o paciente dessa violência.
Ao término da leitura e análise do capítulo abordado compreendemos o real significado das palavras reforma agrária, principalmente no Estado ao qual pertencemos, a jornada dos trabalhadores rurais é bastante dura, mas caminha, embora a passos lentos, para uma melhoria na vida desses camponeses, o governo já propicia algumas leis que facilitam um pouco mais essa questão de terras, principalmente no que diz respeito a exploração e expropriação como é o caso da Constituição de 1988 assegurou o direito por parte da União à desapropriação de terras particulares para fins de reforma agrária, o que aumenta as chances de inúmeras famílias sem terras de conseguirem seu pedacinho de chão.

REFERÊNCIAS
MOREIRA, Emília, TARGINO, Ivan. Capítulos de Geografia Agrária da Paraíba. In ____ Os movimentos sociais no campo e as conquistas da classe trabalhadora. João Pessoa: Editora Universitária/UEPB, 1997, p. 279 – 331.

APONTAMENTOS PARA A DISCIPLINA DE TEORIA DA GEOGRAFIA


Fotografia: Belarmino Mariano Neto - Rio Tinto/PB, 2010.

Fabiana França; Maria Joseane Coutinho; Jacielly de Bulhões Alves (Estudantes de Geografia da UEPB/CH - Período 2012.2)

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é fruto de leituras coletivas de vários autores de forma individual e de uma discussão teórica feita em sala de aula com o objetivo de dar inicio a um dialogo sobre as teorias e conceitos da geografia. Os estudos e reflexões foram iniciados a partir da Disciplina de Teoria da Geografia, Ministrada pelo Professor Belarmino Mariano Neto, durante o período 2012.2.
No decorrer do trabalho falaremos de capítulos das obras de autores como Andrade (1987), Corrêa (2010) e Quaini (1992), mostrando que na geografia, assim como em outras ciências existe antes de uma pratica uma teoria, onde dar-se inicio a historia de muitas ciências a questão da sua relação com outras ciências dificultando encontrar o seu objeto de estudo.
Os autores citados discutem os vários conceitos da geografia, desde muito antes da institucionalização da geografia, quando a geografia ainda era conhecida como pensamento geográfico, pois o homem tinha necessidade de conhecer o meio onde vivia e desfrutar de alguns elementos da natureza, então precisava de uma ciência que lhe favorecesse caminho para esse desfrute. A geografia que tinha, e até hoje tem conceitos que a definem como a ciência que estuda o espaço e a relação do homem com a natureza, foi realmente o que mais se enquadrou na necessidade humana abordada pelos autores escolhidos.
O livro: “Geografia: ciência da sociedade: Uma introdução a analise do pensamento geográfico” de Manoel Correia de Andrade, mais precisamente o capitulo um, tende a explicar a geografia como conhecimento geográfico e como ciência institucionalizada onde ambas surgem da necessidade e da capacidade do ser humano em modificar e de desfrutar dos recursos disponíveis na natureza, então a partir desse entendimento tende-se a obter um desenvolvimento da interpretação do processo de relação sociedade e natureza.
Neste capitulo, um dos conceitos da geografia é a ciência que faz uma descrição da superfície da terra. Diante desse conceito e partindo para ao lado da geografia política e da geopolítica, era partir do mesmo que os Europeus e estadunidenses fortaleciam a ideia de que a geografia servia apenas para catalogar nomes de montanhas, rios, mares, cidades, países, e recursos produzidos, para que então esses povos avinhassem a conhecer o que poderiam retirar de povos e países conquistados.
Andrade (1987) afirma que entre os séculos XIX e XX surgiu outro conceito, Emanoel de Martonne define a geografia como a ciência que estuda a distribuição dos fenômenos fiscos biológicos e humanos pela superfície da terra. A partir desses séculos no quais a geografia se institucionaliza eis que surge ainda outro conceito, “A geografia é uma ciência que estuda a relação entre a sociedade e a natureza, a forma como a sociedade organiza o espaço terrestre, visando melhor explorar e dispor dos recursos da natureza” (ANDRADE,1987). Até hoje esse é o conceito mais aceito, que mais identifica o objeto de estudo da geografia.
A questão da interdisciplinaridade da geografia foi o que dificultou encontrar o seu objeto de estudo, pois a geografia tinha e ainda tem uma grande relação com outras disciplinas como a sociologia, a antropologia, a biologia, a economia, a psicologia, cartografia, a astronomia, entre outras. Mesmo assim, Andrade (1987) fala ainda sobre a possibilidade de uma única geografia que integre o humano, o social e o físico, criando assim para a geografia um caráter social, por isso ele considera a geografia uma ciência da sociedade.
Quaini (1992) em sua obra “A construção da geografia humana”, procura interpretar o período moderno da evolução da ciência geográfica e se concentra na gradual diferenciação que apresenta até o pleno estabelecimento da geografia humana, durante o século XIX e as primeiras décadas do século atual. Nos capítulos iniciais faz a critica os métodos na historia da geografia, das ciências sociais e sustenta a hipótese de que é no “século das luzes” que surge a concepção da geografia humana moderna.
Nos capítulos de maior importância, dedica-se à periodização da geografia humana positivista, ao estudo histórico das relações entre o iluminismo e a geografia, e por fim, a discussão de duas possíveis linhas alternativas na evolução da geografia humana: Uma estatística e conservadora e outra integradora e democrática. O capitulo final engloba temas relativos a ideologia na geografia, nele o autor expõe que para a geografia, as questões ideológicas são muito serias por serem discutíveis, se encontram entre outros, no centro do debate contemporâneo na ciência.
Corrêa (2010) em sua obra “Trajetórias geográficas” demonstra as mudanças que ocorreram em todo o espaço geográfico. Como a sociedade capitalista retira do meio ambiente, matérias-primas, além de ter como principal assunto abordado o meio urbano e tudo que nele se insere; mudanças aconteceram nos lugares onde na atualidade, se localiza grandes cidades e metrópoles poderiam ser antes locais de florestas, mais o homem através do se trabalho em sociedade os modificou.
Para Corrêa (2010), com as grandes cidades vêm graves problemas urbanos. As grandes cidades capitalistas constituem também o lugar onde o meio ambiente apresenta-se com a mais complexa espacialidade o que se pode ser identificado de modo geral nas metrópoles são: O núcleo central; A zona periférica do centro; As áreas fabris; Os subcentros comerciais; As áreas residências da classe dominante; As áreas residenciais populares.
Assim cada uma destas áreas, cada um destes ambientes constitui uma base e existência social, os desiguais ambientes são em realidade simultaneamente perversos e funcionais, perversos porque contribuem para a reprovação de cidadãos desiguais funcionais porque a desigualdade é necessária e parte integrante de uma sociedade de classes: a extinção das desigualdades colocaria em risco a própria sociedade de classes (CORRÊA, 2010).
É neste meio onde a ação do Estado, se comparada as grandes corporações capitalistas, via de regra, é limitada, surgem novas regras, códigos e poderes que, ao mesmo tempo em que exercem vigoro controle social, criam modos de vivencias. Mas aos Estados e governos, cabem as políticas públicas e os investimentos em infraestrutura que contribuem para profundas transformações do espaço urbano e consequentemente valorização capitalista das áreas, com investimentos públicos.
Percebe-se o entrelaçamento da Geografia com a ordem no mundo, seja através da ciência, da sociedade ou pelas diversas manifestações da mesma. O que caracteriza a importância dos debates para a evolução do pensamento geográfico, demonstrando que a ciência geográfica está viva, seja em momento de crise da ciência ou renovação da mesma. As controvérsias colaboram assim, para análises epistemológicas que motivam a avanços no pensamento.

Referências:

CORRÊIA, Roberto Lobato. Trajetórias geográficas. São Paulo: Bertrand, 2010. P. 90-120
ANDRADE, Manoel Correia de. Geografia, ciência da sociedade: uma introdução a analise do pensamento geográfico. São Paulo: Atlas, 1987.
QUAINI, Massimo. A construção da geografia humana. Rio de Janeiro: Terra e paz,1992.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Pesquisa da Unesp mostra relação entre a expansão de atividades do agronegócio e o crescimento da pobreza


Extraído do (Ecodebate, 19/12/2012) publicado pela IHU On-line, parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação. Por indicação do "CEGeT" - Centro de Estudos sobre Geografia do Trabalho, com base no Centro Humanidades da UEPB, Coordenado aqui pelo prof. Dr. Edvaldo Lima - Coordenador de Pesquisa do Dep. de Geografia.
Publicado em dezembro 19, 2012 por HC
Pesquisa da Unesp mostra relação entre a expansão de atividades do agronegócio e o crescimento da pobreza
 
Pesquisa demonstra a pobreza gerada com o avanço do agronegócio
Uma pesquisa de mestrado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) mostrou que existe uma relação entre a expansão de atividades do agronegócio e o crescimento da pobreza em áreas específicas do estado de São Paulo. Segundo o estudo, regiões reconhecidas pela força agroindustrial estão passando por um processo de concentração de renda, de terras e de pobreza.
A reportagem é de Aline Scarso e publicada pelo Brasil de Fato, 17-12-2012.
O levantamento sinaliza ainda que o agronegócio aproveita a vulnerabilidade das regiões para se instalar e criar raízes. Intitulado São Paulo Agrário: representações da disputa territorial entre camponeses e ruralistas de 1988 a 2009, o estudo é do pesquisador do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (Nera), Tiago Cubas. Ele trabalha com dados como o Índice de Pobreza Relativa, Índice de Gini e de Concentração de Riqueza para revelar uma situação de contradição.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

UM NOVO TEMPO: Governador Ricardo Coutinho Nomeia Rangel Jr. Primeiro Lugar na Lista Tríplice.



Fontes das iagens: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.grandeponto.com.br/
                                                                              http://paraibahoje.files.wordpress.com/2012/05/6.jpg

O registro dessa nota foi feito com muita alegria, pois o respeito a democracia e o alinhamento republicano do Excelentíssimo Governador Ricardo Coutinho – PSB – com a UEPB foi honrado, quando no ultimo dia 13 de dezembro, fez a nomeação e deu emposse como Magnífico Reitor da UEPB, ao Professor Doutor Antônio Rangel Jr. e seu Vice-Reitor, Professor Doutor Ethan Barbosa.
Esse ato era aguardado com muita ansiedade por todos os três seguimentos da UEPB (Estudantes, Professores e Técnicos Administrativos). Em especial devido a uma pequena parcela dos grupos de oposição que não queriam aceitar a derrota nas urnas e ficaram atentando o governo para nomear os nomes do segundo ou terceiro lugares, desrespeitando a democracia interna e ferindo o anseio da grande maioria dos que fazem a UEPB.
Nomeado e empossado o Magnífico Reitor Prof. Dr. Rangel Jr e seu Vice-Reitor, a comunidade universitária viu que o governo do estado continua demonstrando que é um governo sério e comprometido com as grandes transformações que o Estado da Paraíba precisa. Nestes termos, sabe que pode contar com a UEPB, como um dos mais importantes e estratégicos setores do Estado da Paraíba. Um exemplo dessa demonstração foi no ato de transmissão de cargos, realizada na noite do dia 13 de dezembro, com a inauguração do Museu de Arte Contemporânea - MAC - popularmente chamado de Museu dos três pandeiros, evento prestigiado por milhares de pessoas, tanto de Campina Grande, quanto do Estado da Paraíba.
O governador reconheceu com seu ato que o reitor nomeado é o mais preparado para cargo de tão elevada envergadura. Que nesse quadriênio 2013-2017, terá na condução da UEPB, um reitor com projeto aprovado em consulta, pelos três seguimentos da instituição, com potencial para ampliar ainda mais, as conquistas históricas realizadas pelo reitorado da Professora Marlene Alves e Prof. Aldo Maciel.
Uma universidade que coseguiu dar talvez os maiores saltos de desenvolvimento das universidades estaduais do Nordeste Brasileiro, diga-se de passagem, de um estado com sérios problemas para alavancar recursos para o seu desenvolvimento. Nesse contexto, vale destacar que a UEPB é um estratégico setor de investimentos do Estado e que ao final de cada ano, despeja no mercado de trabalho, milhares de profissionais com nível superior, que contribuem para o desenvolvimento local e regional em quase todas as esferas do conhecimento humano.
Assim, Parabéns aos servidores e estudantes da UEPB pela escolha, Parabéns ao governador pela sábia e racional decisão e, parabéns aos professores Rangel Jr. e Ethan Barbosa pela sua nomeação e posse.

Prof. Belarmino Mariano Neto
UEPB/CH/DG

Guarabira, 14 de dezembro de 2012,


CONVITE PARA ENTREVISTA COLETIVA E COLAÇÃO DE GRAU

Nesta Segunda-feira (17), o novo reitor da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), professor Rangel Júnior, concederá uma entrevista coletiva em Guarabira. Toda os profissionais da imprensa local estão convidados a participar do evento, que acontecerá na casa de recepções Meson D’Mel, às 17h15.
Na Sequência todos/as estão convidados para a Solenidade de Colação de Grau das Turmas concluintes do semestre letivo 2012.2, com o Magnífico Reitor Rangel Jr. O Diretor Prof. Belarmino Mariano, professores, técnicos administrativos, formandos e seus familiares. O evento ocorrerá no mesmo local da Entrevista Coletiva.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Mestrado Profissional em Letras Na UEPB em Guarabiraab


                        Foto: Prédio do CH - UEPB/Guarabira.

Mais um mestrado da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) acaba de ser aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), desta vez no Campus III, em Guarabira. O Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS), é o primeiro a ser aprovado no Centro de Humanidades (CH) e já inicia com nota 4 (quatro), considerada satisfatória para a avaliação da CAPES.
Por ser profissionalizante, o curso é direcionado aos professores que atuam na rede de Educação Básica, seja no Ensino Fundamental ou Médio, e principalmente no interior da Paraíba. De acordo com os organizadores, isto possibilitará o acesso à Pós-Graduação em nível de Mestrado aos professores de Língua Portuguesa formados em Letras, Pedagogia e outras áreas, que já estejam atuando.
Segundo Rosilda Alves, professora do CH e coordenadora do pólo da PROFLETRAS em Guarabira, “este fato representa a expansão e valorização da Pós-Graduação na UEPB, fora do Campus I, em Campina Grande, e configura como um resultado positivo do trabalho de Ensino, Pesquisa e Extensão desenvolvido pelo corpo docente do Curso de Letras em Guarabira”, destacou.
A previsão é que o edital do processo seletivo seja lançado ainda no primeiro semestre de 2013, com início das aulas previstas para o mês de agosto.
Mais sobre o PROFLETRAS
O Mestrado Profissionalizante em Letras é oferecido em rede Nacional, com polos nas regiões Norte, Nordeste, Sul, Sudeste, e Centro-Oeste do país, contando com a participação de 36 instituições de ensino superior.
Coordenado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o PROFLETRAS tem como objetivo principal a formação de professores no ensino de língua portuguesa, em todo o território nacional. Ao todo, serão ofertadas 1000 vagas anualmente, a serem distribuídas entre todas as instituições associadas.
Na Paraíba, serão distribuídos três pólos em cidades diversas. Além do pólo coordenado pela UEPB em Guarabira, haverá ainda o da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em Mamanguape, e o da Universidade Federal de Campina Grande, em Cajazeiras.
Aguardem maiores informações no site oficial da UEPB, quanto ao edital de inscrição e exigências mínimas para concorrer ao programa de mestrado e já se preparando, em especial na confecção de projeto e curriculum.

Fonte Original: http://www.uepb.edu.br/campus-de-guarabira-da-uepb-ganha-polo-de-mestrado-profissionalizante-em-letras/
Campus de Guarabira da UEPB ganha polo de Mestrado Profissionalizante em Letras
3 dez 2012 |

domingo, 2 de dezembro de 2012

Marxismo hoje: entrevista a Eric Hobsbawm


O blogue do italiano Beppe Grillo entrevistou Eric Hobsbawm no dia do seu 94º aniversário. Hobsbawm, que faz questão de dizer que é um historiador, não um futurologista – fala-nos sobre o que é hoje o marxismo e a crise na União Europeia.

Eric John Earnest Hobsbawm (Alexandria, 9 de Junho de 1917) é um historiador marxista reconhecido internacionalmente.
Eric John Earnest Hobsbawm (Alexandria, 9 de Junho de 1917) é um historiador marxista reconhecido internacionalmente.
O blogue de Beppe Grillo entrevistou Eric Hobsbawm, um dos maiores historiadores marxistas vivo. A entrevista aconteceu no dia do seu 94º aniversário, quando esteve em Roma para o lançamento da tradução italiana de seu livro How to Change the World - Why rediscover the inheritance of Marxism. Hobsbawm analisa a possibilidade de uma deriva rumo à direita nos próximos anos na Europa, por razões relacionadas com a depressão económica, a ânsia por segurança e a estagnação da União Europeia, arcada sob o peso da obrigação de ser cada vez maior e maior e pela falta de visão política comum. Além disso, os movimentos de resistência têm crescido mais em regiões onde há um maior número de jovens – por exemplo no norte da África e nos países em desenvolvimento, não na Europa. Mas, acima de tudo, Hobsbawm, que faz questão de dizer que é um historiador, não um futurologista – fala-nos sobre o que é hoje o marxismo e sobre os seus efeitos.
(1) Sobre o marxismo hoje
Eric Hobsbawm: Sou o Eric Hobsbawm. Sou um historiador muito velho. Como tal, telefona-me no dia do meu 94º aniversário. Durante toda a minha vida escrevi principalmente sobre a história dos movimentos sociais, a história geral da Europa e do mundo dos séculos XIX e XX. Acho que todos os meus livros estão traduzidos para italiano e alguns foram até bastante bem recebidos.
Blogue: A nossa primeira pergunta é sobre o seu livro. O marxismo é considerado um fenómeno pós-ideológico. Poderia explicar-nos porquê? E quais serão as consequências dessa mudança? 
Eric Hobsbawm: Eu não usei exactamente a expressão “fenómeno pós-ideológico” para marxismo, mas é verdade que, no momento, o marxismo deixou de ser o principal sistema de crenças associado aos grandes movimentos políticos de massa em toda a Europa. Apesar disso, acho que sobrevivem alguns pequenos movimentos marxistas. Nesse sentido, houve uma grande mudança no papel político que o marxismo desempenha na política da Europa. Há algumas partes do mundo, por exemplo, a América Latina, em que as coisas não se passaram do mesmo modo. A consequência daquela mudança, na minha opinião, é que agora todos podemos concentrar-nos mais e melhor nas mudanças permanentes que o marxismo provocou, nas conquistas permanentes do marxismo. 
Essas conquistas permanentes, na minha opinião, são as seguintes: Primeiro, Marx introduziu algo que foi considerado novidade e ainda não se realizou completamente, a saber, a crença de que o sistema económico que conhecemos não é permanente nem destinado a durar eternamente; que é apenas uma fase, uma etapa no desenvolvimento histórico que acontece de um determinado modo e deixará de existir e converter-se-á noutra coisa ao longo do tempo. 
Segundo, acho que Marx concentrou-se na análise do específico modus operandi, do modo como o sistema operou e se desenvolveu. Em particular, concentrou-se no curioso e descontinuo modo através do qual o sistema cresceu e desenvolveu contradições, que por sua vez produziram grandes crises.
A principal vantagem da análise que o marxismo permite fazer é que considera o capitalismo como um sistema que origina periodicamente contradições internas que geram crises de diferentes tipos que, por sua vez, têm de ser superadas mediante uma transformação básica ou alguma modificação menor do sistema. Trata-se desta descontinuidade, desta assunpção de que o capitalismo opera não como sistema que tende a se auto-estabilizar, mas que é sempre instável e eventualmente, portanto, requere grandes mudanças. Esse é o principal elemento que ainda sobrevive do marxismo. 
Terceiro, e acho que aí está a preciosidade do que se poderá chamar de fenómeno ideológico, o marxismo é baseado, para muitos marxistas, num senso profundo de injustiça social, de indignação contra a desigualdade social entre os pobres e os ricos e poderosos. 
Quarto, e último, acho que talvez se deva considerar um elemento – que Marx talvez não reconhecesse – mas que esteve sempre presente no marxismo: um elemento de utopia. A crença de que, de um modo ou de outro, a sociedade chegará a uma sociedade melhor, mais humana, do que a sociedade na qual todos vivemos actualmente. 
(2) Uma deriva à direita na Europa?
Blogue: No norte da África e em alguns países europeus – Espanha, Grécia e Irlanda – alguns movimentos de jovens que nasceram na internet e usam redes, por exemplo Twitter e Facebook, estão a aproximar-se da política. São movimentos que exigem mais envolvimento e mudanças radicais nas escolhas das sociedades. Mas, ao mesmo tempo, a Espanha tende à direita; a Dinamarca votou pelo encerramento das fronteiras cm a Hungria; e na Finlândia, e até mesmo na França, com Marie Le Pen, estão surgindo partidos nacionalistas de extrema-direita. Não é isto uma contradição?
Eric Hobsbawm: Não, não acho. Acho que são fenómenos diferentes. Acho que, na maioria dos países ocidentais, hoje, os jovens são uma minoria politicamente activa, largamente por efeito de como a educação é construída. Por exemplo: os estudantes sempre foram, ao longo dos séculos, elementos activistas. Ao mesmo tempo, a juventude educada hoje é muito mais familiarizada com modernas tecnologias de informação, que transformaram a agitação política transnacional e a mobilização política transnacional.
Mas há uma diferença entre (a) esses movimentos de jovens educados nos países do ocidente, onde, em geral, toda a juventude é fenómeno de minoria, e (b) movimentos similares de jovens em países islâmicos e em outros lugares, nos quais a maioria da população tem entre 25 e 30 anos. Nesses países, portanto, muito mais do que na Europa, os movimentos de jovens são politicamente muito mais massivos e podem ter maior impacto político. O impacto adicional na radicalização dos movimentos de juventude acontece porque os jovens hoje, em período de crise económica, são desproporcionalmente afectados pelo desemprego e, portanto, estão desproporcionalmente insatisfeitos. Mas não se pode adivinhar que rumos tomarão esses movimentos. No todo, os movimentos dessa juventude educada não são, politicamente falando, movimentos da direita. Mas eles só, eles pelos seus próprios meios, não são capazes de definir o formato da política nacional e todo o futuro. Creio que, nos próximos dois meses, assistiremos aos desdobramentos desse processo.
Os jovens iniciaram grandes revoluções, mas não serão eles que necessariamente decidirão a direcção geral pela qual andarão aquelas revoluções. Cada direcção, claro, depende do país e da região. Obviamente as revoluções serão muito diferentes nos países islâmicos, do que são na Europa ou, claro, nos EUA.
E é verdade que na Europa e provavelmente nos EUA pode haver uma deriva para a direita, na política. Mas isso, parece-me, será assunto da terceira pergunta.
(3) A crise económica
Blogue: Sim, a próxima pergunta é sobre a crise económica em que vivemos desde 2008. As crises de 29, 33, levaram o fascismo ao poder. Prevê algum risco de a crise actual ter os efeitos que tiveram as crises de 28, 29, 33?
Eric Hobsbawm: Bem, não há dúvidas de que a crise, a crise económica que se arrasta desde 2008, tem muito a ver com a deriva à direita na Europa. Acho que, hoje, só quatro economias na Europa, na União Europeia, estão sob governos de centro ou de esquerda. Algumas daquelas devem perder. A Espanha provavelmente também se moverá em direcção à direita. Nesse sentido, parece verdade. Não acho que haja aí qualquer risco de ascensão do fascismo, como nos anos 1930s. O perigo do fascismo nos anos 1930s foi, em grande medida, resultado da conversão de um país em particular, um país decisivo politicamente, nomeadamente a Alemanha sob a alçada de Hitler.
Não há sinal de que nada disso esteja a acontecer hoje. Nenhum dos países importantes, segundo me parece, dá qualquer sinal nessa direcção. Nem nos EUA, onde há um forte movimento direitista, pode-se concluir que aquele movimento ganhe poder nas urnas. Nem, tampouco, no caso dos partidos e movimentos de extrema-direita nos países europeus. Apesar de serem fortes, têm-se mantido como fortes minorias sem grandes hipóteses de se tornarem maiorias. Mas, sim, creio que, no futuro próximo, praticamente todos ou quase todos os países europeus serão governados por governos de direita, de um tipo ou de outro. Recorde-se que um dos efeitos logo termo da crise económica dos anos 1930s foi que praticamente toda a Europa tornou-se democrata e de esquerda, como jamais antes acontecera. Mas isso levou algum tempo. Portanto, há um risco, mas não é o mesmo risco que havia nos anos 1930s. O risco é antes o de não se agir o suficiente para lidar com os problemas básicos, enaltecidos pelo capitalismo dos últimos 40 e enfatizados pelo renascimento dos estudos marxistas.
Blogue: O que pensa sobre a União Europeia e sobre o que já foi conseguido? A União Europeia conseguirá consolidar-se ou voltará a ser uma simples reunião de estados?
Eric Hobsbawm: Acho que a esperança de que a União Europeia venha a ser algo mais que uma aliança de estados e área de livre comércio, essa, não tem grande futuro. Não irá muito além do que já foi até aqui, mas não acho que seja destruída.
Acho que o que já se fez, um grau de livre comércio, um grau muito mais importante de jurisprudência comum e lei comum permanecerão. A principal fraqueza da União Europeia, parece-me, razão do fracasso, foi o conflito entre a economia e a base social da União Europeia. Um conflito que resultou da tentativa para eliminar a guerra entre a França e a Alemanha e unificar economicamente as partes mais ricas e desenvolvidas da Europa. Esse objectivo foi alcançado. Tal foi misturado de seguida com um objectivo político associado á Guerra Fria e ao desenvolvimento após o fim deste período, nomeadamente o objectivo de extensão das fronteiras a todo o continente e mais além. Este processo dividiu a Europa em partes que já não são facilmente coordenáveis.
Economicamente, as grandes crises são ambas muito parecidas no que diz respeito às aquisições para a União Europeia desde os anos 1970s, na Grécia, em Portugal e na Irlanda, por exemplo. Mesmo politicamente, as diferenças entre os antigos estados comunistas e os antigos estados não comunistas da Europa enfraqueceram a capacidade de a Europa continuar a desenvolver-se. Se a Europa continuará a conseguir manter-se como está, eu não o sei. Não creio, contudo, que a União Europeia deixe de existir e acho que continuaremos a viver numa Europa mais coordenada do que a que conhecemos, digamos, desde a II Guerra Mundial. 
De qualquer modo, devo dizer que está fazer-me perguntas enquanto historiador mas sobre o futuro. Infelizmente, os historiadores sabem tanto sobre o futuro quanto qualquer outra pessoa. Por isso, as minhas previsões não são fundadas em nenhuma especial vocação que eu tenha para prever o futuro.


Entrevista por Beppe Grillo, publicada no seu blogue. Tradução pelo Colectivo Vila Vudu/Rede Castorphoto.
 Fonte: http://www.esquerda.net/artigo/marxismo-hoje-entrevista-eric-hobsbawm

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